Desalojados vão para hotéis e casa de parentes
des da Silva, 55 anos, contou que a filha, que mora no final da Rua Marcelino Garrido, nos fundos da fábrica, teve de pular o muro da residência na companhia do marido e dos quatro filhos, de 17, 15, 7 e 5 anos. Ela não conseguiu abrir a porta da casa por conta do forte calor. A própria aposentada também teve que deixar sua casa pelo cheiro forte da fumaça. “Acordei, por volta das 6h, com uns estouros e com a minha filha me ligando desesperada. Aí vi aquela cortina de fumaça. Fiquei desesperada”.
A operadora de caixa Jéssica de Souza Matos, 24, disse que estava dormindo quando recebeu uma ligação da mãe. “Ela me disse que a fábrica estava pegando fogo. Ao mesmo tempo, eu escutei o barulho das explosões”.
A Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado (SDE) informou que aprovou ontem a prorrogação de incentivos fiscais à empresa durante reunião do Conselho Desenvolve/Pró-Bahia, para que a fábrica possa se reconstruir.
A Ortobom deve assinar também, nos próximos dias, um protocolo de intenções com o governo do estado para ampliação de sua unidade industrial, com investimentos de R$ 9 milhões, gerando cem novos postos de trabalho. Vinte famílias foram obrigadas a deixar suas casas como medida preventiva de proteção à vida, já que não houve dano estrutural, segundo a Defesa Civil de Salvador (Codesal). Cinco das casas desocupadas foram atingidas pelo fogo.
Logo cedo, por volta das 6h, quando os moradores começaram a sair de suas casas, as portas do Centro de Evangelização da Sagrada Família (Cesf), da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Valéria e Palestina, foram abertas para dar abrigo aos desalojados.
“Muitas pessoas precisaram sair de suas casas às pressas, sem tempo nem para pegar os pertences pessoais. Nós temos o espaço, então abrimos para acolher, dar sombra, oferecer água”, disse o padre Jairo Batista, responsável pela paróquia. Ele disse ter abrigado durante o dia mais de 200 pessoas. Muitas delas deixaram o abrigo improvisado na paróquia e foram para casa de parentes e amigos na região.
Além disso, a Ortobom disponibilizou hotéis em Valéria para quem não tinha para onde ir. O número de famílias que foram para os hotéis não foi divulgado.
A Ortobom informou que “as necessidades de cada família estão sendo identificadas e atendidas”.
Um dos desalojados, o seminarista Rafael Freitas, 27, foi um dos que tiveram a casa atingida pelo fogo. “Saí de casa com a roupa do corpo e nada mais. Até agora não sei como está, quanto queimou, me disseram que a casa foi parcialmente atingida”, disse ele.
Apesar de já ter sido procurado pela empresa para garantir que as medidas necessárias sejam tomadas, o sentimento é de tristeza. “Eles me procuraram, disseram que iam resolver. Mas é muito triste ver uma casa que foi construída com luta e esforço ser destruída”, completou Rafael.
A Secretaria de Desenvolvimento Urbano de Salvador (Sedur) disse que a fábrica não apresenta qualquer irregularidade e que tem autorização para funcionar na área. “O Termo de Viabilidade e Localização (TVL) foi concedido com base na legislação vigente do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) e da Lei de Ordenamento do Uso e da Ocupação do Solo do Município de Salvador (Louos). As atividades da fábrica, em Valéria, foram permitidas por se tratar de zona industrial”, informou a nota.
Por volta das 5h e pouca da manhã, pediram pra gente sair, foi uma correria e explosão toda hora Enoque Souza
Aposentado de 80 anos que teve de deixar sua residência por causa do incêndio