Propinas eram entregues em caixa de sabão
O esquema investigado pela Operação Capitu fez entregas de dinheiro “em caixas de sabão e malas”. Segundo a força-tarefa da Polícia Federal, Receita e Procuradoria, uma das maiores redes de supermercados do país também teria integrado a engrenagem de lavagem de dinheiro oriundo do esquema, repassando aos destinatários finais os valores ilícitos em dinheiro vivo e em contribuições “oficiais” de campanha.
O total de doações “oficiais” feitas por empresas vinculadas e administradas por um empresário do ramo de supermercados nas eleições de 2014 totalizou quase R$ 8,5 milhões.
“(Entrega de dinheiro) em caixas, em mala, caixa de sabão. Os supermercadistas trabalham com muito dinheiro em espécie, isso facilita por demais esse tipo de operação, porque eles recebem naquele varejo que eles vendem e com isso, em tese, perder o rastro desse dinheiro se não fossem boas investigações”, afirmou um dos integrantes da operação.
“Era tipo uma propina a cabo. No supermercado, eles quitavam a dívida com o supermercado, o dinheiro não saía do supermercado, depois passava para o destinatário final. Dólar cabo como funciona? Doleiro no exterior liga para o doleiro aqui no Brasil e fala: disponibiliza tal valor para meu cliente. O doleiro aqui fica devendo para o doleiro lá de fora e depois repassa esse dinheiro”.
Entre os 19 presos na operação está o deputado federal eleito Neri Geller (PP/MT), sob suspeita de ter recebido propinas do grupo J&F/JBS. Geller foi localizado em um hotel no município de Rondonópolis (MT), a cerca de 220 quilômetros da capital Cuiabá.
O advogado Mateus de Moura Lima Gomes, preso na Operação Capitu, tentou se desfazer de R$ 3 mil em dinheiro que tinha em casa jogando as notas no vaso sanitário. Segundo a Polícia Federal, o dinheiro foi descartado quando agentes entraram na casa do advogado, em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A Polícia Federal concluiu que o ex-ministro Geddel Vieira Lima e seu irmão, o deputado Lúcio Vieira Lima (MDB-BA), cometeram o crime de peculato ao pagarem empregados domésticos com verbas da Câmara dos Deputados. O delegado Bruno Benassuly Maues Pereira, que assina o relatório final da autoridade policial, encaminhou o documento ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), relator do inquérito.
Resta ainda uma última diligência que será realizada pela Secretaria de Perícia, Pesquisa e Análise da Procuradoria-Geral da República. Depois, caberá à procuradora-geral da República, Raquel Dodge, decidir se oferecerá uma denúncia contra os políticos.
O relatório da PF narra que nas mais de 30 inquirições realizadas confirmou-se que Lúcio Vieira Lima e família “se utilizavam de indicações de secretários/assessores parlamentares para contratar pessoas para exercer funções de cunho pessoal, sem qualquer ligação com a atividade parlamentar, incluindo piloto, motoristas que dirigiam para esposas e filhos dos parlamentares e empregados domésticos”.
O delegado responsável pelo caso concordou integralmente com o convenci- mento expressado pela procuradora-geral da República, em parecer enviado ao ministro Alexandre de Moraes, em 10 de setembro. Na peça, Raquel Dodge informa que as oitivas de secretários parlamentares à disposição de Lúcio Vieira Lima levam à constatação de que “em boa parte são pessoas sem a menor qualificação para o exercício da função pública”.
As investigações apontam que Job Ribeiro Brandão trabalhou por 30 anos como empregado doméstico da família Vieira Lima. Porém, seus salários, ao longo de 28 anos, foram bancados pela Câmara dos Deputados, pois ele, apesar de nunca ter exercido de fato função pública, segundo o relatório, foi nomeado e mantido secretário parlamentar, em momentos sucessivos, por Lúcio Vieira Lima, Geddel Vieira Lima e pelo pai dos políticos, Afrísio Vieira Lima.