Pobreza afeta 6,9 milhões
Estado do Brasil com o maior número de inscritos no programa federal Bolsa Família, a Bahia tinha, no ano passado, 6,9 milhões de pessoas, ou 44,8% de sua população, vivendo abaixo da linha de pobreza. Este número representa uma alta de 2 pontos percentuais (p.p) em relação a 2016 (42,8%). No país, a proporção de pessoas pobres cresceu bem menos no mesmo período - passou de 25,7% para 26,5%, ou seja, 0,8 p.p. a mais. A informação é da pesquisa Síntese de Indicadores Sociais 2018, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com dados referentes ao ano de 2017.
Estar abaixo da linha de pobreza significa, pelos critérios do Banco Mundial, ter renda média de até US$ 5,50 por dia ou R$ 406 por mês. É o caso, por exemplo, da catadora de materiais recicláveis Cleonice Pereira de Jesus, 57 anos. Residente de Vitória da Conquista, no sudoeste do estado, ela mora de favor numa casa emprestada, com isso consegue fugir do aluguel. A residência, no Loteamento Idalina Veloso, próximo ao Anel Viário, abriga ainda o companheiro, que vive de empregos temporários, e um bisneto de 4 anos.
“Devo ter alguma coisa em casa. A renda que ganho não dá para fazer feira, compro de pouco em pouco no mercado, às vezes fiado”, ela disse, enquanto limpava o terreno onde acumula restos de madeira e metal.
De tão pouco que ela e o marido ganham, não consegue estimar a renda familiar. Há três meses busca ser reinscrita no Bolsa Família, de onde já foi descadastrada por mais de uma vez, segundo ela relata, sem saber explicar por que isso ocorre.
“No máximo, o que consigo tirar é R$ 150 por mês. Meu marido consegue uns R$ 40 nos bicos que faz no dia, mas tem mês que não consegue arranjar nada. Mas tenho outras pessoas que me ajudam, e assim vou vivendo”, disse.
Mesmo que traga dados de 2017, a pesquisa Síntese de Indicadores Sociais 2018 ainda se aproxima muito da realidade atual, sobretudo quando se observa que a Ba- hia é o estado do país que mais tem inscritos no programa federal Bolsa Família.
De acordo com dados do Portal da Transparência do governo federal, a Bahia tem 1.980.153 cadastrados em 2018 (em 2017 havia pouco mais de 2 milhões), para os quais serão repassados até o final do ano R$ 2,9 bilhões.
Para o Banco Mundial, estar abaixo da linha de pobreza significa ter renda média de até US$ 5,50 por dia. Já o Bolsa Família, onde estão inscritas famílias em situação de pobreza ou extrema pobreza, tem como limite de renda mensal R$ 89 por pessoa (extrema pobreza) ou entre R$ 89,1 a R$ 178 mensais (pobreza), com crianças ou adolescentes até 17 anos.
No caso do valor de US$ 5,50, ele foi adotado pelo Brasil para monitoramento da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável. A erradicação da pobreza está expressa nas metas do 1º dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
No caso da pesquisa do IBGE, as pessoas cadastradas no Bolsa Família também são incluídas entre as que possuem renda. “Mesmo que seja baixo o valor, é algo que conta na renda per capita”, disse Mariana Viveiros, analista de disseminação de informações do órgão federal.