Venezuela amarga crise desde 2012
A paróquia já organizou uma feira de negócios para que os venezuelanos apresentassem seus currículos a empresários soteropolitanos. Depois, a Universidade Católica do Salvador (Ucsal) deu bolsas para três venezuelanos – um deles é Ricardo, cuja história pode ser conhecida ao lado.
As Obras Sociais Irmã Dulce (Osid) têm acolhido os que precisam de tratamento médico. Uma campanha, coordenada pela professora Cristina, da Ufba, está arrecadando, até o dia 16, donativos para aqueles venezuelanos que ainda estão em Roraima. As doações podem ser entregues no Instituto de Matemática da Ufba, na paróquia do CAB, na Unifacs, nos dois campi da Ucsal (Federação e Pituaçu) e na Cáritas, em Brotas.
O porta-voz do Acnur no Brasil, Luiz Fernando Godinho, explicou que, ao chegar na fronteira, aqueles que desejam permanecer no Brasil devem solicitar refúgio ou residência temporária. Logo na fronteira, eles já podem ter o CPF brasileiro emitido e, assim, solicitar a carteira de trabalho com mais rapidez. Oficialmente, por enquanto, os venezuelanos ainda não têm status de refugiados.
Até o momento, 1.098 venezuelanos foram transferidos para São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul e Paraná. No Nordeste, 69 pessoas foram para João Pessoa (PB), 44 para Conde (PB) e 69 para Igarassu (69). O Consulado Geral da Venezuela em Recife (PE) informou ao CORREIO que não tinha dados sobre os venezuelanos no país. Os refugiados podem ter se tornado o assunto mais comum no noticiário nacional agora, mas a crise na Venezuela começou bem antes. A situação começou a se manifestar fortemente em 2014, mas já dava sinais desde 2012, de acordo com o professor do curso de Relações Internacionais da Unifacs Felippe Ramos.
Só para dar uma ideia, a economia da Venezuela pouco produz além do petróleo. Praticamente tudo que se consome no país é importado. “A partir de 2014, há a queda do preço do petróleo nos mercados internacionais e agrava fortemente a situação. Nesse momento, o governo passa a gastar mais do que arrecada”, explica ele. Naquele momento, surgiram algumas medidas econômicas de abertura e atração de investimento estrangeiro, mas o presidente Nicolás Maduro, que sucedeu Hugo Chávez, preferiu financiar o déficit fiscal com emissão monetária.
“Ou seja, na falta de dinheiro, a gente imprime dinheiro. Com isso, o dólar paralelo dispara. O governo mantém uma taxa fixa de câmbio, mas o dólar paralelo se descola muito do fixo e a economia começa a ter uma diferença muito grande entre produtos subsidiados pelo governo e produtos importados sem subsídio”. Assim, a inflação aumenta, os preços dos produtos disparam e o governo perde o controle do déficit fiscal.
O governo passou a ter menos dólares para importar e teve início uma grave escassez. Faltava de tudo: papel higiênico, açúcar, frango, remédios, absorventes, preservativos. Nesse contexto, houve aumento de casos de gravidez precoce e surtos de epidemias de doenças que eram controladas, como o sarampo. Nessa época, o salário mínimo caiu a preço real de um dólar – o mais baixo do mundo. “O governo perdeu a capacidade de investir na própria indústria básica que lhe sustenta: a petroleira. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a inflação deve fechar o ano em 1.000.000 %”, afirma o professor.
E foi assim que a vida na Venezuela se tornou inviável para os cidadãos – principalmente de classe média baixa e baixa. Em 2016 e 2017, essas pessoas seguiam, principalmente, para Colômbia, Espanha e Estados Unidos. Desde 2012, cerca de 2,3 milhões de pessoas deixaram a Venezuela.
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