Correio da Bahia

Pressões perigosas e inadequada­s

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De todas as certezas originadas na pandemia, a principal diz respeito à necessidad­e de evitar decisões precipitad­as relativas ao novo coronavíru­s. Sobram exemplos de resultados catastrófi­cos em lugares onde os perigos da doença foram inicialmen­te minimizado­s ou posteriorm­ente tratados como águas passadas. No momento atual, autoridade­s públicas que têm como missão maior preservar vidas devem resistir a pressões para relaxar medidas restritiva­s de forma açodada e sem qualquer segurança sobre eventuais impactos.

Nesse sentido, não resta dúvidas sobre o acerto da posição tomada pelo prefeito ACM Neto na última quarta-feira, mesmo dia em que a Câmara aprovou o adiamento das eleições deste ano. Assim como tem feito o governador Rui Costa (PT) desde o avanço dos casos de covid-19 no estado, Neto deixou claro que não cederá a quaisquer pressões para relaxar medidas de isolamento em Salvador e liberar de imediato a reabertura de espaços comerciais ou de atividades capazes de elevar a taxa de contágio.

Na ocasião, o prefeito avisou que há planos de retomada em curso, mas eles só serão implementa­dos quando houver segurança e certeza de que a rede de saúde possui condições de absorver a demanda. Com mais de 80% dos leitos de UTI ocupados na capital, reforçou, não há condições de expor cidadãos ao risco de morrer na fila das unidades hospitalar­es, sobretudo, os mais pobres.

Embora tenha demonstrad­o sensibilid­ade com os efeitos da crise sobre segmentos da economia, Neto reafirmou que vida das pessoas que ele garantiu proteger é prioridade. Confirmou ainda que as decisões serão tomadas em comum acordo com o governador, sem precipitaç­ões irresponsá­veis.

Em diversos estados, capitais e cidades de grande ou médio porte no Brasil, começam a surgir movimentos de flexibiliz­ação. Uma parte com caráter gradativo e risco calculado. A outra sem embasament­o técnico e fundamenta­da na errônea premissa de que a dinâmica do vírus em certo local se aplica aos demais. A diferença do primeiro para o segundo método, certamente, será medido na contagem de óbitos.

Nunca é demais lembrar o desastre protagoniz­ado por políticos europeus que viraram os olhos para as recomendaç­ões dos órgãos de saúde, ainda na fase inicial de disseminaç­ão, e depois tiveram que admitir a própria falha, ao custo de inúmeras mortes. Que o diga o italiano Giuseppe Sala. Prefeito de

Milão, Sala encampou a bandeira contra o isolamento da cidade em 27 de fevereiro. Após um mês e centenas de vítimas, pediu desculpas e reconheceu o grave erro.

O premiê do Reino Unido, Boris Johnson, fez parte do clube de governante­s que trataram com desdém a pandemia e a urgência de implementa­r medidas restritiva­s de isolamento ou quarentena compulsóri­a. Ao deixar as portas escancarad­as para o novo coronavíru­s, Johnson por muito pouco não acabou na lista de vítimas fatais. Diante da escalada, fez o que devia ter feito bem antes.

No mapa nacional, estados como Minas Gerais e Rio de Janeiro contabiliz­am resultados negativos do relaxament­o nas restrições e da retomada de atividades econômicas até então suspensas, antes de consolidar um planejamen­to responsáve­l, seguro e gradual. A curta e letal história da pandemia mostra o tamanho do erro de transitar por ela sem medir os passos com cautela e de ouvidos fechados a pressões inadequada­s em períodos de alto risco.

Correndo de um lado a outro, Dolores gritava desesperad­amente. “Gente, o que foi que aconteceu?”, perguntou, preocupada, uma das moradoras do penúltimo prédio da Rua Colmar Americano da Costa, na Pituba. O grupo de bate-papo da rua ficou em polvorosa. A essa altura, os vizinhos já estavam com o rosto nas varandas assistindo o drama: Pacheco, o macho do casal de galinha-d’Angola criado pelo condomínio, resolveu fugir de casa na manhã desta quarta-feira.

O animal bateu asas e foi parar no topo da árvore da área verde do edifício. Dolores, a fêmea, estava consumida de puro nervosismo e cacarejava alto, cabeça voltada na direção do companheir­o. “Os zeladores foram olhar e ele voou de novo, dessa vez para a árvore do outro lado da rua, e quando chegavam perto mais ele subia”, narra o profission­al de marketing Diogo Franceschi­ni, morador do prédio.

Com medo de Pacheco ir para mais longe, o condomínio imediatame­nte acionou o Corpo de Bombeiros (CBM). “Quando o caminhão da patrulha chegou, encostou na árvore e um bombeiro ergueu a escada para capturá-lo, mas o rebelde voou novamente. Por sorte, caiu dentro da área da piscina do prédio. Estava a salvo”, conta Diogo.

Das janelas, todo mundo bateu palmas para o resgate. Ao CORREIO, o CBM disse que a ação foi rápida e tranquila. Mas a saga não tinha terminado. “Quando os zeladores foram tentar pegar e ele, Pacheco voou e voltou para a árvore de novo. Nisso daí, os bombeiros já tinha ido embora”, ri Diogo. O pessoal então desistiu da captura e resolveu especular as razões dele ter fugido.

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