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A história da caridade se mistura com a de uma busca por justiça. Foi por não se conformar com a fome, a pobreza, a miséria que a Santa Dulce dos Pobres, quando ainda era uma freira, dedicou sua vida aos mais pobres. É esse ideal, representado na imagem da santa que carrega nos braços uma criança, que move, hoje, ‘outras Dulces’.
“Você pode pensar a caridade como um ato misericordioso e como estilo de vida, de visão de mundo. Podemos olhar como resposta a uma sociedade injusta. Quem olha para os pobres? Nesse sentido, a caridade até extrapola a religião”, afirma o teólogo e professor Antônio Carlos de Melo Magalhães.
No caso do estudante de Direito Victor Rodrigues, 23 anos, extrapolou mesmo. Desde a infância, ver o abandono de outras crianças, como ele, causava até dor física. A caridade voltada para os pequenos começou já na adolescência. Agora, o novo projeto de Victor é um abrigo que funcionará na Federação, em Salvador. A Casa Santa Dulce dos Pobres será a primeira a receber o nome da santa baiana.
Hoje, Victor participará do evento na Arena Fonte Nova em comemoração à canonização, para o qual são esperadas 55 mil pessoas de todo o país. Santa Dulce é o próprio exemplo de que fazer o bem vale a pena: “Ela, uma freira pequenininha, frágil, é a prova de que não existe isso de ‘eu não posso fazer nada’”, afirma Victor, que nos recebeu na área que será transformada em espaço de convivência para as 35 pessoas, futuramente atendidas no abrigo.
E ele está seguindo os conselhos da própria Dulce: “O importante é fazer caridade, não falar de caridade. Compreender o trabalho em favor dos necessitados como missão escolhida por Deus”.
A Casa começou a ser pensada no final do ano passado. Em julho, Victor, coordenador do Obra Lumen - comunidade católica de evangelização fundada em 1989 -, e os voluntários do projeto assumiram as contas do espaço. O grupo de filiação católica já coordena outra casa de atendimento, na Avenida Vasco da Gama. As duas são dependentes de doações para o funcionámento.
O BEM EM NÚMEROS
Doações que também fazem andar o trabalho de caridade de Santa Dulce, que começou num galinheiro. O espaço na Avenida Dendezeiros, na Cidade Baixa, se transformou no Hospital Santo Antônio e dali nas Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), que só no ano passado, fez 3,5 milhões de atendimentos ambulatoriais de graça.
As obras de Santa Dulce não se resumem ao trabalho em Salvador. A criança que a santa carrega nos braços, na imagem oficial após a canonização, pode ser relacionada ao Menino Jesus. No entanto, também nos remete imediatamente às que foram ajudadas por ela, por exemplo, no Centro Educacional Santo Antônio (Cesa), em Simões Filho.
A unidade foi fundada em 1964 e nasceu como um orfanato. Em 1994, tornou-se uma escola de tempo integral. Hoje, junto com Estado e Município, atende a 787 crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade.
TRAJETÓRIAS DE VIDA
Não foi só a Santa Dulce que se dedicou às crianças e as histórias de quem devota sua vida ao próximo costumam começar cedo, como a de Victor. Além dessa, nas próximas páginas, você conhecerá as trajetórias de Irmã Violeta e de Estelita Candeias Fonseca, a Ester.
A primeira abriu as portas de casa para receber crianças, mulheres e homens que precisam desde alimento a um teto para descansar longe dos perigos das ruas. A segunda, aos 45 anos, mantém um asilo em Lauro de Freitas há uma década - e tudo começou com uma promessa feita a Irmã Dulce e ao Papa João Paulo II, em 1990.
Há quem diga que fazer caridade é bom para a saúde, explica o psicólogo Adriano Cysneiros. “Quem de nós ousaria dizer que o amor não faz bem, não é verdade? Os estudos mostram que a prática ou o exercício da caridade reduz os níveis de estresse”, garante.
No escritório do asilo fundado há uma década, Ester nos diz que monitora todos os aposentos, e mostra as câmaras do circuito interno, na sede atual, em Lauro de Freitas.
Para ela, o sistema de vigilância é um modo de estar presente em cada canto da casa. Nas pequenas telinhas, acompanhamos as atividades rotineiras de quem trabalha com ela: a limpeza, a preparação para o banho.
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