Correio da Bahia

Praias do Recôncavo sem paz

Saubara Arrombamen­tos e disputa de facções expulsam veranistas de Cabuçu e Bom Jesus dos Pobres

- Bruno Wendel REPORTAGEM bruno.cardoso@redebahia.com.br

O ar bucólico das praias do Recôncavo, tão apreciado pelos nativos e veranistas, já não é o mesmo de antes. Faz cerca de três anos que os casos de arrombamen­tos em Saubara, Cabuçu e Bom Jesus dos Pobres vêm mudando drasticame­nte o cenário – os relatos dão conta de que nove casos acontecera­m em dois meses este ano. Só este ano, a Polícia Civil investiga 22 inquéritos sobre furtos em residência­s da região.

O CORREIO esteve em Saubara e constatou o reflexo dessas ações criminosas: inúmeros imóveis de alto padrão estão à venda entre Cabuçu e Bom Jesus dos Pobres. “Por onde se olha tem placas de ‘vende-se’. Isso nunca aconteceu. Antigament­e, para se comprar uma casa aqui era um sacrifício. Ninguém queria se desfazer porque era um local agradável de viver, de passar o final de semana com a família. Hoje, o que não falta é gente querendo sair daqui. Não tem segurança. É assalto a toda hora, as casas à beira da praia são arrombadas toda hora”, contou um morador de Cabuçu.

Além dos casos de arrombamen­to, um outro problema atormenta moradores e veranistas de Saubara: a rivalidade entre as facções Katiara e Bonde do Maluco, o BDM (leia mais ao lado). “Aqui quase não se vê revólver. Os caras andam de pistolas e metralhado­ras. Circulam de moto para cima e para baixo”, relatou um morador.

CABUÇU

A praia de Cabuçu, com águas apropriada­s para a prática de esportes náuticos, como windsurf e vela, além de uma bela visão da Baía de Todos-os-Santos, é conhecida popularmen­te como ‘Praia do Oi’. É a mais frequentad­a do município – geralmente por pessoas das cidades vizinhas e que se conhecem.

“Vem gente de tudo que é canto, mas a grande maioria é de Feira de Santana. E é isso o motivo de tudo. Junto com as pessoas de bem de lá vieram os criminosos também, que começaram a frequentar as praias inúmeras vezes, fazendo ‘festa do pó’. Grupos começaram a se estabelece­r”, relata o dono de um mercadinho no local.

Com a violência, vieram os arrombamen­tos. O CORREIO apurou com alguns donos de mansões à beira-mar que, entre junho e julho, pelo menos nove imóveis do tipo foram arrombados pelos criminosos – levaram tudo o que puderam carregar, como eletroelet­rônicos.

A situação mais recente aconteceu no dia 9 deste mês, quando bandidos invadiram a casa de um major aposentado da Polícia Militar. O imóvel fica próximo à entrada do bairro Riacho Doce. Nesse dia, outra casa também teve as portas abertas à força pelos bandidos.

“Eles usaram alguma coisa para ter acesso. Mexeram em tudo. Os donos ainda não prestaram queixa”, contou uma professora universitá­ria de Salvador, cuja família tem uma mansão em Cabuçu que foi arrombada e saqueada no dia 15 de junho, na Rua da Praia - um prejuízo de R$ 3,5 mil.

“A gente fica exposto. Essa época não tem policiamen­to no local. É um lugar que a gente tem para reunir a família duas vezes no ano – férias de São João e dezembro. Tenho esperança que as coisas vão melhorar, mas enquanto não houver segurança de fato não pensamos em voltar lá. É a inseguranç­a impedindo a gente de usufruir do nosso patrimônio”, declarou.

Segundo a Polícia Civil, operações conjuntas têm sido feitas na região e prisões ocorreram. As investigaç­ões concluíram, até o momento, que os arrombamen­tos têm como objetivo a troca e venda dos objetos para a compra de entorpecen­tes.

A maioria das mansões invadidas é ocupada pelos donos duas ou três vezes no ano. Boa parte deles têm caseiros, mas isso não impede a ação dos criminosos que ainda são audaciosos. “Em alguns casos, arrombaram com os caseiros, que nada podiam fazer. Em outro caso, chegaram a fazer uma festança que durou mais de um dia, com direito a banho de piscina, muita bebida e outras coisas”, contou a professora.

DELEGACIA FECHADA

Como não bastasse o prejuízo e o medo, a professora disse que, diante da dificuldad­e para registrar a queixa, quase desistiu de ir à delegacia de Saubara. “Na primeira tentativa, a delegacia estava fechada. Havia um cadeado. Eram 11h de um sábado. Bati e ninguém saiu. Pelo relato do povo de Saubara, é comum a delegacia ficar fechada, pois a unidade só tem dois únicos agentes e ficam vulnerávei­s à ação dos criminosos. O delegado quase não fica lá”, diz.

Segundo a Polícia Civil, o delegado Felipe Madureira

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