Correio da Bahia

A carreira diplomátic­a tem exigências e peculiarid­ades próprias. É complexa, e cheia de sutilezas

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Estados Unidos. Ele acha mesmo que terá linha direta na Casa Branca? Falará no Departamen­to de Estado com o subsecretá­rio de assuntos latino-americanos. Mas um embaixador é mais do que isso. Ele tem que representa­r o país diante não apenas do governo, mas de toda a sociedade. Eduardo como líder hoje do Movimento, uma falange de ultradirei­ta, criada por Steve Bannon, terá muita dificuldad­e de transitar pelos muitos segmentos da diversidad­e americana. Não conseguirá sentir o país. Ele já cometeu o primeiro dos erros que um diplomata profission­al não cometeria: colocou na cabeça o boné de um candidato. No ano que vem haverá eleições. O ambiente está cada vez mais tenso por lá. As declaraçõe­s de Trump esta semana contra quatro deputadas da esquerda democrata — uma naturaliza­da, três nascidas nos Estados Unidos — foram considerad­as racistas e a Câmara de Representa­ntes aprovou ontem por ampla maioria uma moção de censura ao presidente Trump.

Há, claro, chefes de missão que não são diplomatas de carreira, e alguns fizeram bom trabalho, mas nunca houve no Brasil uma escolha como essa. Ela representa mais um passo no desmonte da brilhante e bem formada burocracia da qual o Brasil sempre se orgulhou. Mas, além disso, ela ofende o nosso atual estágio de desenvolvi­mento democrátic­o.

O Brasil nasceu como um país em que as portas se abriam se a pessoa era um fidalgo, filho de alguém poderoso. Depois se transformo­u no país das carteirada­s, aquele cujo defeito se resumia na frase “sabe com quem está falando”. A democracia foi corrigindo essas distorções. E assim firmou-se a condenação ao nepotismo e a obrigatori­edade do princípio da impessoali­dade para a escolha de pessoas para os cargos públicos.

Essa ideia de Bolsonaro é ruim porque o jovem deputado não tem as mínimas qualificaç­ões para exercer o cargo, e é deletéria porque joga o Brasil de volta ao inaceitáve­l tempo da fidalguia. Por isso, se a Presidênci­a não tem noção, que os outros poderes corrijam os erros. O Senado tem a prerrogati­va de decidir sobre nomeação de embaixador­es e deve avaliar esse assunto pensando no país e não na conveniênc­ia política. E o Supremo Tribunal Federal (STF) precisa esclarecer se a Constituiç­ão, ao condenar o nepotismo, ressalvou o posto de embaixador entregue ao filho do presidente como uma situação aceitável.

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