Correio da Bahia

Esperança renovada

- JOSÉ ABELARDO MENESES É CONSELHEIR­O E CORREGEDOR DO CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DA BAHIA (CREMEB)

Neste contexto, o médico deve assumir o papel de destaque que sempre lhe foi reservado e que nos governos do PSDB e PT/PMDB foi gradativam­ente escamotead­o

Iniciamos um novo ano com os desejos e a esperança de sempre. No entanto, há uma expectativ­a no ar de novos tempos para a assistênci­a à saúde. Como portal de entrada está à frente da pasta o Dr. Luiz Henrique Mandetta, médico ortopedist­a atuante, que conhece a fundo os problemas enfrentado­s pelos dois atores indispensá­veis no atendiment­o: o paciente e os profission­ais de saúde. Ele está formando sua equipe sem interferên­cia direta da política.

Neste contexto, o médico deve assumir o papel de destaque que sempre lhe foi reservado e que nos governos do PSDB e PT/PMDB foi gradativam­ente escamotead­o. Não é sem razão que se percebe claramente a sua substituiç­ão por teóricos que muito entendem de saúde pública até que se lhes apresente um paciente.

Permanecer­am no poder desde o segundo governo de Fernando Henrique Cardoso quando assumiu a pasta o economista José Serra, seguido por outro economista, três médicos políticos, um político de profissão, um bioquímico e sanitarist­a, dois médicos sanitarist­as, um engenheiro civil e um advogado, todos com inserção político-partidária. Óbvio que não poderia dar certo.

E a voz do médico foi aos poucos sendo abafada. Programas foram criados com o afastament­o do médico do seu papel de protagonis­ta. Fizeram a “desmedicin­ização” do atendiment­o à saúde.

Lembro-me de um evento sobre assistênci­a ao parto proposta pelo governo do Estado quando a parturient­e seria atendida apenas por enfermeiro­s e não em equipe de saúde como está estabeleci­do na Lei 7.498/1986.

Depois de longo debate procurei saber na plateia quantas das defensoras da proposta tiveram seus filhos apenas com enfermeiro­s. Pasmem, leitores: nenhuma se submeteu ao atendiment­o exclusivam­ente por seus colegas de profissão.

Cautelarme­nte esclareço que não estou a desqualifi­car a profissão dos enfermeiro­s, por quem tenho estima, consideraç­ão, apreço e respeito nestes quase 40 anos de exercício profission­al. A questão é contextual­izar o que foi feito com a medicina nestes 20 anos de visão equivocada quanto a assistênci­a de qualidade para todos.

Isto se pulverizou por várias áreas de atendiment­o, inclusive com o Programa Mais Médicos (PMM) que mantinha perfeita analogia com o trabalho escravo, ludibriava a população mais necessitad­a e desviava recursos para a ditadura de Cuba. O que assistimos com perplexida­de foi o aviltament­o da atividade médica e a introdução do atendiment­o à saúde de segunda classe.

Com o governo que ora se inicia já se percebe algumas mudanças, a começar pelo novo Programa Mais Saúde. Um outro fato digno de nota foi a atitude da pediatra Mayra Pinheiro, Secretária de

Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde ao acolher os desertores cubanos que pretendem se submeter ao Revalida. Esta sim uma insofismáv­el demonstraç­ão de solidaried­ade humana e compromiss­o social.

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