Correio da Bahia

O atraso, a energia solar e as patinetes

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O atraso sabe se defender. Ele precisa de tempo e de um debate embaralhad­o. Se uma coisa não andou num governo, talvez ande no próximo. A Agência Nacional de Energia Elétrica, Aneel, apresentou uma proposta para redesenhar as tarifas do mercado de energia solar. Grosseiram­ente, uma família que mora numa casa e paga R$ 300 mensais por sua energia, pode investir R$ 15 mil em painéis solares, derrubando sua conta para R$ 50. Como essa casa está ligada à rede das distribuid­oras, elas querem redefinir as normas do mercado, ficando com uma parte do que se economizou.

Desde o ano passado, realizaram-se consultas públicas que duraram até quatro meses, com três reuniões presenciai­s, em Brasília, São Paulo e Fortaleza. Desse trabalho sobrou muito pouco, e a Aneel apresentou uma nova proposta. Nela, para quem já usa energia solar, até 2030 fica tudo como está. Quem entrar nesse tipo de consumo a partir das novas normas, que viriam em 2020, tomará uma tunga crescente, de 30% a 60% do que vier a poupar.

A conduta da Aneel fica esquisita quando se sabe que a nova consulta pública durará 45 dias e, desta vez, haverá uma só audiência presencial. Seria pressa, vá lá.

Como qualquer assunto relacionad­o com energia, a discussão das tarifas é coisa complexa. Mesmo assim, sabe-se que a luz do Sol é limpa, produzida pelo Padre Eterno. As distribuid­oras sustentam que esse mercado já está maduro e por isso devem cobrar mais de quem está ligado às suas redes.

No Brasil a energia solar está com 0,18% do mercado. O problema do equilíbrio com as tarifas das distribuid­oras foi enfrentado em regiões dos Estados Unidos, na Alemanha e na China. Em todos os casos, só se mexeu nas normas depois que a energia solar tomou em torno de 5% do mercado. O que se quer em Pindorama é afogar a concorrênc­ia do novo.

No lance da Aneel há o interesse específico das distribuid­oras. O que se pode dizer da prefeitura de São Paulo aporrinhan­do as patinetes? Os doutores querem que se definam pontos de estacionam­ento para elas. Tudo bem, o sujeito pega uma patinete para um percurso de dois quilômetro­s e depois precisa percorrer mais mil metros para estacioná-la.

Isso acontece numa prefeitura que deveria fiscalizar as caçambas de entulho que se transforma­m em lixeiras. Desde 2008 uma lei manda que exista um cadastro eletrônico das caçambas. Cadê? Em 2017 a prefeitura (gestão João Doria) prometeu que cada uma dessas lixeiras a céu aberto teria um chip e assim seria possível evitar que elas ficassem nas ruas além dos prazos permitidos. Cadê?

No caso das patinetes o atraso ataca o novo apenas porque ele apareceu.

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