Mês das Crianças TV Cultura inicia hoje programação especial voltada para a criançada
gente segue trabalhando isso com naturalidade”.
Assim como a publicitária, existem outros pais que tentam dar essa liberdade à criança. Integrante do grupo Famílias pela Diversidade, Valéria Saraiva é uma delas. Ela, que também é pedagoga e tem um filho gay, acredita que ensinar sobre diversidade de gênero nas escolas é combater o preconceito. “Preconceito que afasta, segrega e mata”, diz Valéria, ressaltando que a discussão de gênero e sexualidade nas salas de aulas faz parte da formação do indivíduo, razão pela qual a escola existe.
“A diversidade está dentro das escolas. Por isso, a gente vai ter que falar desse assunto com a criança, não conceitualmente, mas ensinando a conviver com a diferença harmonicamente, pacificamente, respeitosamente”, acrescenta.
Com o debate posto, tem surgido novos modelos de educação com a preocupação de manter o respeito entre os indivíduos e que considera os desejos e inquietações da criança na hora do aprendizado. Um exemplo disso é o modelo educacional Reggio Emilia.
Criado em uma cidade italiana de mesmo nome, essa visão educativa prevê muita participação, escuta e protagonismo infantil. Além disso, esse modelo promete construir a ideia de uma cidade educadora, uma comunidade educadora, e não apenas uma escola isoladamente. Semelhante ao construtivismo, o modelo de educação dá liberdade para que a criança se descubra enquanto indivíduo, seus interesses e ainda sua identidade.
“A escola é o lugar não só de educar as crianças, as famílias, educadores e toda uma nação. Escola é lugar de pensamento divergente, de encontros, confrontos, é muito crescimento”, afirma Candida Sheldon, coordenadora pedagógica da Casa da Infância, uma das escolas soteropolitanas que adotaram esse modelo educacional.
“Nós atendemos as demandas das crianças conversando, debatendo e refletindo sobre os mais diferentes temas com elas. Se surge a discussão sobre identidade de gênero, e educação sexual, é claro que é muito importante falar sobre, a sociedade é complexa e diversa. Na atualidade, essas discussões têm sido frequentes e, com certeza, isso chega para as crianças, por isso precisamos conversar, e conversar com os adultos que estão à frente da formação das crianças”, argumenta.
Educadora há mais de 12 anos e integrante do grupo de pesquisa Cultura e Sexualidade (CUS) da Ufba, Carla Freitas acredita que não há uma idade específica para falar sobre o assunto. “Como sou educadora, parto do princípio que quando as inquietações surgem, nós apresentamos as respostas”, pontua.
É dessa forma que ela age na escola em que trabalha, a Lua Nova, tomando sempre o devido cuidado para que a diversidade seja inserida de forma natural. “Quando a criança pergunta de onde vêm os bebês, é indicado apresentar não só o convencional, mas outros formatos de família, reprodução (inclusive a artificial) e a adoção”, afirma.
Coordenadora pedagógica da mesma escola, Alexandra Lepikson acredita que, quando o assunto é diversidade de gênero, não dá para ignorar. “Na fase de 0 e 5 anos, eles começam a notar diferenças físicas e de gosto. Surgem também os papéis sociais, quem gosta de coisas ditas de ‘meninas’ e ‘meninos’. As diferenças dos corpos que as crianças investigam e o que é ser menina ou ser menino?”, explica.
Alexandra afirma também que em fases como essa é bom que a criança se sinta livre para testar. “O que nós não podemos fazer é rotular a criança de nenhum jeito. Isso até em coisas mais simples, como o temperamento que ela tem”.
Alexandra considera equivocada a ideia que se tem sobre os brinquedos determinarem a sexualidade da criança. “O menino que brinca de boneca não necessariamente será homossexual, ou o que brinca de luta será heterossexual”, alerta.