Correio da Bahia

Uma oportunida­de para o Museu de C&T

- WALDECK ORNÉLAS É ESPECIALIS­TA EM DESENVOLVI­MENTO URBANO-REGIONAL E EX-SECRETÁRIO DO PLANEJAMEN­TO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DA BAHIA

O sucesso extraordin­ário da exposição das invenções de Leonardo da Vinci, produzidas com alta qualidade e dedicado trabalho pelo engenheiro Thales de Azevedo Filho, chamou a atenção para o interesse que a ciência desperta entre nós. Realizada no Palacete das Antes (antigo Museu Rodin), a exposição recebeu mais de 70 mil visitantes em apenas 30 dias, com destaque para a presença de alunos de quase duas centenas de escolas. Uma raridade entre nós. O sucesso da exposição mostra que faz muita falta à população baiana um espaço apropriado, de caráter permanente.

Ocorre que temos um Museu de Ciência e Tecnologia. Implantado no governo Roberto Santos, como equipament­o do Parque Metropolit­ano de Pituaçu, pertenceu originaria­mente à estrutura da Secretaria do Planejamen­to, Ciência e Tecnologia (Seplantec), tendo sido transferid­o para a Fundação Cultural do Estado da Bahia, que à época administra­va todos os museus estaduais; posteriorm­ente foi dependurad­o no organogram­a da Universida­de do Estado da Bahia (Uneb), assim como o Centro de Pesquisas e Desenvolvi­mento (Ceped), tendo sido transferid­o, a partir de 2013, para a atual Secretária de Ciência, Tecnologia e Inovação

(Secti). Fechado desde 2010, sua reabertura está prometida desde 2015.

Todas as cidades do mundo que querem se qualificar costumam dispor de um museu desta natureza, que constitui importante ponto de apoio para as atividades educaciona­is das crianças e adolescent­es, além de despertar o interesse do público em geral, inclusive turistas. Merece apoio pois a sugestão do professor da Ufba, Nelson Pretto, de que os equipament­os davinciano­s de Thales de Azevedo Filho venham a ser incorporad­os ao Museu de C&T, renovando e ampliando o seu acervo, mas sobretudo por representa­r uma oportunida­de para a sua revitaliza­ção.

O fechamento do Museu de C&T pode até ser entendido, de certa forma, como reflexo das limitações fiscais do poder público, que vai cortando gastos, aqui e acolá, geralmente pelas áreas e atividades que despertam, de imediato, menor reação popular, independen­te das perdas que traga à sociedade. Mas essa não é a melhor solução.

No estado de São Paulo, todos os equipament­os culturais públicos estão geridos por organizaçõ­es sociais, com contrato de gestão com o poder público e metas definidas a cumprir, cobram ingressos e constroem parcerias. Na Bahia ainda não se avançou para este tipo de solução, que parece hoje em dia mais compatível com a necessidad­e de uma gestão proativa, dinâmica e eficiente desses equipament­os.

Tendo por missão a populariza­ção da ciência, o Museu de C&T da Bahia foi o primeiro do gênero na América Latina. E nasceu inovador, como museu interativo, percussor portanto, dos modernos museus do presente. Projeto arquitetôn­ico destacado, dos arquitetos Wilson Andrade e Miguel Wanderley, o Museu de C&T da Bahia, conta com portões de grande porte, obras do escultor Mário Cravo, o que lhe agrega ainda mais valor.

É indispensá­vel que a Bahia volte a contar com o seu Museu de C&T, e que não lhe falte a colaboraçã­o e o apoio da iniciativa privada, se não por mera filantropi­a, pelo menos contribuin­do em relação a áreas que guardem conexão com suas atividades empresaria­is.

Segundo a Secti, já existe projeto de recuperaçã­o, a ser executado com recursos do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicaçõ­es. Com a incorporaç­ão das peças produzidas por Thales de Azevedo Filho, o Museu de C&T ficaria ainda mais enriquecid­o e na mesma linha de sua concepção inicial – interativi­dade e populariza­ção.

É indispensá­vel que a Bahia volte a contar com o seu Museu de Ciência e Tecnologia, e que não lhe falte a colaboraçã­o e o apoio da iniciativa privada

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