Correio da Bahia

‘É uma dor imensuráve­l’, diz pai

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Alunos e professore­s do Colégio Estadual Mestre Paulo dos Anjos, no Bairro da Paz, onde Bruno cursava o ensino médio, além de amigos, dos pais e outros parentes do adolescent­e farão um protesto às 11h de hoje.

Ao CORREIO, ontem, o pai do rapaz, Antônio José Silva Brito, afirmou que o filho foi vítima de extermínio e que não é verdade o que a PM alega, que o rapaz estaria armado. “Meu filho tinha crises constantes, fazia uso de remédios controlado­s, tinha acompanham­ento médico no [Hospital Geral] Roberto Santos. Ele era um menino direito. Estudava e trabalhava também. E se ele tivesse feito algo de errado, teria que levá-lo à delegacia e não o que fizeram com ele. Isso foi um extermínio”, desabafou Antônio, que é armador de ferragens em construção civil.

Bruno era o filho caçula de Antônio. “Era muito grudado comigo. Depois que ele teve duas sérias convulsões, uma aqui no bairro, ele não saía sozinho. A maioria das vezes comigo. Já cheguei a levá-lo ao meu trabalho e muitas vezes trabalhou comigo no Carnaval, no isopor, era um menino de dar orgulho”, contou o pai, enquanto olhava fixamente uma pulseira no pulso esquerdo. “Foi ele quem fez. Ele fazia várias e vendia na escola aos colegas, por R$ 2. Certa vez, eu não tinha dinheiro para pagar a passagem do ônibus e ele me deu do trabalho artesanal dele”, lembrou Antônio.

MEDO, TENSÃO E TIROS

O irmão de Bruno disse que, dois minutos depois, ele e o outro que ficou escutaram uma rajada de tiros e, em seguida, o amigo que tinha voltado com Bruno veio correndo e gritando “É um assalto, é um assalto”.

“Então, fui atrás do meu irmão, porque sabia que ele estaria com medo, estava sozinho e já foi assaltado uma vez quando veio pescar com o meu pai. Mas, apareceram dois policiais, um segurando uma carabina e o outro com uma pistola”.

O irmão revela que explicou aos policiais que tinham acabado de pescar, que procuravam o irmão dele que tinha epilepsia e que correram após ouvir as rajadas. “Nesse momento, um dos policiais entrou na mata e o outro ficou com a gente. Mandou que ficássemos de joelho e de costas para ele e começou a fazer um monte de perguntas e revistar a nossa mochila, onde encontrou somente material de pesca, como isca e anzol, e os peixes. Ficamos sendo interrogad­os por quase uma hora até ouvirmos o primeiro tiro”, relatou o rapaz.

Após ouvir de um dos PMs que Bruno “estava sendo atendido”, o irmão voltou para casa em busca dos pais. No caminho, encontrou com a mãe no Km-17, comunidade vizinha ao Bairro da Paz. Ela, estranhand­o a demora dos rapazes, havia saído para procurá-los. “Ela chorava muito porque Bruno nunca era de passar do horário, às 17h ele já estava em casa. Ela estava preocupada, mas parecia estar adivinhand­o”, finalizou o irmão.

Meu filho tinha crises constantes, tomava remédios. Ele era um menino direito. Estudava e trabalhava também. E se ele tivesse feito algo de errado, teria que levá-lo à delegacia e não o que fizeram com ele. Isso foi um extermínio Antônio José Silva Brito

Pai de Bruno, adolescent­e morto por PMs

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