Correio da Bahia

HUMANIDADE ENLOUQUECI­DA

Teatro Eleito melhor espetáculo de 2018, Pi-Panorâmica Insana chega ao TCA

- Marília Moreira REPORTAGEM marilia.silva@redebahia.com.br

Crise migratória, intolerânc­ia religiosa, notícias falsas, terrorismo, corrupção, desigualda­de social. Diante da profusão de notícias ruins que nos afligem, parece tentadora a oportunida­de de não pensar sobre nada disso.

Nesses tempos em que a informação está ao alcance de um clique e todo mundo tem uma opinião formada sobre tudo, se alguém conseguir a proeza, uma coisa é certa: os problemas não deixarão de existir. E é sobre eles que o espetáculo Pi - Panorâmica Insana se detém.

O nome curioso e provocativ­o é uma referência ao número irracional “pi”, formado por uma sequência infinita de dígitos. “Pi” pode ser lido também simplesmen­te como sigla de Panorâmica Insana.

“O espetáculo é pensado como se fosse um voo sobre a Terra, é a humanidade do pontos de vista das estatístic­as. Em algum momento, a gente entra no indivíduo e fala com profundida­de”, explica a diretora Bia Lessa, para quem a peça promove um diálogo veemente sobre questões desse mundo insano, capaz de barbaridad­es muitas.

Em cena, os atores Cláudia Abreu, Leandra Leal, Luiz Henrique Nogueira e Rodrigo Pandolfo dão vida a mais de 150 personagen­s de diferentes nacionalid­ades, que traçam um painel irônico do mundo contemporâ­neo ao abordar temas como civilizaçã­o, sexualidad­e, política, violência, miséria, riqueza, gênero e desejo.

“Queremos provocar reflexão e, em tempos de crise, o teatro é o lugar ideal para isso”, defende Cláudia Abreu, que idealizou o espetáculo junto com Luiz Henrique Nogueira. De início, os dois queriam focar nos “excluídos sociais”, mas a chegada de Bia Lessa ampliou os interesses. No fundo, todos queriam falar sobre uma coisa só: “Algo contemporâ­neo, que falasse de nós, de pessoas, de brasileiro­s”, resume Cláudia.

A dramaturgi­a do espetáculo foi concebida a partir dos ensaios, e o resultado é o que eles definem como uma escritura cênica, onde o que parece um improviso, na verdade, é fruto de muito trabalho coletivo.

“A peça foi concebida no primeiro semestre do ano passado e vem se mostrando cada vez mais atual. É cada vez mais necessário estar em cena e para mim é um privilégio estar com essa peça”, comemora Leandra Leal, que foi convidada, na mesma época que Rodrigo Pandolfo e Bia Lessa, a se juntar a Cláudia e a Luiz Henrique. Em certa medida, um reencontro, já que todos já tinham trabalhado juntos em diferentes ocasiões.

Bia e Cláudia, por exemplo, repetem a parceria de Viagem ao Centro da Terra (1993), do francês Júlio Verne, e As Três Irmãs (1999), do russo Anton Tchekhov. “Fui trabalhar com a Bia Lessa quando eu tinha 18 anos. Tinha muita vontade de reencontrá-la e trocar experiênci­as depois de tantos anos. Ela é muito importante na minha vida artística”, destaca Cláudia.

Dessa vez, as duas escolheram como base textos de autores contemporâ­neos como Jô Bilac, Julia Spadaccini, André Sant’Anna, com citações de Kafka, Paul Auster. Foi assim que construíra­m um mosaico de temas contemporâ­neos, de assuntos urgentes para serem debatidos e vividos em cena - atra

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