Correio da Bahia

Qual o tamanho do Vitória?

- Gabriel Galo GABRIEL GALO É ESCRITOR

O Vitória está menor que o Moto Club. Tomou 2 a 0 no Maranhão para ser eliminado ainda na primeira fase da Copa do Brasil. Aquela que mais paga no futebol brasileiro. Perdeu, pois, os polpudos depósitos e prêmios em fases seguintes, compromete­ndo suas já combalidas finanças.

O Vitória está menor que o Botafogo da Paraíba, que o Ceará, que o ABC, que o Náutico, que o CSA, que o Fortaleza, que o Santa Cruz, que o Confiança, que o Salgueiro, que o CRB. Incapaz de batê-los ou merecer fazê-lo. Empata na sorte, perde no mereciment­o. Vê a todos pelo retrovisor na Copa do Nordeste, onde repousa fora da zona de classifica­ção às quartas-de-final, mesmo em grupo incomparav­elmente mais fraco.

O Vitória está menor que o Bahia. Não bate o maior rival há mais jogos do que reza o bom senso. Vê de baixo os tricolores em divisão superior e planos maiores – mesmo que tropecem.

Mas o pior é olhar para o pobre campeonato Baiano e ver o tamanho minúsculo que o Vitória assumiu. O Vitória está menor que o Bahia de Feira, que o Atlético de Alagoinhas, que o Primeiro Passo de Vitória da Conquista. Está também menor que o Fluminense de Feira, como dizer que não?

Veste o mais que centenário manto um bando que não sabe o que faz, nem quer saber. Perambula sem alma, sem qualidade e sem potencial a horda nos verdes campos de listras brancas.

Ainda assim, contra todos os prognóstic­os, contra todos os avisos de quem tem juízo, menos de 3 mil teimosos torcedores desperdiça­ram seus suados caraminguá­s para presenciar mais um show de horrores, uma ópera bufa (fria?) de fazer sangrar os olhos e gelar o coração.

Ao fim de mais um vexame, de mais uma vergonha, de mais um embuste, desta vez, os que ainda tomavam arquibanca­das e cadeiras não esboçaram reação. Não houve aquela aglomeraçã­o para colocar para fora o grito que externa a honra despedaçad­a. Prevaleceu o silêncio e as expressões um tanto atônitas, outro tanto resignadas.

E isto preocupa. Porque quando a torcida entra em tal estado letárgico, a paixão deu lugar ao tanto-faz. A derrota não é mais algo do jogo, mas uma previdênci­a. Perder é rotina; empatar é o limite; vencer é uma impossibil­idade, quase um milagre.

Na esteira das vaidades desmedidas, da idiotice com iniciativa e das desculpas esfarrapad­as, o primeiro semestre foi jogado no lixo. O fundo do poço é apenas uma etapa, e seguimos cavando mais fundo. A Série C não é um fantasma, mas uma meta. A baixeza é proporcion­al à inépcia.

Hoje, no auge da dor pela contínua deterioraç­ão de um clube que é uma instituiçã­o da Bahia e do Brasil, retrato de um povo, percebemos sem haver chance de erro. O Vitória está do tamanho da incompetên­cia atroz e da falta de vergonha na cara e hombridade de Ricardo David e Marcelo Chamusca. Caberá à história reduzi-los ao que de pior passou pelos portões sagrados do Barradão.

Perceba, no entanto, que o Vitória está, não é, menor. David e Chamusca, por mais esforçados que estejam para desmantela­r o Vitória, são transitóri­os. Haverá o clube de se reerguer, nos braços e clamor de sua torcida, que tem que achar forças sabe-se lá de onde para assumir para si a responsabi­lidade de reconduzir democratic­amente o clube ao seu patamar merecido. Enquanto isso, resta apenas a ressaca pela vergonha que parece não ter fim.

O Leão está menor que o Bahia. Não bate o maior rival há mais jogos do que reza o bom senso.

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