SÃO REGISTRADOS CERCA DE 12 MIL SUICÍDIOS TODOS OS ANOS NO BRASIL E MAIS DE UM MILHÃO NO MUNDO
O dia 10 de setembro é marcado como o Dia Internacional de Prevenção ao Suicídio e durante todo o mês é realizada no Brasil a campanha Setembro Amarelo. Com o isolamento em razão da pandemia, a iniciativa se torna ainda mais relevante, já que a tendência é o aumento de depressão e ansiedade.
Para os profissionais que trabalham com saúde mental, a importância da campanha está na necessidade de se tocar no assunto de forma clara e aberta. “Suicídio é a retirada da própria vida quando alguém não enxerga nenhum outro tipo de solução para o seu sofrimento. As pessoas têm uma ideia preconceituosa de que o suicídio é uma derrota. Quem considera o suicídio não experimenta um sofrimento de um dia de estresse: é um sofrimento acumulado, crônico”, explica Sabrina Costa Figueira, psicóloga e psicoterapeuta clínica.
A profissional destaca que a campanha colabora para retirar um peso que é dado ao tema do suicídio. “O suicídio ainda é um tema de muito tabu. Quando a gente traz toda essa discussão à tona, contribui para que as pessoas se previnam de um sofrimento profundo e cuidem das emoções para não chegar ao impulso suicida”.
As limitações impostas pelas medidas de segurança adotadas por conta do coronavírus podem acabar agravando ou gerando quadros de ansiedade ou depressão que merecem atenção. O neurocientista e neuropsicólogo Fabiano de Abreu explica que processos químicos ocorrem no cérebro humano quando alguém experimenta depressão ou uma ansiedade generalizada.
“O estresse é uma reação a um quadro de ansiedade, e que causa disfunção nos nossos neurotransmissores, que são mensageiros químicos do cérebro. Eles regulam aspectos como sono, felicidade, bem-estar e sensação de recompensa. Então, quando você tem uma ansiedade potencializada e contínua, você vai causar essa disfunção que acaba gerando um desequilíbrio no sistema”, detalha.
O especialista afirma que a pandemia modificou essas reações químicas no corpo. Segundo ele, a ansiedade ocorre porque as pessoas têm uma pendência, algo a resolver. "E, quando você não resolve, como é o caso do vírus e da economia, que não dependem de você resolver, essa pendência ativa nossa ansiedade", observa.
ISOLAMENTO
Fabiano diz que antes do isolamento as pessoas tinham metas como se arrumar e ir para o trabalho e, quando cumpriam essas metas, "gastavam" a ansiedade e produziam o neurotransmissor da recompensa. "Agora, em casa, sem essas metas, seu inconsciente não entende que a vida mudou, te pede para seguir na rotina, e isso também ativa a ansiedade", compara.
Para evitar que essas mudanças acabem desencadeando processos de depressão e ansiedade, hábitos simples podem ajudar. “Na pandemia, a gente não tá produzindo esse neurotransmissor da recompensa, porque não estamos tendo recompensas, e isso também faz com que a ansiedade se potencialize”, explica. Entre as sugestões, mudanças como estabelecer pequenas metas na rotina ou estudar coisas novas podem ajudar.
Quem está isolado com a família e quer ter certeza de que ninguém está passando por nenhuma condição mais grave relacionada à saúde mental precisa estar atento. “É um momento de olhar o outro, olhar para si, oferecer uma escuta, e procurar ajuda profissional quando a gente percebe que não está dando conta sozinho. É importante perceber se um quadro de ansiedade, de tristeza profunda, é algo pontual desse momento de pandemia ou se reflete uma condição mais grave”, diz Claudia Vaz, psicóloga, e mestre e doutora em Educação.
Entre os sinais de que é preciso tomar cuidado, estão um isolamento emocional e social, ausência de comunicação que se estende no tempo, irritabilidade atípica, alterações no sono, sintomas físicos, como dor no estômago, alteração intestinal ou recusa de ajuda. “Às vezes, as pessoas dão sinais que estão considerando suicídio e a família nega, briga, faz pouco caso, e é necessário realmente prestar atenção porque com essa escuta, quando a pessoa se oferece como apoio, demonstra a importância do outro para ela, é que o suicídio pode ser prevenido, evitando”, detalha Sabrina.
Claudia Vaz ressalta que é importante também ficar atento aos idosos, já que eles integram o grupo de risco da covid-19 e podem ter a saúde mental afetada. “Eles perderam muito de sua autonomia, de sua independência, tiveram perdas no ponto de vista cognitivo, às vezes estão confusos, perderam um pouco da consciência temporal”.