Especialista explica possíveis rumos da investigação
velocidade da garagem dos fundos da unidade e por pouco não atropela o repórter da TV Record Itapoan, Henrique Terra, que chegou a cair no chão para desviar do carro.
“Não foi essa a orientação que o delegado deu - para sair dessa forma. Ele (Ademir) queria só preservar a imagem”, disse o advogado do motorista, César Ruseval Teixeira Rocha, explicando a orientação dada pelo delegado para seu cliente sair pelos fundos.
Perguntado se um parente de Ademir dirigia o carro, o advogado disse que não. “Era um motorista do aplicativo Uber”, respondeu ele, sem se dar conta que o modelo Elba saiu de linha há 22 anos e uma das exigências para ser motorista de aplicativo é ter veículo com, no máximo, cinco anos de fabricação.
Questionado sobre o fato de Ademir ter sido autuado por dirigir com a CNH vencida, o advogado informou que ele estava em processo de renovação da habilitação.
O ciclista foi atingido próximo a uma placa de trânsito onde consta que a velocidade no local é 40 km/h. Interpelado sobre isso, o advogado respondeu: “Não procede. O acidente foi depois da placa e ele não estava em alta velocidade”, afirmou.
O advogado não soube informar a velocidade do carro conduzido por Ademir. A defesa tentará provar que o acidente não foi causado pelo motorista. “Houve concorrência do ciclista para produzir o evento colisão. O ciclista atravessou em local não apropriado. Ali não tem uma ciclovia”, finalizou César.
O corpo de João Evangelista, que também era pedreiro, permanecia ontem no Instituto Médico-Legal Nina Rodrigues. Não havia informações sobre o enterro.
João Evangelista deixou sete filhas com mulheres diferentes. Uma das mães de seus filhos, Joana Nascimento Oliveira, 66, estava no IML, junto com as três filhas que teve com João Evangelista – uma de 44 anos, outra de 46 e a última de 37.
“Soubemos da morte através dos noticiários. Estava em casa, em Sete de Abril, quando tive a notícia. Não estávamos juntos há mais de 10 anos. Tentei liberar o corpo, mas o pessoal do IML disse que só quem pode é a atual mulher dele”, declarou Joana.
João não fazia mais nada a pé ou de ônibus, preferia estar ao lado da sua bicicleta. Ele, que usava capacete e estava com a bicicleta toda sinalizada, morreu atropelado na manhã de terça-feira (24), por volta das 7h, nas imediações do viaduto de acesso à Avenida Paralela. Ele voltava de São João do Cabrito, no Subúrbio Ferroviário, com sua caixa de ferramentas para começar um novo serviço.
A Transalvador registrou, de 2013 até maio deste ano, 654 acidentes envolvendo ciclistas na cidade, sendo que 16 deles morreram.
No próximo sábado (28), um grupo de ciclistas vai realizar um protesto para pedir mais segurança no trânsito para os ciclistas. Eles irão instalar uma bicicleta branca no local do acidente. O ato é chamado de Ghost Bikes e é feito mundialmente em locais de acidentes fatais com ciclistas. Para o advogado criminalista e professor da Faculdade de Direito da Ufba, Cesar Faria, Ademir pode ser indiciado por homicídio doloso (com intenção de matar) após o decorrer das investigações. A pena neste caso pode chegar até 20 anos de reclusão. “É preciso verificar se ele estava com excesso de velocidade e, além disso, averiguar se o motorista foi responsável criminalmente”, explica.
A pena de homicídio culposo (sem intenção de matar) no Código de Trânsito Brasileiro é de 2 a 6 anos, além da suspensão da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). No caso de Ademir, a pena pode aumentar mais 2 anos porque ele não prestou socorro à vítima. “Outro agravante é o fato dele não possuir permissão para dirigir, já que a CNH estava vencida”, detalha César.
Ainda conforme o professor, dirigir com a CNH vencida é uma infração administrativa gravíssima. A multa custa R$ 293, 47. “Ele vai ser multado, mas isso não tem nenhuma relação com o inquérito criminal. A infração não presume culpa penal”, diz. O CORREIO procurou o Detran-BA para apurar possíveis infrações cometidas anteriormente por Ademir, mas o órgão não respondeu até o fechamento da reportagem.