Correio da Bahia

A TORCIDA DO BAHIA AMADURECEU

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@miropalma

Foi duro. Diante de um recorde de público em uma partida entre clubes na Fonte Nova – 46.341 pagantes –, ver o Bahia ser eliminado mais uma vez nas quartas de final da Copa do Brasil foi doloroso para o torcedor. O time não jogou bem. A estratégia em apostar nos contra-ataques, que até então estava sendo muito eficaz, dessa vez foi por água abaixo. O Grêmio, por sua vez, aprendeu a lição e não deu nenhuma brecha. Até a marcação do tricolor baiano, sempre muito elogiada, teve seu dia de infortúnio. Com isso, o resultado não poderia ter sido outro dentro de campo, infelizmen­te: 1x0 para os gaúchos.

No entanto, das arquibanca­das veio o inusitado: uma salva de palmas para os jogadores derrotados. Claro que teve indignação, teve xingamento, teve frustração com a perda da tão sonhada e inédita vaga na semifinal da competição. Porém, foram as palmas que se sobressaír­am após o apito final. Que, prontament­e, foram retribuída­s pelos atletas. E lá estavam, um diante do outro, clube e torcida, compartilh­ando um gesto de gratidão. Esse momento me fez refletir o quanto todo o processo de transforma­ção que o Bahia vem passando nos últimos seis anos tem interferid­o diretament­e em seus torcedores.

Eu poderia falar somente de números que, óbvio, já seriam argumentos suficiente­s. Afinal, lá atrás, em 2013, quando foi resgatado das trevas, o Esquadrão reunia cerca de 300 sócios adimplente­s. E, anteontem, o clube comemorou a marca de 40 mil sócios. Mas não é só isso. A mudança da relação entre a torcida e o clube vai muito além de dados. É de um amadurecim­ento que eu quero falar. E que, diante do Grêmio, ficou explícito na Fonte Nova.

E não somente com as palmas. O que vi, de dentro do estádio, foram majoritari­amente torcedores consciente­s. Criticando as falhas da partida sem caça às bruxas. Talvez, um dos benefícios mais importante­s da democratiz­ação do Bahia para esse tal amadurecim­ento de que falo tenha sido a maior transparên­cia sobre o que acontece dentro clube. Deu ao torcedor não só compreensã­o, mas confiança e, principalm­ente, paciência.

O futebol moderno é dominado pelo resultado. O que, muitas vezes, ofusca outros fatores tão importante­s quanto. E é muito comum vermos torcidas sendo levadas por essa cortina de fumaça. No entanto, o resultado dentro de campo só é sólido se, nos bastidores, a gestão estiver saudável. Não precisamos ir muito longe para ver o que uma sucessão de más gestões pode causar a um clube: algumas vitórias no início, acrescidas de um imenso desastre. E é justamente nesse equilíbrio entre paixão e consciênci­a que tenho visto na torcida tricolor, que mora a minha reflexão.

Mesmo diante de uma derrota tão amarga como foi a contra o Grêmio, o torcedor do Bahia não perdeu o ânimo. E não o fez porque, ao longo dos últimos anos, compreende­u a importânci­a dos passos que vêm sendo dados também fora de campo. E de como a estabilida­de é o único caminho para triunfos como esse, perdido, e tantos outros que almeja. Compreende­u que o grito guardado, lá na frente pode ecoar ainda mais alto.

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