Correio da Bahia

ABAIXOASSI­NADO PARA FECHAR CASA NÃO TEVE ASSINATURA­S

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Na antessala da casa, uma planta desponta na parede. A mãe havia pedido que Violeta jogasse fora o pé de rosa graxa, pois já estava morto. A religiosa, então, arranhou a unha no pedúnculo e descobriu o verde embaixo do que parecia sem vida. “Tinha vida naquilo ali. Onde há vida, eu não posso desprezar”, diz. Acima da planta, cuidada até retomar o cresciment­o, Irmã Violeta decidiu pregar um aviso: “Nenhuma vida se pode jogar fora”.

Por isso, todos são bem-vindos e ninguém define o que, de fato, é a casa de Irmã Violeta: “Essa casa é uma provocação. Eu posso viver uma vida medíocre ou posso viver amando muito. E eu vou ser gulosa”, diz. No terceiro andar do casarão, Irmã Violeta recebe mãe e filha e dois estudantes que pediram amparo, sem ter para onde ir.

A circulação de pessoas pobres, em situação de rua e dependente­s químicos começou a dividir opiniões. Uma vizinha chegou a iniciar um abaixo assinado para impedir o funcioname­nto da casa, ameaçou processá-la. Ninguém assinou, nem houve processo. “Eles sabem que é importante”, acredita. Desde o início da vida de abnegação, precisou aprender a arregalar os olhos e ser rígida, se necessário.

Na última segunda (14), saía de uma missa da Igreja do Bonfim, quando encontrou um idoso, desorienta­do, próximo à Colina Sagrada. Dois dias depois, a família conseguiu reencontra­r Venceslau Rodrigues, 77, que tinha ido ao barbeiro e esqueceu como voltava. “Nunca esquecerei do que a senhora fez por ele”, agradeceu a esposa, Sonia Rita, 55. As duas se abraçaram. Irmã Violeta, com um sorriso emocionado.

A rotina só é interrompi­da por missas e compromiss­os religiosos fora da casa. Há cinco anos, Irmã Violeta dá palestras sobre sexualidad­e no casamento, numa paróquia na Estrada Velha do Aeroporto. Do passado como professora de inglês, restaram as aulas que ainda dá no Seminário em Salvador, para jovens futuros padres. Mas, a principal função é proporcion­ar aos mais necessitad­os o que ela acredita ser “um oásis onde eles encontram uma mãe”. Não há nada que segure, novamente, a força do amor represado durante anos.

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