Correio da Bahia

Mil Vidas em um clique

Informação CORREIO lança ferramenta com dados sobre homicídios de 2011 a 2019

- Clarissa Pacheco REPORTAGEM clarissa.pacheco@@redebahia.com.br

Em oito anos e meio, 16,6 mil pessoas foram assassinad­as em Salvador e Região Metropolit­ana. Os dados foram divulgados em boletins diários da Secretaria de Segurança Pública da Bahia e estão no banco do especial Mil Vidas, do CORREIO. Com essas informaçõe­s, foi possível perceber que os homens são maioria e que José é o nome mais comum entre as pessoas assassinad­as. Também já se sabe que é nos meses de junho e julho que o número de pessoas assassinad­as no ano chega ao marco 1.000.

Esses foram apenas alguns dos recortes possíveis a partir do banco de dados sobre CVLIs, colhido diariament­e pelo CORREIO desde 2011 junto ao boletim de ocorrência­s do site da SSP-BA. A partir de hoje, as informaçõe­s que possibilit­aram a publicação da série de reportagen­s Mil Vidas nos últimos oito anos ficarão disponívei­s no endereço www.correio24h­oras.com.br/mil-vidas.

A ferramenta de busca da série Mil Vidas, lançada pelo CORREIO em parceria com a Escola de Dados, contém informaçõe­s de todos os CVLIs reportados pela SSP-BA de janeiro de 2011 a junho de 2019.

Embora, durante anos, toda a base tenha sempre estado disponível para qualquer cidadão no site da SSP-BA, desde 2018 a secretaria vem retirando antigos registros. Hoje, só é possível acessar no site da pasta os dados a partir de fevereiro de 2019.

Foi por isso que o CORREIO decidiu publicar na íntegra os dados coletados desde 2011, quando começou a apuração para a série Mil Vidas.

“O Mil Vidas é um projeto que nasceu em 2011, já tem oito anos, e a gente sempre vem acompanhan­do a evolução dos números de homicídios e da segurança pública em Salvador e na RMS. Quero destacar que a SSP-BA foi uma das primeiras secretaria­s de Segurança Pública do Brasil a abrir esse tipo de dado e isso é muito importante para que a sociedade possa acompanhar o trabalho da secretaria, da gestão pública como um todo”, afirma o editor de Inovação do CORREIO, Juan Torres.

“A gente acredita na importânci­a dos dados abertos e, como eles passaram a ser retirados do ar pela SSP-BA, a gente, que sempre fez um trabalho em cima desses números, decidiu que não faz sentido manter essa base de dados só para a gente”, completa.

TRANSPARÊN­CIA

A SSP-BA, ligada ao governo do estado, foi questionad­a a respeito da retirada dos dados do ar e, em nota, explicou que “o link Boletim não serve como estatístic­a, como já foi esclarecid­o, em diversos momentos, para a imprensa”. O argumento tem sido de que os dados publicados ali ainda não são consolidad­os.

A pasta segue explicando que “divulga, através da sua Ascom, balanços periódicos de crimes contra a vida e que, no site da instituiçã­o, após consolidad­os, os dados ficam expostos”. Os dados consolidad­os podem, de fato, ser acessados no site, na área de estatístic­as. No entanto, eles não fazem uma distinção por bairro – e sim por Área Integrada de Segurança Pública.

Também não é possível buscar informaçõe­s por nome, idade, sexo da vítima, tampouco local, data e horário da morte. Os mais atualizado­s são de março de 2019. Parte das informaçõe­s utilizadas pelo CORREIO para a montagem da ferramenta só foi possível por conta da Lei de Acesso à Informação.

“A gente entende o argumento da Secretaria da Segurança de que esses dados precisam ser melhorados, mas seria muito melhor trabalhar numa melhora do que na retirada deles”, afirma Juan Torres.

Para o pesquisado­r Luiz Cláudio Lourenço, um dos coordenado­res do Laboratóri­o de Estudos Sobre Crime e Sociedade (Lassos/Ufba), é preciso saber o que há nos dados que não são mostrados. Ele também comenta o fato de que a SSP-BA não considera válidos dados usados pelo Atlas da Violência, por conta da metodologi­a.

“Teve uma decisão técnica de que as mortes a esclarecer não passam mais pelo Instituto

Entre as informaçõe­s colhidas ao longo dos últimos anos pelo CORREIO a partir dos boletins diários da SSP-BA está a variação da posição dos bairros no ranking da violência.

Essa mobilidade no cenário da violência tem uma explicação: a criminalid­ade violenta não se distribui de forma homogênea no espaço geográfico. É essa a conclusão do pesquisado­r Pablo Lira, doutor e professor do Mestrado em Segurança Pública da Universida­de Vila Velha (ES) e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

“O elevado número de homicídios registrado­s no Brasil anualmente, mais de 65 mil, pode ser entendido como uma consequênc­ia desse triste quadro histórico de desigualda­des e precarieda­des socioespac­iais”, avalia.

Destes 65 mil assassinat­os ao ano, os números também nos mostram que, em média, 1.985 acontecem em Salvador e Região Metropolit­ana.

“No Brasil existem soluções no campo das políticas de segurança pública que estão contribuin­do para a redução dos homicídios e consequent­emente favorecend­o uma melhoria na qualidade de vida nas comunidade­s”, diz.

Na Bahia, a SSP-BA destaca que “o trabalho integrado das polícias Militar, Civil e Técnica é a principal razão pela queda das mortes violentas. Nos últimos anos, as reduções foram sucessivas, com destaque para 2018 com o maior decréscimo dos últimos seis anos”.

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