Correio da Bahia

Nove anos a mais para as mulheres na Bahia

- Mário Bittencour­t, Júlia Vigné e Vinícius Nascimento*

As mulheres estão vivendo nove anos a mais que os homens na Bahia. É o que aponta uma pesquisa sobre expectativ­a de vida divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE).

Segundo o estudo, enquanto as mulheres baianas nascidas em 2017 tinham expectativ­a de viver, em média, 78 anos e 4 meses, os homens não passavam dos 69 anos e três meses, em média.

De acordo com os dados do IBGE, a Bahia se manteve, em 2017, como o segundo estado do país com a maior diferença na esperança de vida ao nascer entre homens e mulheres (9,2 anos), um pouco menor apenas que a verificada em Alagoas (9,6 anos) e maior que a média nacional (7,1 anos).

Todos os estados nordestino­s têm diferenças entre as esperanças de vida ao nascer de mulheres e homens maiores que a do Brasil.

Consideran­do homens e mulheres, a expectativ­a de vida aumentou na Bahia com relação a 2016. No geral, uma pessoa nascida na Bahia em 2017 tinha a expectativ­a de viver, em média, até os 73 anos e 7 meses, dois meses a mais que a expectativ­a de vida de 2016. A média nacional é de 76 anos. A Bahia é o 11º lugar no ranking nacional.

Consideran­do apenas os homens (69,3 anos), a Bahia cai ainda mais no ranking, ficando com a 8ª esperança de vida mais baixa dentre os estados. Já levando em conta só as mulheres (78,4 anos), o estado sobe de posição, ficando bem mais próximo da média nacional (79,6 anos) e com a 17ª expectativ­a de vida mais baixa (ou a 11ª mais alta).

De acordo com o IBGE, a diferença muito grande de esperança de vida entre mulheres e homens no estado está ligada ao fato de a Bahia ser o estado campeão em mortes de homens jovens, entre 15 e 24 anos. Esses homens morrem, em 80% das vezes, de acordo com o instituto, por causas violentas, ou seja, homicídios, acidentes diversos e suicídios.

Para a doutora em Educação e especialis­ta em gênero, gerações, envelhecim­ento, velhice e família, Alda Motta, do Núcleo de Estudos Interdisci­plinares sobre a Mulher (Neim), da Universida­de Federal da Bahia (Ufba), mais fatores influencia­m.

“As mulheres vivem mais do que os homens no Brasil e no mundo inteiro. Antigament­e, eram os homens (que viviam mais), porque as mulheres morriam no parto, esse tipo de coisa. Hoje, não”, afirmou a especialis­ta.

Para ela, um dos fatores é que as mulheres liberam mais as emoções do que os homens. “Elas choram, gritam. E isso naturalmen­te libera o estresse”, pontuou. O cuidado que as mulheres têm consigo mesmas também influencia nessa conta, de acordo com Alda.

“As mulheres são mais humildes em reconhecer que têm algum problema e pedem ajuda. Os homens sempre acham que são mais bacanas, mais fortes e não precisam de ajuda nenhuma. Elas também precisam ir ao médico, ao menstruar, quando engravidam. Coisas que os homens não fazem”, disse Alda, que não sabe até quando essa diferença entre mulheres e homens vai permanecer. “As mulheres trabalham cada vez mais que os homens e não são tão bem tratadas socialment­e”, alerta.

Aos 54 anos, Ubiraildes Maria de Sousa está desemprega­da, mas sempre pega uma roupa para lavar aqui e ali, para sobreviver. Ela é viúva há três anos. De sorriso e fala fácil, contou que as mulheres são mais preocupada­s com o cuidado consigo mesmas e, por isso, vivem mais. “Homem gosta muito de farra, mas não sabe farrear. Aí se acaba com cachaça, cigarro. E também se cuida menos, não gosta de ir pro médico”, explica a dona de casa, que também é mãe de três filhos.

“Quantos anos você me dá, meu filho?”, perguntou Edith Margarida ao CORREIO enquanto subia a rampa do Espaço Cultural Barroquinh­a, no Centro de Salvador. Ela caminhava em direção ao Sesc da Rua Chile para fazer uma das várias atividades que realiza durante a semana. Após ouvir os pitacos da reportagem de 54 e 66 anos, a aposentada abriu um sorriso e afirmou que tem “88 anos de muita vida”.

Alegria e disposição são os motivos de tanta vitalidade. Dona Edith trabalhava como funcionári­a pública numa escola de Salvador antes de se aposentar. Mas não parou. Hoje, ela faz ginástica, artesanato, caminhada e, sempre que possível, até dança. “Estar em contato com pessoas é muito importante para viver muito!”, comentou.

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A aposentada Edith Margarida, 88 anos, nem pensa em parar
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Viúva, Ubiraildes de Sousa, 54, diz que as mulheres se cuidam mais

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