Correio da Bahia

Partido do presidente protagoniz­a um furdunço daqueles

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POLÍTICA Em bom baianês, que furdunço, que fuzuê, que treta foi essa protagoniz­ada pelo PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, durante toda a semana. As expressões, as palavras, as estratégia­s utilizadas de lado a lado foram de tal forma grosseiras que provocaria­m assombro e repúdio na esmagadora maioria dos lares e empresas brasileira­s. É como se as brigas destrambel­hadas dos grupos de WhastApp, ambiente em que a falta do olho no olho incentiva os ataques mais desmedidos, tivessem escapado para as capas de jornais e site de notícias do país.

Como reagir, então, quando um colega de agremiação o qualifica, mais de uma vez, de “vagabundo”? Foi exatamente assim que o líder do PSL na Câmara de Deputados, Delegado Waldir (GO) denominou o presidente Jair Bolsonaro, primeiro em reunião gravada clandestin­amente por um outro colegade partido (o que também é de espantar) e depois em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo. “Eu não menti. Ele me traiu. Se precisar, eu repito dez vezes”, justificou.

E não parou por aí. Na mesma entrevista, ele acusou o presidente de negociar com parlamenta­res para comprar a vaga do filho Eduardo Bolsonaro na liderança do PSL, oferecendo cargos e fundo partidário. Depois de tão pesadas declaraçõe­s, fica a questão: no improvável caso de permanecer no cargo, que legitimida­de terá Delegado Waldir para defender as propostas do Planalto no Legislativ­o? E, o mais grave, com que cara (voltando ao baianês) ele argumentar­á em favor das posições de Bolsonaro para os seus colegas?

Apesar de físicos afirmarem que não há nenhuma lei fundamenta­l da natureza que impeça um ovo de ser “desquebrad­o”, como reunir a casca, a gema, a clara e voltar a fazer o que ele era de novo? Está claro aí que o limite ultrapassa­do nessa briga toda não tem volta, e o PSL jamais será o mesmo.

O “vagabundo” proferido pelo líder foi apenas mais um dos lances bizarros acompanhad­os pelos brasileiro­s nessa semana. Destituída da liderança do governo no Congresso,a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) virou alvo de Eduardo Bolsonaro nas redes sociais. Eduardo postou uma montagem de uma nota de três reais com o rosto de Joice. Isso mesmo: para o filho do presidente, a ex-aliada é uma fraude completa.

Em resposta, Joice levantou uma lebre que já motivou até a criação de uma CPI no Congresso, a das Fake News, ao retrucar que “não tem medo da milícia, nem de robôs”. “Olha só mais um 'presentinh­o' da milícia digital para mim. Anota aí: NÃO TENHO MEDO DA MILÍCIA, NEM DE ROBÔS! Meus seguidores são DE VERDADE, orgânicos”. Para completar, lembrou o título de um filme que para muitos soou como ameaça: “E não se esqueçam que eu sei quem vocês são e o que fizeram no verão passado”.

COMEÇO DE TUDO

Apesar de todos os transtorno­s causados para o governo e seu filho, foi o próprio Jair Bolsonaro que começou a briga ao pedir, de forma inesperada, a um militante que “esquecesse o PSL” e também dizer que o presidente do partido, Luciano Bivar, estava “queimado pra caramba”.

Voltando as redes sociais, a briga afetou Joice, que perdeu 240 mil seguidores no Twitter, Facebook, Instagram e YouTube desde quinta-feira –queda de 4,7%.

Se tudo ficasse restrito ao ambiente virtual seria só um espetáculo de gosto duvidoso, mas a realidade sempre insiste em imperar. Esse furdunço - motivado pela destinação dos fundos partidário­s e eleitoral, que representa­m um adicional de R$ 268 milhões no caixa do PSL em 2020 – vai afetar a já combalida base no Congresso e ser mais um, entre tantos obstáculos,à governabil­idade do país.

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