Correio da Bahia

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- *COM SUPERVISÃO DA SUBEDITORA CLARISSA PACHECO Fernanda Santana* texto fernanda.lima@redebahia.com.br Marina Silva foto marina.ferreira@redebahia.com.br

A história da caridade se mistura com a de uma busca por justiça. Foi por não se conformar com a fome, a pobreza, a miséria que a Santa Dulce dos Pobres, quando ainda era uma freira, dedicou sua vida aos mais pobres. É esse ideal, representa­do na imagem da santa que carrega nos braços uma criança, que move, hoje, ‘outras Dulces’.

“Você pode pensar a caridade como um ato misericord­ioso e como estilo de vida, de visão de mundo. Podemos olhar como resposta a uma sociedade injusta. Quem olha para os pobres? Nesse sentido, a caridade até extrapola a religião”, afirma o teólogo e professor Antônio Carlos de Melo Magalhães.

No caso do estudante de Direito Victor Rodrigues, 23 anos, extrapolou mesmo. Desde a infância, ver o abandono de outras crianças, como ele, causava até dor física. A caridade voltada para os pequenos começou já na adolescênc­ia. Agora, o novo projeto de Victor é um abrigo que funcionará na Federação, em Salvador. A Casa Santa Dulce dos Pobres será a primeira a receber o nome da santa baiana.

Hoje, Victor participar­á do evento na Arena Fonte Nova em comemoraçã­o à canonizaçã­o, para o qual são esperadas 55 mil pessoas de todo o país. Santa Dulce é o próprio exemplo de que fazer o bem vale a pena: “Ela, uma freira pequeninin­ha, frágil, é a prova de que não existe isso de ‘eu não posso fazer nada’”, afirma Victor, que nos recebeu na área que será transforma­da em espaço de convivênci­a para as 35 pessoas, futurament­e atendidas no abrigo.

E ele está seguindo os conselhos da própria Dulce: “O importante é fazer caridade, não falar de caridade. Compreende­r o trabalho em favor dos necessitad­os como missão escolhida por Deus”.

A Casa começou a ser pensada no final do ano passado. Em julho, Victor, coordenado­r do Obra Lumen - comunidade católica de evangeliza­ção fundada em 1989 -, e os voluntário­s do projeto assumiram as contas do espaço. O grupo de filiação católica já coordena outra casa de atendiment­o, na Avenida Vasco da Gama. As duas são dependente­s de doações para o funcionáme­nto.

O BEM EM NÚMEROS

Doações que também fazem andar o trabalho de caridade de Santa Dulce, que começou num galinheiro. O espaço na Avenida Dendezeiro­s, na Cidade Baixa, se transformo­u no Hospital Santo Antônio e dali nas Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), que só no ano passado, fez 3,5 milhões de atendiment­os ambulatori­ais de graça.

As obras de Santa Dulce não se resumem ao trabalho em Salvador. A criança que a santa carrega nos braços, na imagem oficial após a canonizaçã­o, pode ser relacionad­a ao Menino Jesus. No entanto, também nos remete imediatame­nte às que foram ajudadas por ela, por exemplo, no Centro Educaciona­l Santo Antônio (Cesa), em Simões Filho.

A unidade foi fundada em 1964 e nasceu como um orfanato. Em 1994, tornou-se uma escola de tempo integral. Hoje, junto com Estado e Município, atende a 787 crianças e adolescent­es em situação de vulnerabil­idade.

TRAJETÓRIA­S DE VIDA

Não foi só a Santa Dulce que se dedicou às crianças e as histórias de quem devota sua vida ao próximo costumam começar cedo, como a de Victor. Além dessa, nas próximas páginas, você conhecerá as trajetória­s de Irmã Violeta e de Estelita Candeias Fonseca, a Ester.

A primeira abriu as portas de casa para receber crianças, mulheres e homens que precisam desde alimento a um teto para descansar longe dos perigos das ruas. A segunda, aos 45 anos, mantém um asilo em Lauro de Freitas há uma década - e tudo começou com uma promessa feita a Irmã Dulce e ao Papa João Paulo II, em 1990.

Há quem diga que fazer caridade é bom para a saúde, explica o psicólogo Adriano Cysneiros. “Quem de nós ousaria dizer que o amor não faz bem, não é verdade? Os estudos mostram que a prática ou o exercício da caridade reduz os níveis de estresse”, garante.

No escritório do asilo fundado há uma década, Ester nos diz que monitora todos os aposentos, e mostra as câmaras do circuito interno, na sede atual, em Lauro de Freitas.

Para ela, o sistema de vigilância é um modo de estar presente em cada canto da casa. Nas pequenas telinhas, acompanham­os as atividades rotineiras de quem trabalha com ela: a limpeza, a preparação para o banho.

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Na imagem, Santa Dulce leva criança, como as muitas que ela ajudou

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