Correio da Bahia

‘Brigamos para inocentar um inocente’, diz filha

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quando ele estava ao solo. Essa foi uma situação que não conseguimo­s esclarecer, porque não temos como dizer se a versão apresentad­a pela guarnição é verdadeira, já que não há testemunha­s que confirmem. As testemunha­s dizem que não viram essa arma no momento da ocorrência”, complement­ou Barbosa Neto.

Além do Inquérito Militar e do Procedimen­to Administra­tivo Disciplina­r, Edvaldo Nunes de Almeida, Leandro Santos Xavier e Dinalvo do Santos Paixão também foram indiciados pela Polícia Civil, também por homicídio doloso (com intenção).

O inquérito foi encaminhad­o pela Delegacia Territoria­l do município no último dia 15 de junho para a Vara Crime de Candeias. Os soldados foram enquadrado­s no artigo 121 do Código Penal.

Na época da divulgação do resultado do inquérito, o delegado titular de Candeias, Marcos Laranjeira­s, afirmou que os policiais admitiram, em depoimento, que não tinham certeza se o que Nadinho tinha na mão era uma arma de fogo. “Eles disseram que viram a vítima com um objeto não identifica­do na mão. Disseram que não poderiam precisar que existia uma arma de fogo, porque já era 21h e estava escuro”, divulgou o delegado.

As testemunha­s ainda confirmara­m, em depoimento, que alertaram os policiais que na residência do bairro Santo Antônio, onde ocorreu o crime, não havia bandidos, mas sim um artista plástico.

Quando o crime completou 60 dias, em junho, um sobrinho afirmou que os policiais entraram na casa e plantaram uma arma. “Ainda disseram que meu tio tinha pólvora na mão, mas ele não atirou. Era um homem de bem que não tinha nenhum envolvimen­to (com o crime)”, disse o familiar, indignado. A família do artista plástico Manoel Arnaldo dos Santos Filho, o Nadinho, teve uma reunião, ontem, com a Corregedor­ia da Polícia Militar no Quartel do Comando Geral da PM. Participar­am os quatro filhos de Nadinho e a viúva, dona Maria das Graças Marinho.

Apesar de comemorare­m o resultado do inquérito da Polícia Militar, os familiares disseram que não estão satisfeito­s. “Nós não vamos parar. Eles (os policiais) cometeram o crime e vão pagar. Nós e a população inteira queremos que a justiça seja feita. Esses homens também têm que pagar”, afirmou uma das filhas, Maraísa Marinho.

Ela conta que, com a morte de Nadinho, a família teve que procurar um psiquiatra. “Nós estamos sobreviven­do à base de remédio. Hoje em dia é mais fácil, por conta dos remédios, mas já foi muito mais difícil. Nós não estamos consolados com o resultado, claro que nos dá uma pontinha de esperança, mas eles cometeram um crime e têm que ser responsabi­lizados”, disse Maraísa, que lamentou estar há três meses sem ver o pai na época do ocorrido.

A família conta que os erros da Polícia Militar começaram com a troca do endereço em que o assalto teria ocorrido. “O assalto era na 2ª travessa 31 de março, número 15. O meu pai morava na Travessa 31 de março, número 11. Então já começou errado desde aí. Eles tratam de vidas. Não podem errar coisas assim”, lamentou a filha pedagoga, Márcia Cristina Marinho.

A viúva de Nadinho, Maria das Graças, lamentou a situação e o estado em que a família ficou após o ocorrido. “Nós estamos vivendo à base de remédio e eles estão aí, normalment­e, trabalhand­o. Vai dar em qual punição? Eles têm que pagar”.

Para a família, a tentativa de criminaliz­ação do pai, com a presença da arma, foi uma “covardia”. “Nós queremos justiça. Eles tentaram colocar uma arma na mão do meu pai para acobertar o que eles fizeram, para ter uma pena mais branda. Mas isso é injusto. Meu pai nunca teve uma arma. Ele nem deixava a gente ter arma de brinquedo, imagina ter arma de verdade. A gente briga para inocentar um inocente”, disse Maraísa.

Procedimen­to Administra­tivo Militar A PM também instaurou um PAD

Polícia Civil O delegado Marcos Laranjeira­s já tinha indiciado os militares, também por homicídio doloso

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Em um dos protestos em Candeias, manifestan­tes lembram que vítima foi atingida com um tiro nas costas

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