‘Estamos vivendo uma crise de civilização’
“Estamos perdidos”. É com essa e outras frases de impacto que o filósofo francês Gilles Lipovetsky, 73 anos, chega a Salvador para participar do Fronteiras Braskem do Pensamento 2018. “A consequência da crise das instituições públicas é uma espécie de democracia esvaziada de cidadania, doente, empobrecida”, defende o convidado do evento que acontece dia 17, às 20h30, no Teatro Castro Alves, com ingressos esgotados.
A partir do tema O Mundo em Desacordo – Democracia e Guerras Culturais, Gilles promete fazer um debate com o historiador gaúcho Leandro Karnal sobre “a nova cara que a democracia assumiu desde a globalização”. Em entrevista ao CORREIO, Lipovetsky deu uma prévia do encontro e conversou sobre temas como crise política, individualismo e educação: “A vida não é somente o consumismo, a vida é criação, pensamento, cultura, arte, e a escola deve preparar o homem para isso”. Confira.
Essa é sua primeira vez na Bahia, certo?
Vim ao Brasil várias vezes, mas não à Bahia. Sou até doutor honoris causa em uma universidade de Porto Alegre! Estou muito encantado em visitar o Nordeste, em descobrir Salvador, que acredito ser muito bonita, ir ao Centro Histórico, patrimônio da humanidade, e conhecer os baianos.
O que irá abordar no encontro com o historiador e escritor Leandro Karnal? Vamos tratar da nova cara que a democracia assumiu desde a globalização. No que me diz respeito, gostaria de falar sobre o impacto da cultura individualista sobre a democracia, sobre como o individualismo hipermoderno transformou a relação dos homens na vida política. Estamos numa democracia que chamo de hipermoderna, que se caracteriza por uma série de fatores, mas, sobretudo, por uma crise. Vivemos numa época de crise da representação política. Os cidadãos estão decepcionados, não acreditam mais nos líderes políticos, estão desconfiados dos partidos, e é esta nova situação que será objeto de nosso debate. Vamos falar da falta de participação das pessoas nas eleições, sobre aqueles que desistiram de votar, sobre a corrupção, em particular no Brasil, mas também em outros países, e sobre o aumento do populismo na América do Norte, com Trump, e na Europa.
A que se deve a crise das instituições públicas e quais são as consequências?
A consequência dessa crise é justamente a existência de cidadãos decepcionados com a vida política. Há uma crise de confiança, em particular no Brasil, onde as pessoas não acreditam mais nos partidos de direita, nem nos de esquerda. No Brasil, o ex-presidente está preso, Dilma sofreu impeachment, o atual presidente é amplamente rejeitado pela opinião pública, além dos grandes escândalos que marcam o país permanentemente.