Ministério da Saúde suspeita de ataque a site
nos 80 se interessaram em participar do programa. A maioria, porém, ficou surpresa quando descobriu que o edital seria lançado agora.
O problema é que as vagas são preenchidas por ordem de inscrição – ou seja, os médicos já esperam que algumas cidades sejam mais concorridas. Quem chegar primeiro leva. Para Rhanna, o Mais Médicos tem vantagens que vão desde o salário – que é de pouco mais de R$ 11 mil – até a estratégia de saúde da família. Na assistência básica, ao contrário dos atendimentos de urgência e emergência, não são necessários muitos equipamentos tecnológicos.
“É um trabalho mais acessível e também é mais seguro. Você tem direitos trabalhistas, recebe certinho, tem direito a 13º salário. Porque quando a gente forma e vai dar plantão, a gente abre mão desses direitos”, explica.
No entanto, ela está participando de processos de seleção para residência. Se for aprovada e tiver sido escolhida também pelo Mais Médicos, acredita que deve deixar o programa a partir de março. Entre os colegas, ela diz que a turma está dividida.
Tanto o programa quanto a residência exigem dedicação em tempo integral. Por isso, ela acredita em evasão. Para ela, mesmo a demanda dos médicos recém-formados não será suficiente e cidades menores e mais distantes podem ficar desassistidas.
Alguns recém-formados, como a médica Luana Saback, 35, porém, pretendem passar os primeiros anos na assistência básica. Formada pela FTC, ela colou grau no dia 14. No entanto, só receberia o CRM amanhã. A pedido dos estudantes, porém, o Cremeb conseguiu antecipar o atendimento para ontem.
Como já é psicóloga, pretende deixar a residência para o futuro. Sempre teve o desejo de atuar na atenção básica, mas não sabia como seria esse processo de contratação.
“Como sugiram as vagas do Mais Médicos, estamos vendo como uma oportunidade de ingressar na área com mais segurança, porque, de uma forma geral, os vínculos empregatícios costumam ser precários”, afirma.
Na Bahiana, os estudantes começaram a colar grau anteontem, quando a data prevista inicialmente era amanhã. A recém-formada Dandara Moreira, 25, conseguiu receber o certificado de con- clusão ontem. Por enquanto, a residência não está em seus planos. Ela decidiu tentar as provas no próximo ano.
Embora deseje se especializar em neurocirurgia, ela explica que também gosta da área de medicina de família. “Sou apaixonada pela neurocirurgia, mas é na atenção básica que você consegue fazer com que o paciente mude de vida. É a melhor forma de prevenção”, diz.
De acordo com a coordenadora do curso de Medicina da Bahiana, Ana Verônica Mascarenhas, a antecipação da colação de grau atendeu a uma demanda dos alunos. Se fosse mantida para amanhã, não haveria tempo para a inscrição no Cremeb.
Ela estima que pelo menos 40 alunos devem fazer o cadastro com interesse em se inscrever no programa: “Para nós, da escola, é importante que a população seja assistida, considerando a necessidade da atenção primária”.
Na Unifacs, a coordenadora de Medicina, Maria de Lurdes Lima, também disse que a instituição percebeu que era importante permitir que os estudantes participassem do processo: “Tanto para dar oportunidade a eles quanto para que se dê continuidade ao atendimento às populações mais carentes”.
Na FTC, os egressos já tinham colado grau na semana passada, mas a faculdade pediu ao Cremeb para adiantar a inscrição na entidade. Segundo o coordenador do curso de Medicina da FTC, André Nazar, a formação oferecida aos alunos hoje já inclui pelo menos 16% de imersão em saúde da família.
“O aluno já tem uma formação para atenção básica e acaba sendo também o local em que ele se emprega quando se forma. Outros vão fazer residência, mas ainda é minoria”, afirma. O Ministério da Saúde suspeita que ataque cibernético tenha derrubado o site do programa Mais Médicos, que apresentou instabilidade na manhã de ontem. A pasta alertou que responsabilidades pela inserção de dados falsos no sistema poderão ser apurados na esfera penal.
Em nota, o Ministério da Saúde disse que a página recebeu mais de 1 milhão de acessos simultâneos no momento da abertura do sistema para os profissionais interessados em se inscrever para uma vaga no programa Mais Médicos. “O volume é característico de ataques cibernéticos. Para comparação, é mais que o dobro do número de médicos em atuação no país”, diz a nota.
Para garantir a inscrição dos interessados, o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (SUS) isolou a aplicação dos ataques e adotou outras ações para estabilidade.
Mesmo com momentos de instabilidade, o sistema contabilizou 3.336 inscrições nas primeiras três horas da abertura do sistema. Abertas ontem, as inscrições vão até domingo (25).
O programa oferece 8.517 vagas para 2.824 municípios e 34 distritos indígenas, antes ocupadas por médicos contratados por meio de acordo de cooperação com Cuba. As vagas serão preenchidas por ordem de inscrição, e o início das atividades é previsto para 3 de dezembro.