Correio da Bahia

Ensino da Matemática - PED Brasil

- MARTIN CARNOY É PROFESSOR AND VIDA JACKS PROFESSOR OF EDUCATION DR. MARTIN CARNOY, STANFORD UNIVERSITY; GUILHERME MARBACK NETO É REITOR DA UNIJORGE, DOUTOR EM EDUCAÇÃO E PROFESSOR DA ESCOLA DE ADMINISTRA­ÇÃO DA UFBA; BARBARA BARBOSA BORN É MESTRE E DOUTORA

A pesquisa Todos Pela Educação, de 2017, aponta que apenas 7,3% dos estudantes brasileiro­s concluíram o ensino médio com níveis básicos de aprendizag­em em Matemática. Nas escolas públicas, o cenário é ainda pior: apenas 3,6% dos egressos atingem níveis satisfatór­ios de aprendizad­o. Na última edição do Programa Internacio­nal de Avaliação dos Estudantes (Pisa), o Brasil alcançou a 66ª posição dentre 72 participan­tes. O relatório do Banco Mundial World Developmen­t Report de 2018 alerta que, no ritmo de investimen­to atual em ensino, o Brasil só atingiria a meta satisfatór­ia educação matemática daqui a 76 anos. Culpar estudantes e professore­s é a reação não produtiva que, geralmente, é provocada pela divulgação dessas pesquisas.

O problema, todavia, é mais profundo e encontra-se em tradições arraigadas na forma como a Matemática é ensinada, tanto para os futuros professore­s quanto para os alunos. Na maioria das escolas ainda predomina um ensino de Matemática pautado na memorizaçã­o de fórmulas e reprodução de algoritmos com pouca ou nenhuma conexão com o mundo real. Tal tradição é fruto da permanente desconexão entre teoria e prática na formação de professore­s. De um modo geral – e esse não é um problema exclusivo do Brasil – há uma tendência na formação inicial de professore­s de focar na aprendizag­em de conteúdos em desconexão com sua aplicação na sala de aula, o que leva às dificuldad­es encontrada­s pelos professore­s em fazer a “tradução” do conteúdo acadêmico para aquilo que é acessível aos alunos do ensino básico.

O enfrentame­nto desse problema tem ocorrido de diferentes maneiras, algumas delas alcançando grande destaque internacio­nal. A Universida­de de Stanford vem desenvolve­ndo diversas estratégia­s a partir da ideia de construção de mentalidad­es matemática­s de cresciment­o. Mais do que romper a barreira que muitos alunos possuem com essa disciplina, as metodologi­as e estratégia­s propostas por seu time de pesquisado­res foca no desenvolvi­mento de habilidade­s matemática­s de alto nível cognitivo, possibilit­ando a exploração e a autonomia dos estudantes.

Trata-se da aprendizag­em matemática por meio da resolução de problemas complexos, abertos e interessan­tes, nos quais as múltiplas formas de raciocinar são valorizada­s e onde os alunos podem expandir as fronteiras de seus conhecimen­tos. Visando engajar todos os estudantes na aprendizag­em, rompendo com a ideia de que algumas pessoas possuem mais inclinação para esse tipo de saber enquanto outras não possuem esse “dom”. O mais interessan­te com relação a essa abordagem é que ela tem se mostrado efetiva entre alunos de baixo nível socioeconô­mico, demonstran­do que boas metodologi­as e escolhas pedagógica­s acertadas podem sim levar à aprendizag­em equitativa e de excelência.

Desde 2016, as estratégia­s pedagógica­s e a formação de professore­s desenvolvi­das na Universida­de de Stanford chegaram nas universida­des do Brasil. Um time da instituiçã­o americana vem implementa­ndo especializ­ações em ensino de Matemática com foco nos professore­s que atuam em sala de aula. Desde 2017, o programa está sendo executado em Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife-PE (pela Secretaria Estadual de Educação). Em Salvador, a Unijorge tem um grupo de professore­s prontos para a implantaçã­o do programa e está capacitand­o os docentes para a abertura das turmas. A maior dificuldad­e tem sido o estabeleci­mento de parcerias com redes públicas de educação.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil