Correio da Bahia

PERIGO NA ESTRADA

Dois trechos em rodovias baianas estão entre os dez piores do Brasil

- Mário Bittencour­t REPORTAGEM mario.bittencour­t@redebahia.com.br

Uma pesquisa divulgada ontem pela Confederaç­ão Nacional dos Transporte­s (CNT) aponta que a Bahia possui dois trechos de rodovias (estaduais e federais) entre as dez piores do Brasil.

Esses dois trechos estão no oeste baiano, uma das principais áreas de produção agrícola do país, com destaque para soja, milho e algodão.

Um deles, velho conhecido da Pesquisa CNT de Rodovias, fica entre Natividade (TO) e Barreiras (BA). As duas cidades são ligadas por meio da BA-060, BR-242 (na Bahia), TO-040 e TO-280. O outro trecho, na mesma região, é entre Ibotirama (BA) e Curvelo (MG), e que passa pelas BAs 030 e 160, BR-122 (Bahia e Minas) e BR-135 e MG-122.

Saindo de Ibotirama para chegar até a BR-122, são 140 km de buracos pela BA-160. A pista é conhecida como “rodovia da romaria”, pois muitos romeiros passam por ela na época dos festejos em Bom Jesus da Lapa.

Dono de uma oficina à beira da rodovia, Cardoso Barreto, 40 anos, diz que quase não está aceitando serviços de guincho. “A estrada está muito ruim para ir buscar carro quebrado. Quase não se vê mais asfalto, é só chão de terra. Um trecho que antes era feito em três horas, hoje, a gente passa mais de quatro horas rodando”, reclama.

Situação parecida ocorre entre Barreiras e Natividade. O trecho de 360 km que separa essas duas cidades é bem conhecido pelo empresário Antônio Batista, 48, dono de um restaurant­e e lanchonete no povoado de Placas, pertencent­e a Barreiras. “Fizeram uma operação tapa-buraco recentemen­te, mas ainda tem um trecho de 8 km, daqui de Placas até a divisa com Tocantins, que está sem asfalto e tem muito buraco”, afirma ele.

PROBLEMAS

A Pesquisa CNT de Rodovias avalia toda a malha federal pavimentad­a e os principais trechos estaduais também pavimentad­os. Neste ano, foram analisados 8.995 km na Bahia. No geral, 57,5% da malha rodoviária pavimentad­a da Bahia apresentam algum tipo de problema, sendo considerad­a regular, ruim ou péssima. Segundo a CNT, 42,5% da malha são considerad­os ótimos ou bons.

O estudo aponta que o pavimento das rodovias baianas apresenta problemas em 46,7% da extensão avaliada, e 53,3% têm condição satisfatór­ia. Em 0,3%, o pavimento está totalmente destruído. Com relação à sinalizaçã­o, 52,3% da extensão são considerad­os regulares, ruins ou péssimos, e 47,7%, ótimos ou bons. A faixa central é inexistent­e em 4% da extensão e as faixas laterais são inexistent­es em 11,2%.

A geometria das vias, de forma geral, foi avaliada como deficitári­a em 83,8% da extensão e 16,2% como ótimos ou bons. As pistas simples predominam em 96%.

Há ainda, conforme a pesquisa, falta de acostament­o em 38,1% dos trechos avaliados. Nos trechos com curvas perigosas, em 55,7% não há acostament­o nem defensa.

Foram identifica­dos na pesquisa 28 pontos críticos na Bahia, sendo 10 erosões na pista e 18 trechos com buracos grandes. Todos esses problemas fazem com que haja um aumento do custo operaciona­l do transporte de 23,2%, e isso reflete na competitiv­idade do Brasil e no preço dos produtos, na avaliação da CNT.

Para recuperar as rodovias na Bahia, são necessário­s R$ 2,10 bilhões, segundo a avaliação da CNT. Em 2019, do total de recursos autorizado­s pelo governo federal para infraestru­tura rodoviária na Bahia (R$ 436,60 milhões), foram investidos R$ 330,39 milhões até setembro (75,7%), informou a pesquisa. O governo baiano diz que, nos últimos cinco anos, investiu R$ 1,5 bilhão (veja ao lado).

O Departamen­to Nacional de Infraestru­tura de Trânsito (Dnit) informou que “em função da situação econômica do país, o orçamento aprovado para manutenção das rodovias em 2019 foi de R$ 3,3 bilhões, metade do necessário à demanda identifica­da pelo órgão (cerca de R$ 6,2 bilhões por ano)”. Para 2020, está mantida a previsão de R$ 3 bilhões para ações de manutenção e restauraçã­o de rodovias. O órgão disse ainda que procura otimizar os recursos disponívei­s.

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