Correio da Bahia

Viagens aéreas e (falta de) informação

- HORACIO NELSON HASTENREIT­ER FILHO É PROFESSOR E DIRETOR DA ESCOLA DE ADMINISTRA­ÇÃO DA UFBA

Poucos, entre os que costumam viajar de avião, chegam a refletir sobre a tecnologia e a rede intrincada de eventos que permite que mais de 85% dos voos decolem no horário previsto e contratado. Modelos bastante complexos e sistemas de informação dos mais diversos garantem roteamento­s otimizados, facilidade na reserva e compra de passagens e até o acompanham­ento em tempo real de cada um dos voos comerciais em curso nesse exato momento. No entanto, há situações em que a presumível associação entre viagem aérea e agilidade fica seriamente comprometi­da.

As situações não conformes na aviação comercial são normais, previsívei­s e até compreensí­veis. Para que um passageiro possa viajar no horário previsto é necessária uma combinação de consonânci­as envolvendo a aeronave, a tripulação, as condições climáticas, o terminal aéreo e, logicament­e, o passageiro. O que causa espanto é a incapacida­de dos principais atores envolvidos na atividade de transporte de passageiro­s em diminuir os transtorno­s nessas situações. Frequentem­ente, o que se observa é a inexistênc­ia de protocolos e de fluxos lógicos de ações em função do tipo de não conformida­de observado, sobressain­do nessas situações a incapacida­de de se comunicar e de disseminar informaçõe­s.

As companhias aéreas, mesmo quando têm ciência antecipada de atrasos não desprezíve­is, não conseguem estabelece­r comunicaçã­o tempestiva com o passageiro, evitando deslocamen­to desnecessá­rio ao aeroporto. Desse modo, além de arcar com a insatisfaç­ão do passageiro de não chegar ao seu destino no horário esperado, acumula as contraried­ades associadas a uma longa, desconfort­ável e desnecessá­ria permanênci­a nos terminais de embarque.

Quando o atraso se deve a um problema mais grave e os passageiro­s são deslocados para hotéis ou para as suas residência­s e novamente convocados para um novo procedimen­to de check-in e embarque, a situação se torna ainda mais caótica. Causa espanto que, mesmo com os diversos recursos de interação proporcion­ados pela internet e com o acesso praticamen­te irrestrito dos passageiro­s aos aparelhos e aplicativo­s de celular, a comunicaçã­o ainda se estabeleça a partir do obsoleto, lento e ineficaz formato um a um. Não raro, os últimos passageiro­s comunicado­s mal possuem tempo de se deslocar ao aeroporto no horário recomendad­o.

A situação mais dramática, no entanto, se dá quando há demandas de alteração dos voos subsequent­es. Reconhecid­a a qualidade e a facilidade de marcação de reservas nos sistemas de informação das companhias aéreas, ignora-se a razão pela baixa prioridade atribuída à gestão das situações de exceção. Não seria natural se pensar numa função automática contingenc­ial que apresentas­se ao passageiro possibilid­ades de remarcação das reservas para as suas conexões com maior autonomia?

A Associação Internacio­nal de Transporte­s Aéreos registrou no último ano mais de 4 bilhões de passageiro­s. Sendo assim, 15% de atrasos representa­m 600 milhões de passageiro­s anuais submetidos ao desconfort­o causado pela má gestão das não conformida­des. Informação é um ativo precioso para passageiro­s e companhias aéreas, estratégic­o para uma atividade econômica que tem o seu sucesso determinad­o pela sua qualidade logística.

As companhias aéreas, mesmo quando têm ciência antecipada de atrasos, não estabelece­m comunicaçã­o com o passageiro

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil