Correio da Bahia

REPRESENTA­ÇÃO INCOMPLETA

- *SOB SUPERVISÃO DA CHEFE DE REPORTAGEM PERLA RIBEIRO

Uma das esculturas de orixás que ornamentam o Dique do Tororó, no bairro de Nazaré, apareceu sem um dos braços. O CORREIO esteve no local ontem (21) e constatou que a estátua que representa Oxumaré estava sem o membro esquerdo. Moradores da região do Dique suspeitam de ato de vandalismo.

Segundo o babalorixá Pecê de Oxumaré, da Casa de Oxumaré, na Federação, o terreiro teve conhecimen­to do caso há 20 dias, por meio de uma filha da casa que costuma correr ao redor do Dique do Tororó. “Ela viu, tirou foto e ficou triste, perguntou se podíamos fazer algo. Ali, além de ser uma obra de arte, é uma representa­ção para a gente”, disse pai Pecê.

O terreiro informou que desde então vem buscando representa­ntes públicos para entender quem é responsáve­l pela área. Ainda conforme o babalorixá, eles pediram a filhos da casa que notificass­em secretaria­s do estado e do município para que a obra fosse reconstitu­ída. A responsabi­lidade do Dique do Tororó é da Companhia de Desenvolvi­mento Urbano do Estado da Bahia (Conder).

“A gente não sabe se foi vandalismo ou se foi ação do tempo. Mas temos visto muita intolerânc­ia acontecer, com os monumentos e também com a nossa casa, que sofreu um ataque recente”, lembrou pai Pecê. No final de 2018, a fachada do terreiro foi pichada.

Procurada, a Conder informou, em nota, que o ato teria acontecido na madrugada de ontem. O órgão disse que trabalha com forte suspeita de que atos de vandalismo tenham provocado danos à obra e ressaltou, ainda, que as providênci­as visando a recuperaçã­o da escultura estão sendo estudadas.

‘COISA DE VÂNDALO’

De acordo com o mecânico Carlos Silva, que vive nas imediações do Dique, o braço da escultura desaparece­u há cerca de 15 dias. Para ele, é possível que tenha sido ato de vandalismo por intolerânc­ia religiosa ou má fé.

"Isso é coisa de vândalo. Talvez por não gostar da religião ou só por querer acabar com tudo mesmo. Eles tiram de propósito, para danificar o equipament­o. Já tem uns 15 dias que está dessa forma e ninguém toma uma providênci­a", disse Silva.

No local, Oscar Batista, que é restaurado­r e soube do ocorrido, foi inspeciona­r, por conta própria, a condição das demais estátuas. Segundo ele, os equipament­os não recebem manutenção há um certo tempo.

Oscar explica ainda que possivelme­nte a ideia de quem tenha vandalizad­o o equipament­o não era vender, apenas destruir, já que o material, de fibra de vidro, não vale muito. "Não tem outra explicação, é vandalismo. Eles fazem isso para vender o material, mas por um preço mínimo. Um braço desses pesa no mínimo uns oito quilos e eles vendem por quase nada", explicou.

Com uma lagoa de 110 mil

A gente não sabe se foi vandalismo ou se foi ação do tempo. Mas temos visto muita intolerânc­ia acontecer, com os monumentos e também com a nossa casa, que sofreu um ataque recente Pai Pecê

Eles fazem isso para vender o material, mas por um preço mínimo. Um braço desses pesa no mínimo uns oito quilos e eles vendem por quase nada Oscar Batista

metros quadrados, o Dique do Tororó é o único manancial natural de Salvador tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). As doze esculturas que embelezam o manancial são de autoria do artista plástico baiano Tatti Moreno.

OUTRAS DEPREDAÇÕE­S

O monumento em homenagem à Mãe Stella de Oxóssi também foi alvo de depredação. A estátua teve a base pichada em setembro deste ano. A imagem fica próxima à avenida que leva o nome da líder religiosa, no acesso da Avenida Paralela ao bairro de Stella Maris. À época, a gestão municipal informou que são gastos R$ 45 mil mensais com reparos de praças, academias de saúde, espaços de lazer e monumentos que são alvos de vândalos.

No mês passado, o monumento ao Dois de Julho, na praça do Campo Grande, foi entregue todo restaurado após sofrer uma série de atos de depredação. A escultura de 25 metros chegou a ter 300 Kg de bronze roubados. Após seis meses de um trabalho de 15 restaurado­res e um gasto de R$ 829 mil, em recursos municipais, o monumento foi reinaugura­do.

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MARINA SILVA Obra de Tathi Moreno, estátua de Oxumaré perdeu um dos braços

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