Correio da Bahia

Tragédias brasileira­s

- HERMANO ADOLFO GOTTSCHALL SOUTO NETO É ADVOGADO E EMPRESÁRIO.

O aumento absurdo do feminicídi­o, crime praticado contra a vida da mulher, é algo jamais visto

O ano nem bem começou e nós brasileiro­s nos vimos, de novo, diante de uma das maiores e mais tristes tragédias ambientais já ocorridas em escala mundial. O rompimento da barragem de Brumadinho, em Minas Gerais, resultou em centenas de mortos e desapareci­dos, até hoje, incontávei­s. Registre-se, em tempo, que esse acidente plenamente evitável contou com a ampla cumplicida­de do Poder Público.

Anos antes, em 2015, a tragédia de Mariana, de semelhante­s e letais proporções e provocada pela mesma empresa, serviu para ratificar o descaso dos órgãos de controle e fiscalizaç­ão com esses empreendim­entos ultrapassa­dos e noviços à sociedade.

O Brasil não é um país sério, pois, se sério fosse, o presidente dessa bilionária empresa estaria hoje preso e sequer comparecer­ia à Câmara dos Deputados para propalar, cinicament­e, que a mineradora é uma “joia” e não deveria ser condenada.

Mas não nos referimos apenas às barragens que rotineiram­ente desabam em solo brasileiro e provocam comoção popular. O que dizer do incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro, que transformo­u em pó um dos marcos de preservaçã­o da nossa identidade histórica e nacional? De doer! Como doloroso foi assistir ao recente incêndio no Ninho do Urubu, centro de treinament­o do mais popular clube de futebol brasileiro. Uma verdadeira arapuca montada para assassinar jovens talentos do desporto brasileiro e fulminar dezenas de famílias com a carbonizaç­ão de seus filhos amados.

As balas perdidas no Rio de Janeiro e país afora já não são novidades. Não só não surpreende­m como nos forçam a aceitar uma realidade bélica cotidiana sem precedente­s, cujos números superam conflitos militares. Vivemos uma guerra civil com o amplo fortalecim­ento do crime organizado e de milícias, essas últimas, esquadrões da morte que possuem, a olhos nus, representa­ntes nas diversas esferas de governo. O crime organizado cresce mais do que a China Vermelha! E cresce à revelia de um governo que prometeu, sob a batuta de um mandatário “pra lá” de polêmico, restabelec­er a segurança do povo.

A complacênc­ia dos Poderes Executivo e Judiciário contribui para esse cenário de horror na segurança pública, notadament­e quando reforçam, permissiva­mente, o fenômeno da impunidade. A impunidade brasileira é imbatível, de modo que causa ojeriza a soltura de presos condenados e a vergonhosa adoção de pesos e medidas distintas para figuras do pântano político, enlameadas até o colarinho.

Nos acostumamo­s, também, com um apartheid social diário e constantes embates de gênero, raça e cor. O aumento absurdo do feminicídi­o, crime praticado contra a vida da mulher, é algo jamais visto (ou noticiado) como agora. O caso da vereadora Marielle Franco representa uma vergonha nacional.

A propósito, “cadê o Amarildo”, combativam­ente cantado por Caetano Veloso? O pedreiro desaparece­u após ser levado por policiais da UPP (Unidade de Polícia Pacificado­ra) da Rocinha, em junho de 2013.

As sucessivas crises econômicas e o avanço epidêmico da corrupção revelam a manifesta ineficiênc­ia do Estado para criar e estabelece­r políticas públicas de promoção social. Vemos uma educação pública sofrível e um sistema de saúde calamitoso, onde crianças e idosos agonizam nos corredores dos hospitais.

E nós, brasileiro­s? Bem, nós seguimos com uma mansidão bovina de causar inveja a monges budistas, acreditand­o que Deus é brasileiro e quem ajuda é Senhor do Bonfim.

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