Vencedor do ‘Oscar’ das HQS na Flica
Pouco mais de um mês depois das histórias em quadrinhos (HQs) ganharem os holofotes da Bienal do Livro, no Rio de Janeiro, a Flica convida seu público a participar de um novo debate em torno do gênero literário popular entre adultos e crianças. Quer que Desenhe? Perspectivas Negras nos Quadrinhos é o nome da mesa que acontece no sábado, às 17h, com participação de dois quadrinistas: o baiano Hugo Canuto e o paulista Marcelo D’Salete, vencedor do prêmio Eisner (o “Oscar” dos quadrinhos).
No encontro, os autores conversam sobre os quadrinhos no século XXI como expressão das culturas urbanas, em interação com as tradições e como um processo de ressignificação e representatividade do povo negro. De um lado, os quadrinhos de Hugo são inspirados na mitologia iorubá e têm como heróis as divindades africanas. Do outro, Marcelo tratra de temas urbanos e tem dois livros sobre a escravidão no Brasil colonial.
“É necessário a gente revisitar esse momento, porque falar de escravidão ainda é algo um tanto quanto tabu, dentro da nossa sociedade”, justifica Marcelo. Para escrever seus livros mais recentes, Angola Janga: Uma História de Palmares, publicado em 2017, e Cumbe, vencedor do Eisner 2018, o autor fez onze anos de pesquisa. Foram cerca de cinco anos “só de leitura e compreensão daquele período” e mais outros seis para finalização dos desenhos.
“Esse cuidado foi necessário para tentar abordar o tema a partir de outras perspectivas. Outros autores já haviam feito narrativas sobre Palmares e eu pensei que poderia fazer uma contribuição a esse importante momento da nossa história. E não somente de uma história negra no Brasil, mas como parte da história brasileira”, explica o autor que descobriu a perspectiva negra da história na adolescência, por meio do rap.
A partir das críticas sociais que encontrava nas letras, passou a refletir sobre questões que são fortes até hoje, como o racismo e a violência policial. “Existe uma verdadeira sistemática de opressão, exclusão, violência e morte. Isso recai, grande parte das vezes, em corpos negros e periféricos”, pontua Marcelo.
Na Flica, o autor vai falar sobre suas obras e os contextos em que surgiram, assim como a força das narrativas historicamente marginalizadas. “Em um momento como o de hoje, com este governo que se apresenta, é mais do que urgente que a gente consiga falar sobre as nossas histórias e contrapor essas narrativas hegemônicas com outras narrativas”, defende.