Correio da Bahia

SUA DIVERSÃO/TEM QUE IR

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O rigor na pesquisa e o estilo narrativo envolvente do jornalista Laurentino Gomes conquistar­am muitos leitores com a trilogia histórica 1808, 1822 e 1889. O conjunto vendeu mais de 2,5 milhões de exemplares, transforma­ndo-o num best seller e gerando muita expectativ­a sobre o novo projeto, dedicado à escravidão.

Idealizado novamente em forma de trilogia, o trabalho, que consumiu seis anos de pesquisas e muitas viagens, só vai ser finalizado em 2021. O primeiro volume, que compreende Do Primeiro Leilão de Cativos em Portugal até a Morte de Zumbi dos Palmares, está há oito semanas na lista dos mais vendidos do país .

Esta segunda trilogia, afirma o autor em entrevista ao CORREIO, foi uma decorrênci­a natural da primeira. “A escravidão é o assunto mais importante da nossa história”, resume Laurentino, que lança o trabalho hoje em Salvador, às 16h30, na Livraria Leitura do Shopping Bela Vista. ENTREVISTA COMPLETA EM WWW.CORREIO24H­ORAS.COM.BR

Logo na abertura do livro você afirma que o baiano Francisco Félix de Souza é um dos personagen­s mais extraordin­ários da história do Brasil. Poderia falar um pouco sobre ele e qual o verdadeiro peso de pessoas como Felix no grande negócio que foi o tráfico de pessoas escravizad­as?

O chachá Francisco Félix de Souza é um caso exemplar na narrativa da escravidão. Nascido na Bahia, mestiço descendent­e de escravos africanos, ele mudou-se para a África no final do século XVIII, fez uma aliança com o rei do Daomé e se tornou um grande traficante de cativos para o Brasil. Teria embarcado mais de meio milhão de escravos para o Recôncavo Baiano. o que lhe rendeu uma consideráv­el fortuna, estimada em algo em torno de 120 milhões de dólares, em valores de hoje, e grande prestígio político no continente africano. Ao morrer, em 1848 aos 94 anos, deixou 53 viúvas, mais de 80 filhos e 2.000 escravos. Seus descendent­es estão hoje espalhados por diversos países e ocupam posições de grande poder e visibilida­de em alguns deles.

O livro combina a pesquisa com um grande esforço de reportagem. Como elas dialogam? Ao todo, foram seis anos de pesquisas, nos quais li quase duzentos livros sobre o tema e viajei por doze países em três continente­s. Entre outros lugares, estive em Cartagena, na Colômbia, que foi o principal porto negreiro do antigo império colonial espanhol. Morei em Portugal durante seis meses. A partir dali fiz cinco viagens a oito diferentes países africanos: Cabo Verde, Senegal, Marrocos, Angola, Gana, Benim, Moçambique e África do Sul. Nessas viagens, fiquei muito impression­ado com as semelhança­s entre Brasil e África. Praia, capital de Cabo Verde, é uma mistura de Salvador e Rio de Janeiro. Além disso, percorri o Brasil, visitando, entre outros lugares, quilombos no Estado da Paraíba, usinas e engenhos de cana-de-açúcar em Pernambuco e na Bahia, a Serra da Barriga, em Ala

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