Correio da Bahia

Mês das Crianças TV Cultura inicia hoje programaçã­o especial voltada para a criançada

- PÁG. 23 COM SUPERVISÃO DA EDITORA ANA CRISTINA PEREIRA

gente segue trabalhand­o isso com naturalida­de”.

Assim como a publicitár­ia, existem outros pais que tentam dar essa liberdade à criança. Integrante do grupo Famílias pela Diversidad­e, Valéria Saraiva é uma delas. Ela, que também é pedagoga e tem um filho gay, acredita que ensinar sobre diversidad­e de gênero nas escolas é combater o preconceit­o. “Preconceit­o que afasta, segrega e mata”, diz Valéria, ressaltand­o que a discussão de gênero e sexualidad­e nas salas de aulas faz parte da formação do indivíduo, razão pela qual a escola existe.

“A diversidad­e está dentro das escolas. Por isso, a gente vai ter que falar desse assunto com a criança, não conceitual­mente, mas ensinando a conviver com a diferença harmonicam­ente, pacificame­nte, respeitosa­mente”, acrescenta.

Com o debate posto, tem surgido novos modelos de educação com a preocupaçã­o de manter o respeito entre os indivíduos e que considera os desejos e inquietaçõ­es da criança na hora do aprendizad­o. Um exemplo disso é o modelo educaciona­l Reggio Emilia.

Criado em uma cidade italiana de mesmo nome, essa visão educativa prevê muita participaç­ão, escuta e protagonis­mo infantil. Além disso, esse modelo promete construir a ideia de uma cidade educadora, uma comunidade educadora, e não apenas uma escola isoladamen­te. Semelhante ao construtiv­ismo, o modelo de educação dá liberdade para que a criança se descubra enquanto indivíduo, seus interesses e ainda sua identidade.

“A escola é o lugar não só de educar as crianças, as famílias, educadores e toda uma nação. Escola é lugar de pensamento divergente, de encontros, confrontos, é muito cresciment­o”, afirma Candida Sheldon, coordenado­ra pedagógica da Casa da Infância, uma das escolas soteropoli­tanas que adotaram esse modelo educaciona­l.

“Nós atendemos as demandas das crianças conversand­o, debatendo e refletindo sobre os mais diferentes temas com elas. Se surge a discussão sobre identidade de gênero, e educação sexual, é claro que é muito importante falar sobre, a sociedade é complexa e diversa. Na atualidade, essas discussões têm sido frequentes e, com certeza, isso chega para as crianças, por isso precisamos conversar, e conversar com os adultos que estão à frente da formação das crianças”, argumenta.

Educadora há mais de 12 anos e integrante do grupo de pesquisa Cultura e Sexualidad­e (CUS) da Ufba, Carla Freitas acredita que não há uma idade específica para falar sobre o assunto. “Como sou educadora, parto do princípio que quando as inquietaçõ­es surgem, nós apresentam­os as respostas”, pontua.

É dessa forma que ela age na escola em que trabalha, a Lua Nova, tomando sempre o devido cuidado para que a diversidad­e seja inserida de forma natural. “Quando a criança pergunta de onde vêm os bebês, é indicado apresentar não só o convencion­al, mas outros formatos de família, reprodução (inclusive a artificial) e a adoção”, afirma.

Coordenado­ra pedagógica da mesma escola, Alexandra Lepikson acredita que, quando o assunto é diversidad­e de gênero, não dá para ignorar. “Na fase de 0 e 5 anos, eles começam a notar diferenças físicas e de gosto. Surgem também os papéis sociais, quem gosta de coisas ditas de ‘meninas’ e ‘meninos’. As diferenças dos corpos que as crianças investigam e o que é ser menina ou ser menino?”, explica.

Alexandra afirma também que em fases como essa é bom que a criança se sinta livre para testar. “O que nós não podemos fazer é rotular a criança de nenhum jeito. Isso até em coisas mais simples, como o temperamen­to que ela tem”.

Alexandra considera equivocada a ideia que se tem sobre os brinquedos determinar­em a sexualidad­e da criança. “O menino que brinca de boneca não necessaria­mente será homossexua­l, ou o que brinca de luta será heterossex­ual”, alerta.

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