Correio da Bahia

Família acusa PM de matar estudante

- Bruno Wendel REPORTAGEM bruno.cardoso@redebahia.com.br

O estudante Bruno Damasceno Brito, 17 anos, era portador de epilepsia e sempre andava acompanhad­o do pai. “Por conta do problema de saúde, ele sempre saía comigo. Não desgrudava de mim. Trazia comigo para onde fosse”, conta Antônio José Silva Brito, 42. Hoje, infelizmen­te, Antônio carrega Bruno apenas no coração. Na última quinta-feira, o rapaz saiu para pescar com três rapazes, entre eles o irmão de 20 anos, na Lagoa do Abaeté, em Itapuã. Só que Bruno não voltou mais para os braços do pai. O corpo estava no Hospital Menandro de Faria, em Lauro de Freitas, Região Metropolit­ana de Salvador, com uma marca de tiro na cabeça.

Segundo a família, o adolescent­e foi morto durante uma abordagem da Polícia Militar (PM). Os familiares contam que Bruno e o irmão tinham passado a tarde no Abaeté – estavam na lagoa desde as 13h – acompanhad­os de um primo e um amigo. Por volta das 16h, os quatro saíram do local onde estavam para continuar a pescar em outro ponto da lagoa. Nesse momento, o irmão mais novo percebeu que perdeu a sandália no caminho. O jovem, em seguida, voltou com um amigo ao primeiro lugar para procurar o calçado. Foi nesse momento que houve uma abordagem policial.

De acordo com o irmão de Bruno, os policiais já chegaram atirando. Tanto o amigo que estava com o grupo quanto ele e o primo se assustaram e saíram correndo. Bruno correu em direção a um matagal.

O irmão, o primo e o amigo foram colocados de joelhos e revistados pelos PMs, que não encontrara­m nada suspeito. O irmão chegou a avisar aos PMs que Bruno, que não estava com o grupo, tinha deficiênci­a neurológic­a e epilepsia. Instantes depois, ouviram um tiro, sem saber o que tinha acontecido.

ÁGUA ATÉ OS JOELHOS

Foi nessa hora que os PMs ordenaram que os três entrassem na lagoa e seguissem até o nível da água alcançar os joelhos. Segundo o jovem, os PMs mandaram, ainda, que colocassem as mãos na cabeça e não olhassem para trás. Com medo, o irmão de Bruno e os outros dois jovens só olharam depois de uma hora. Os PMs tinham ido embora.

O jovem saiu em busca de Bruno, mas não o encontrou na lagoa. Chamou o pai e a mãe e, desesperad­os, deram início a uma peregrinaç­ão nos hospitais públicos. Ao chegar no Menandro de Faria, em Lauro de Freitas, a família encontrou Bruno, já sem vida. O corpo do adolescent­e tinha sinais de espancamen­to e marcas de tiro.

Rapaz de 17 anos tinha saído para pescar com irmão e amigos

VERSÃO DA POLÍCIA

Através da assessoria, a PM informou que a Corregedor­ia da corporação instaurou um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar as circunstân­cias da situação. Em nota, a PM afirmou ainda que uma equipe da 15ª Companhia Independen­te de Polícia Militar (Itapuã) estava fazendo rondas na área quando teria se deparado com “três indivíduos em atividade suspeita”.

Os três teriam tentado fugir e, segundo a polícia, um deles atirou contra os policiais. “O indivíduo foi atingido e prontament­e socorrido para o Hospital Menandro de Faria, onde foi confirmado o óbito”, completa a instituiçã­o, em nota. Com Bruno, a polícia diz ter encontrado um revólver, o que a família do adolescent­e nega.

O pai de Bruno exibe um relatório médico do Hospital Geral Roberto Santos, emitido no dia 4 de novembro de 2014, atestando que o rapaz era paciente da unidade em um tratamento “neurológic­o por quadro de epilepsia de difícil controle e déficit cognitivo com comprometi­mento do comportame­nto”, diz o documento.

“Quero justiça. Isso não pode ficar assim. Não foi uma troca de tiros. Mataram o meu menino”, completa o pai.

Bruno cursava o 1º ano do ensino médio no Colégio Estadual Mestre Paulo dos Anjos, no Bairro da Paz.

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