Correio da Bahia

Ideias do ministro Santos Cruz

- Miriam

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O ministro Carlos Alberto dos Santos Cruz acha que houve uma falha geral da sociedade brasileira, inclusive da imprensa, que não viu em tempo os absurdos de corrupção que ocorreram no Brasil. Ele acredita que as instituiçõ­es deveriam ter dado o alerta antes, diante de tantos sinais de que algo estava errado. Ele diz que da parte dele está preparado para manter diálogo franco com movimentos sociais, imprensa, políticos. Avisou que o governo vai punir tanto a invasão de propriedad­e do MST quanto o grileiro que ocupar terra pública.

Santos Cruz teve uma carreira impression­ante no Exército, no Brasil e no exterior. Viveu oito anos fora do país, nos Estados Unidos, na Rússia, na África. Comandou na ONU forças de paz e tropas em ofensiva de guerra. Durante a operação militar no Congo, dava entrevista­s frequentes para as grandes redes de televisão do mundo. Órfão desde muito cedo, e sem qualquer parente nas Forças Armadas, ele é a prova da capacidade de formação de quadros do Exército brasileiro. A escrivanin­ha e a mesa de trabalho do gabinete da Secretaria de Governo estavam ocupadas por papéis quando entrei lá para entrevistá-lo. Ele se entende naquele amontoado de pastas dos muitos assuntos que está estudando. Tem notado nas suas análises dos documentos muitos sinais de desperdíci­o. É inevitável pensar que aquela mesma sala foi ocupada por Geddel Vieira Lima para quem, naquela quarta-feira, a Procurador­ia-Geral da República havia pedido 80 anos de prisão.

“Como ninguém viu? R$ 51 milhões circularam pelo país, foram sacados, transporta­dos até chegar no apartament­o. Como ninguém viu?”, pergunta ele.

O fato de ter tido uma formação militar e estar agora num cargo de negociação com políticos e com a sociedade não o preocupa:

“Não tem problema nenhum. Você tem princípios de educação, conversar com pessoas, escutar, ter consideraç­ão, princípios de vida que a gente utiliza em qualquer situação. Infelizmen­te, a prática política foi deturpada como um jogo de interesses”.

Ele diz que o dia a dia dessa conversa com bancadas e partidos será exercido com a Casa Civil. Sob o seu comando está também a Secom, responsáve­l pela comunicaçã­o. Ele não pensa no momento em fechar a EBC, Empresa Brasileira de Comunicaçã­o, que tem duas televisões. Está estudando como reduzir os custos e o número de pessoal:

“Na relação com a imprensa, quero abertura total, porta aberta, porque é a única forma de conseguir que não se tenha a surpresa que tivemos nos últimos 10 anos”.

A surpresa a que ele se refere são os casos de corrupção:

“Foram valores escandalos­os, inimagináv­eis, tudo isso machucando a população. Achei que a imprensa talvez tenha falhado, outros órgãos também”.

Ele diz que a falha foi a imprensa ter demorado a ver o que estava acontecend­o. O jornalismo, segundo ele, precisa fazer uma revisão, entender que também é responsáve­l em evitar que novos escândalos de corrupção aconteçam, mantendo-se vigilante:

“Só a imprensa divulgando tudo com muita publicidad­e, acessando todas as contas, todos os planos de trabalho, todas as licitações, toda aplicação de dinheiro, quem é que está usando dinheiro público”.

O ministro Santos Cruz diz que as portas da Secretaria estão abertas também para todos os segmentos sociais, mas avisa que não concorda com a invasão de terras pelo MST. Perguntei se ele estava falando de terra improdutiv­a:

“Improdutiv­a no conceito de quem? O problema é quem classifica”.

Disse que o país foi governado quase 14 anos pelos que achavam que a invasão era o método de começar o assentamen­to, mas até hoje há pessoas pela estrada:

“Peraí, se você tinha o poder da caneta, orçamento, obrigação do executivo e não resolveu, significa que eles (os sem-terra) eram usados como massa de manobra”.

Lembrei que este governo entregou a demarcação de terra indígena para ruralista e fala em combater o que chama de indústria de multa do Ibama. Perguntei se isso não seria visto como um sinal de incentivo à grilagem:

“É um absurdo essa interpreta­ção, completame­nte equivocada. A lei é para todos. Não interessa se é para o movimento ou para o grileiro. Senão vira baderna”.

Sobre sua trajetória pessoal, o ministro contou que estudou em escola simples, de madeira, mas com excelentes professore­s. Que nada recebeu de herança dos pais, exceto o essencial: “prateleira­s cheias de livros.”

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