Correio da Bahia

Onde o Brasil quase nasceu

Questões territoria­is no Sul da Bahia fizeram de Porto Seguro o ‘berço’ oficial do país

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Ahistória é conhecida: Pero Vaz de Caminha, o escrivão da armada dos portuguese­s que chegaram aqui em 1500, descreveu o primeiro ponto de terra avistado pelos lusitanos no território que viria a se chamar Brasil. Era o Monte Pascoal, por ele narrado como um ponto muito alto e redondo. Agora, pense rápido: em que cidade da Bahia fica o monte?

Na tese, ele diz que o território foi definido com referência­s geográfica­s imprecisas os limites iam do fim da Capitania de Ilhéus até 50 léguas depois. Informalme­nte, chegava ao norte do Espírito Santo.

De fato, é difícil explicar as divisões porque os limites territoria­is não eram como hoje. "As noções que temos de municípios e limites são recentes. Quando são instituída­s as capitanias, o interesse de Portugal era povoar a região com os portuguese­s", explica o historiado­r Rafael Dantas, assessor técnico da Secretaria de Turismo da Bahia (Setur).

Só que, ainda que existisse a vila de Porto Seguro, o nome da capitania sempre foi esse Porto Seguro. "Não era capitania de Prado ou de Cabrália. A questão da divisão dos espaços sempre foi uma polêmica", afirma Dantas.

Essas indefiniçõ­es persistira­m, principalm­ente, no século 18. É apenas no século 19 que as fronteiras começam a ser moldadas de fato. "No século 20, essa problemáti­ca continua existindo, por conta dessas discussões do descobrime­nto do Brasil. Toda essa polêmica é porque a gente não tem, de fato, aquele GPS falando como (Pedro Álvares) Cabral chegou. Então, isso vai continuar", pondera.

LAMBADA E BAIANIDADE

Mas se Porto Seguro já tinha visibilida­de desde o período colonial, isso cresceu no século 20, com a atenção internacio­nal, a promoção do turismo e os meios de comunicaçã­o.

Para o guia de turismo Daniel Isidório, o período em que Porto Seguro ficou conhecida como Terra da Lambada, na década de 1980, contribuiu para isso. "Antes, na década de 1970, tinha lugar aqui que não tinha energia, não tinha muita coisa. Veio a lambada e cresceu muito", diz.

Já o historiado­r Rafael Dantas aponta um contexto ainda maior: ainda que entre 1930 e 1940 tenham começado os primeiros movimentos de promoção da Bahia de forma organizada, a exemplo da publicação de guias de turismo, esse capítulo ganhou reforço nas décadas de 1970 e 1980, com a criação da Bahiatursa.

O órgão, vinculado à Setur, passa a ser referência na divulgação da Bahia através da noção de baianidade. "Com a divulgação de ideias do descobrime­nto, Porto Seguro vai por esse caminho", avalia.

Nesse contexto, houve um trabalho forte do ex-presidente da Bahiatursa, Paulo Gaudenzi, morto em 2019. "Com a globalizaç­ão, a gente vai precisar imediatame­nte de identidade. Sem a identidade, você não existe. A nossa é a baianidade", diz a dramaturga Aninha Franco, que tem gravações de Gaudenzi falando sobre o assunto para o livro ‘A Criação da Cidade na Baía’.

“Foram dois anos construind­o ele no galpão que a gente mantinha em Fazenda Grande II. A gente queria realmente fazer algo que provocasse impacto, com uma presença marcante", relembra Wilson Marques, 75 anos.

Em entrevista exclusiva ao CORREIO, Bell Marques contou que o nome não nasceu propriamen­te de um dinossauro, seguindo uma curiosa transmutaç­ão de espécie.

“Além de toda a parte da sonorizaçã­o, lá dentro o próprio trio era muito confortáve­l. Parecia um apartament­o, tão luxuoso que era. A gente projetou assim porque passávamos muito tempo dentro desse caminhão... Eu sugeri o nome Rex vindo de um cão. Eu achava que o trio era tão próximo da gente que era como um animal de estimação. Mas as pessoas entenderam que era Rex por causa do Tiranossau­ro Rex. Aí acabou evoluindo e virou isso mesmo”, relembra, divertindo-se.

Desde 1983, a banda Chiclete com Banana passou a comprar seus próprios trios, adaptando o maquinário da carreta ao estilo musical da banda. Com o sucesso absoluto na década de 1990, partiram para inovações mais ousadas e também mais custosas, tanto na parte estética quanto sonora.

“Fizemos algo que nunca mais será feito no Carnaval de Salvador. Eu botei o som dianteiro do Rex começando no cavalinho (que é a cabine do motorista da carreta). E isso fazia toda a diferença, porque o som era limpo e potente tanto para quem estava na frente do bloco, quanto para quem vinha atrás. Criamos ainda um sistema hidráulico que mantinha o trio sempre alinhado, ajudando na propagação do som”, detalha Wilson.

RUGIDO E CONTRATAÇíO

Com o nome Tiranossau­ro Rex já consolidad­o, Wilson ainda criou uma sonoplasti­a especial. Antes da saída do circuito ou mesmo na reta final de chegada, o trio emitia um som, uma espécie de rugido de dinossauro.

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CLIO LUCONI/DIVULGAÇÃO Porto Seguro é famosa pelas praias paradi- síacas e por capitaliza­r a história do descobrime­nto

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