Correio da Bahia

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- Alexandre Lyrio e Luã Souza REPORTAGEM redacao@correio24h­oras.com.br

não bastava prendê-lo. Era preciso expor a sua cicatriz.

- “Tira a camisa, porra!” O que se vê é um traficante perigoso preso, a vingança no semblante e a cicatriz no abdômen em forma de vértebra de peixe. Quase 20 anos depois, não bastava o sorriso! Era preciso a beca. Em vez da abordagem policial, elogios e admiração de colegas da faculdade. - “Você é o cara!”

O que se vê é um aluno brilhante, graduando em Direito. Era dia da foto oficial dos concluinte­s da faculdade. Sim, não parece, mas estamos falando da mesma pessoa. Duas faces de um mesmo homem. O primeiro, Anderson Luiz Moreira da Costa. O segundo, Adson Moreira de Menezes. Durante 16 anos, Anderson, nascido no Rio de Janeiro, foi Adson, radicado na Bahia. Deixou o passado de crimes, que lhe deu a alcunha de Espinha, por conta da cicatriz, e se tornou um homem sem antecedent­es.

Líder do tráfico e assaltante de carros-fortes no Rio, com um latrocínio no currículo, Anderson fugiu para a Bahia e viveu não só outra personalid­ade, mas uma nova vida: acadêmico de Direito da Faculdade 2 de Julho, dono de um restaurant­e no Pelourinho (o Tropicália, que tocava com a mãe), advogado e pai de família. Claro, para viver o outro lado da mesma moeda que se tornou sua existência, forjou documentos, escondeu o passado dos colegas e, quem sabe, ludibriou a própria família.

No dia 30 de julho de 2018, Anderson/Adson acabou preso na porta do seu estabeleci­mento e foi levado de volta para o Rio. Deixou aqui a esposa, grávida, e sua mãe, que segue tocand o o restaurant­e.

Diante da história enigmática, entre setembro e outubro, o CORREIO decidiu investigar a trajetória desse homem de duas vidas e de muitos adjetivos, seja para o bem ou para o mal. Daqui para frente, você escolhe qual história vai ler primeiro: se voltar uma página, vai conhecer o traficante Anderson, nascido a 23 de setembro de 1970, apontado pela polícia como perigoso latrocida e assaltante no Rio.

Se seguir nessa página, conhecerá mais sobre Adson, com registro de 7 de julho de 1971, e que foi considerad­o um aluno de Direito tranquilo e prestativo, advogado preocupado com os direitos humanos, empresário e pai. Em seguida, terá detalhes sobre a nova prisão dele, quando Anderson reencontra Adson.

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