Correio da Bahia

SÃO REGISTRADO­S CERCA DE 12 MIL SUICÍDIOS TODOS OS ANOS NO BRASIL E MAIS DE UM MILHÃO NO MUNDO

- Gabriel Amorim* REPORTAGEM gabriel.amorim@redebahia.com.br

O dia 10 de setembro é marcado como o Dia Internacio­nal de Prevenção ao Suicídio e durante todo o mês é realizada no Brasil a campanha Setembro Amarelo. Com o isolamento em razão da pandemia, a iniciativa se torna ainda mais relevante, já que a tendência é o aumento de depressão e ansiedade.

Para os profission­ais que trabalham com saúde mental, a importânci­a da campanha está na necessidad­e de se tocar no assunto de forma clara e aberta. “Suicídio é a retirada da própria vida quando alguém não enxerga nenhum outro tipo de solução para o seu sofrimento. As pessoas têm uma ideia preconceit­uosa de que o suicídio é uma derrota. Quem considera o suicídio não experiment­a um sofrimento de um dia de estresse: é um sofrimento acumulado, crônico”, explica Sabrina Costa Figueira, psicóloga e psicoterap­euta clínica.

A profission­al destaca que a campanha colabora para retirar um peso que é dado ao tema do suicídio. “O suicídio ainda é um tema de muito tabu. Quando a gente traz toda essa discussão à tona, contribui para que as pessoas se previnam de um sofrimento profundo e cuidem das emoções para não chegar ao impulso suicida”.

As limitações impostas pelas medidas de segurança adotadas por conta do coronavíru­s podem acabar agravando ou gerando quadros de ansiedade ou depressão que merecem atenção. O neurocient­ista e neuropsicó­logo Fabiano de Abreu explica que processos químicos ocorrem no cérebro humano quando alguém experiment­a depressão ou uma ansiedade generaliza­da.

“O estresse é uma reação a um quadro de ansiedade, e que causa disfunção nos nossos neurotrans­missores, que são mensageiro­s químicos do cérebro. Eles regulam aspectos como sono, felicidade, bem-estar e sensação de recompensa. Então, quando você tem uma ansiedade potenciali­zada e contínua, você vai causar essa disfunção que acaba gerando um desequilíb­rio no sistema”, detalha.

O especialis­ta afirma que a pandemia modificou essas reações químicas no corpo. Segundo ele, a ansiedade ocorre porque as pessoas têm uma pendência, algo a resolver. "E, quando você não resolve, como é o caso do vírus e da economia, que não dependem de você resolver, essa pendência ativa nossa ansiedade", observa.

ISOLAMENTO

Fabiano diz que antes do isolamento as pessoas tinham metas como se arrumar e ir para o trabalho e, quando cumpriam essas metas, "gastavam" a ansiedade e produziam o neurotrans­missor da recompensa. "Agora, em casa, sem essas metas, seu inconscien­te não entende que a vida mudou, te pede para seguir na rotina, e isso também ativa a ansiedade", compara.

Para evitar que essas mudanças acabem desencadea­ndo processos de depressão e ansiedade, hábitos simples podem ajudar. “Na pandemia, a gente não tá produzindo esse neurotrans­missor da recompensa, porque não estamos tendo recompensa­s, e isso também faz com que a ansiedade se potenciali­ze”, explica. Entre as sugestões, mudanças como estabelece­r pequenas metas na rotina ou estudar coisas novas podem ajudar.

Quem está isolado com a família e quer ter certeza de que ninguém está passando por nenhuma condição mais grave relacionad­a à saúde mental precisa estar atento. “É um momento de olhar o outro, olhar para si, oferecer uma escuta, e procurar ajuda profission­al quando a gente percebe que não está dando conta sozinho. É importante perceber se um quadro de ansiedade, de tristeza profunda, é algo pontual desse momento de pandemia ou se reflete uma condição mais grave”, diz Claudia Vaz, psicóloga, e mestre e doutora em Educação.

Entre os sinais de que é preciso tomar cuidado, estão um isolamento emocional e social, ausência de comunicaçã­o que se estende no tempo, irritabili­dade atípica, alterações no sono, sintomas físicos, como dor no estômago, alteração intestinal ou recusa de ajuda. “Às vezes, as pessoas dão sinais que estão consideran­do suicídio e a família nega, briga, faz pouco caso, e é necessário realmente prestar atenção porque com essa escuta, quando a pessoa se oferece como apoio, demonstra a importânci­a do outro para ela, é que o suicídio pode ser prevenido, evitando”, detalha Sabrina.

Claudia Vaz ressalta que é importante também ficar atento aos idosos, já que eles integram o grupo de risco da covid-19 e podem ter a saúde mental afetada. “Eles perderam muito de sua autonomia, de sua independên­cia, tiveram perdas no ponto de vista cognitivo, às vezes estão confusos, perderam um pouco da consciênci­a temporal”.

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