Traficantes que disputam prédio provocam medo em moradores
EXCELSIOR Vestígios de sangue na entrada dos elevadores e em um sapato deixado por uma das vítimas na entrada do Edifício Excelsior, no Centro Histórico de Salvador. O prédio foi cenário de uma troca de tiros na noite de anteontem que deixou dois baleados por causa de uma disputa por pontos de tráfico no local. Outros dois suspeitos foram presos.
Uma moradora recostada numa das pilastras do prédio questionou ao CORREIO: “A perícia não vem? Estamos à espera de uma solução. Não queremos mais morar aqui”, disse ela, amedrontada.
A mulher, que não quis se identificar, se recusava a voltar à quitinete onde mora há nove anos com os filhos. “Estamos com muito medo. Não temos segurança. Eles entram a qualquer hora, porque o prédio não tem quem faça a segurança”, lamentou.
O edifício tem sete andares dedicados à moradia e os habitantes relatam pagar “aluguéis” de R$ 150 a R$ 300. Além das quitinetes, o local tem mais dois andares para sublojas - porém, apenas uma delas, de aparelhos de som, está em atividade.
De acordo com a Defesa Civil de Salvador (Codesal), o prédio foi um dos 15 ocupados irregularmente e vistoriados pelo órgão no ano passado. Há problemas estruturais e risco de incêndio.
“Além de problemas estruturais, os profissionais do órgão identificaram potenciais risco de incêndio. Como a maioria dessas construções abandonadas pertence a particulares, o objetivo é dar andamento a tratativas para solucionar a questão junto às instâncias legais e, no limite da função da prefeitura e da Defesa Civil, estão sendo realizadas vistorias com equipe multidisciplinar”, informou a Codesal, em nota.
Questionada sobre quais facções brigam pelo coman- do do ponto de tráfico que existe no Edifício Excelsior, a mulher preferiu manter silêncio e se juntou a outros moradores, aguardando a autorização da polícia para que pudessem voltar as suas casas. Um ambulante da região, que já morou no Excelsior, disse ao CORREIO que a facção que atua no prédio é a Bonde do Maluco (BDM). “Não sei qual é o outro grupo que atacou, mas o pessoal que se instalou lá, contra a vontade dos moradores, é do BDM. A gente sabe por causa das pichações nas paredes do prédio. Estão em muitos cantos”, disse ele.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP-BA) informou que não comenta sobre facções. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil. VANDALISMO A estátua de Zumbi dos Palmares, que fica na Praça da Sé, no Pelourinho, Centro Histórico de Salvador, foi alvo de vandalismo. Metade da lança que a imagem de Zumbi segura foi roubada.
A estrutura, feita em bronze, tem 2,20 m de altura e pesa 300 quilos. A obra, inaugurada em 2008, é assinada pela artista plástica Márcia Magno e é considerada a primeira estátua a retratar Zumbi de corpo inteiro, o que seria a primeira “identidade física” do herói.
Os ambulantes do local até dizem saber quem é o responsável pelo ato de vandalismo, mas têm medo de falar. “Há 20 dias fizeram isso. Mas não posso falar mais nada, porque foi gente daqui mesmo. Deve ser para trocar ou vender por droga”, revelou um ambulante, que trabalha próximo à estátua, mas prefere não se identificar.
Ex-diretora da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (Ufba), a artista plástica Márcia Magno, autora da obra, demonstrou indignação ao comentar o furto da peça. “Estou passada com isso. Ali é um local tão visível, onde as pessoas transitam. As pessoas não têm o mínimo de respeito. Como é que uma coisa dessas pode acontecer?”, lamentou.
A Fundação Gregório de Mattos (FGM) é a responsável pela obra e informou que irá procurar a Polícia Civil, identificar possíveis imagens de segurança que possam ter registrado o ocorrido e providenciar a recuperação da lança. Ainda não há uma estimativa do prejuízo.
Queremos um lugar para ir, pois não dá para viver assim, nesse medo constante Moradora
Que preferiu não se identificar; ela mora no Excelsior, com os filhos