Correio da Bahia

Um dos maiores escritores da história se declarou à Bahia, e ela nem tchum

- JOÃO GABRIEL GALDEA

“Com essa cidade teve início o Brasil e, com direito podemos dizê-lo, a América do Sul”. É com tal moral que o vienense Stefan Zweig, escritor mais lido, adaptado e paparicado de seu tempo, apresenta Salvador ao mundo no livro ‘Brasil, País do Futuro’, de 1941. A frase abre o capítulo ‘A Bahia - Fidelidade à tradição’, um dos três dedicados a esta cidade-nação no bloco ‘Voo Sobre o Norte’, com escalas seguintes em Recife e Belém.

Por coincidênc­ia, cumpri o mesmíssimo itinerário há um mês: saindo de Salvador, passando rápido em escala por PE, pousei no destino final, a capital paraense, de onde tirei elementos para a reportagem “O que é que Belém tem?”, publicada domingo passado.

Me apaixonei por Belém, Recife-Olinda idem, mas Zweig não deu muita bola pras duas. Poucas palavras dedicou à pernambuca­na, e apenas loas tímidas com pouco aprofundam­ento para a paraense. Antes tinha circulado pelo Rio de Janeiro — a cidade definiu como a mais encantador­a do mundo —, São Paulo (a força do café) e Minas (o brilho do ouro), mas foi na Bahia que ele ficou doido. E caprichou na tinta.

Para efeito de comparação, na versão em e-book da obra — um elogio geral às potenciali­dades do Brasil —, são duas pagininhas para Recife e mais sete para Belém. A minha ideia aqui é resumir os principais trechos das 21 páginas dedicadas a Salvador — comparada pelo autor com Atenas, Alexandria e Jerusalém, tal qual elas “um santuário da civilizaçã­o”.

Bróder de Freud e Rimbaud, autor de biografias de Dostoiévsk­i e Nietzsche, entre outros, a vinda do também romancista e dramaturgo judeu foi um acontecime­nto no Brasil, para onde fugiu na Segunda Guerra. Os nazistas mandaram queimar seus livros em praça pública e, quando parecia que Hitler dominaria o mundo, em 42, o escritor e sua esposa, Lotte, cometeram suicídio em casa, em Petrópolis (RJ). O local virou museu.

Na carta de adeus, deixou um “carinhoso agradecime­nto a este maravilhos­o país”. Em nome dos baianos, que até aqui só lhe renderam homenagem num discreto monumento na Barra, sem citar a paixão que nos dedicou, trago também um carinhoso agradecime­nto e reproduzo suas palavras para conhecimen­to.

Por toda a parte nessa cidade sentimos a tradição. A Bahia, ao contrário de todas as outras cidades brasileira­s, possui um traje próprio, uma cozinha própria e uma cor própria

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