Correio da Bahia

Posto cobiçado

- VINÍCIUS NASCIMENTO, COM SUPERVISÃO DO CHEFE DE REPORTAGEM JORGE GAUTHIER

Quem via o nervosismo das estudantes Larissa Oliveira, 18, e Lorena Matos, 21, não imaginaria a leveza das duas na hora de mostrar o talento para as juradas da seletiva da 40ª Noite da Beleza Negra, concurso realizado para eleger a rainha do bloco, ou, como é mais conhecido: a Deusa do Ébano.

Foi a primeira vez de Larissa no concurso. Moradora de Sussuarana, ela conta que conheceu o Ilê Aiyê através de sua tia, uma apaixonada pelo bloco. No caso de Lorena, o concurso já não era mais novidade: no ano passado ela também participou e foi a terceira colocada.

“Eu pensei que diminuiria o nervosismo, mas não. Agora, eu conheço mais a história do Ilê. A responsabi­lidade só aumenta”, disse Lorena.

Ontem, foi o dia de selecionar 15 jovens entre cerca de 60 semifinali­stas. Foram 112 inscritas. No dia 16 de fevereiro, as candidatas disputarão o título de “Deusa do Ébano 2019”, em Salvador. Será a tão esperada festa na Senzala do Barro Preto, inspirada pelo tema do Carnaval 2019: Que Bloco É Esse?.

Uma das finalistas veio de longe: foi a professora de dança Nana Sarah, que até duas semanas atrás ainda morava em Jequié, a 367 km da capital. Foi a primeira vez que ela participou do concurso e não escondeu a emoção por já chegar à final.

“Eu conheci o concurso através de uma professora. Em minha cidade, temos pouco acesso às histórias do Ilê. Conhecer já foi uma grande emoção. Participar e chegar até a final é uma grande honra”, disse Nana.

Presidente da entidade, Vovô do Ilê afirmou que o concurso serve como uma espécie de ação afirmativa e que tem um papel fundamenta­l no processo de afirmação e reconhecim­ento das mulheres negras na sociedade.

“É um concurso que movimenta até o dia a dia das mulheres negras. Toda a preparação para chegar até aqui é marcante”, diz Vovô.

E preparação, fé, persistênc­ia

Juciara Silva, 37, mora no Nordeste de Amaralina e é técnica em Segurança do Trabalho. Concorre pela 7ª vez

Rafaela Rosa É da Barra e tem 23 anos. Professora de capoeira. Participa pela 1ª vez

Lari Martins, 30, artista de Barreiras. Concorre pela 1ª vez

Nana Sarah, 31, professora de dança. É natural de Jequié e mora em Salvador. Concorre pela 1ª vez

Amanda Ribeiro, 18, auxiliar administra­tivo. Mora na Santa Mônica e concorre pela 1ª vez

Elza Bastos, 24, professora de dança. Mora na Pituba. Primeira vez concorrend­o

Caroline Xavier, 20, monitora

Valéria Soares, 24, bolsista. Mora no Curuzu. Participa pela 1ª vez

Dandara Nascimento, 25, auxiliar de classe. Mora no Engenho Velho de Brotas. Concorre pela 2ª vez

Bianca Souza, 23, atendente. Mora no Lobato. Primeira vez

Ivana Paixão, 26, guia turístico. Mora em Lençóis. Segunda vez participan­do

Gleiciele Oliveira, dançarina de 21 anos. Primeira vez. Do Curuzu

Daniele Nobre, 33, secretária executiva. Mora na Bonocô. Oitava vez que concorre

Lumena Aleluia psicóloga e roteirista, de Brotas. Segunda vez concorrend­o e alegria já fazem parte do cotidiano de Josimare de Cristo Reis, ou simplesmen­te Josy Brasil. O nome artístico veio da Europa, onde ela morou por quase 14 anos e trabalhou como passista.

Mas, há um ano e meio, a comunicólo­ga sofreu um grave acidente de carro em Milão. O veículo que vinha atrás de Josy atingiu o fundo do carro e o impacto da batida lesionou mais de cinco vértebras e a medula da brasileira, que ficou paraplégic­a.

Por insistênci­a da família, voltou ao Brasil e decidiu vencer a tristeza. “Eu só perdi o movimento das pernas. De resto, movimento tudo. Quantas pessoas queriam fazer o que eu faço?”, questionou.

Na hora da seletiva, as candidatas foram divididas em grupos de dez e fizeram uma apresentaç­ão para as juradas. Elas eram livres para soltar o corpo e mostrar seus movimentos e carisma. No caso de Josy Brasil, a avaliação levou em conta o movimento dos braços e a desenvoltu­ra na dança. Josy acabou não sendo selecionad­a.

Para a secretária estadual de Cultura, Arany Santana, que também é diretora do

Ilê, a Noite da Beleza Negra é mais do que um concurso. “Trata-se de uma ferramenta de construção da autoestima de mulheres negras na Bahia e no mundo”.

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ARISSON MARINHO De amarelo, Jéssica Nascimento, a Deusa do Ébano 2018, recepciona as finalistas

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