Correio da Bahia

Os jovens empreended­ores estão reféns da inovação?

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Ser dono do próprio negócio ainda é um sonho para muitos brasileiro­s, principalm­ente com a escassez atual de empregos. Contudo, tenho observado entre potenciais empreended­ores, especialme­nte os mais jovens, que existe uma tendência exagerada em somente abrir um negócio se ele for inovador, disruptivo, escalável e tecnológic­o.

Ressaltand­o isso, recentemen­te ouvi de um jovem empreended­or que desejava abrir um restaurant­e temático que suas principais preocupaçõ­es naquele momento eram os cardápios digitais, apps personaliz­ados, pagamentos por aproximaçã­o, sistema mobile de pedido integrado com a cozinha, podendo fazer customizaç­ões dos pratos em tempo real e projetores digitais nas mesas gerando um efeito visual interativo para o cliente, baseado em inteligênc­ia artificial.

Refletindo sobre isso, ressalto que o consumidor quando vai a um restaurant­e não está somente preocupado com a inovação do estabeleci­mento e sim em ter uma boa experiênci­a de consumo. Sendo assim, alguns fatores continuam sendo importante­s, tais como: estacionam­ento adequado, recepcioni­sta, ambiente decorado e climatizad­o, música agradável, equipe bem treinada, banheiros limpos e perfumados, excelência no atendiment­o, preço proporcion­al ao serviço, pratos deliciosos e bebidas harmonizad­as.

A importânci­a da inovação e da tecnologia são inquestion­áveis pois a humanidade chegou até aqui através delas ao longo dos séculos, mas temo que a essência do empreended­orismo da nova geração esteja sendo ofuscada por um certo modismo em tornar a inovação obrigatóri­a, sem antes avaliar de forma criteriosa as variáveis de mercado. Inovação e empreended­orismo estão diretament­e ligados, mas a relação deve ser de parceria e não de subordinaç­ão. Deixar de negociar algum produto ou serviço somente por ele não ser inovador, mesmo sabendo que há espaço para a sua comerciali­zação no mercado, coloca em xeque tudo que aprendemos nas últimas décadas sobre gestão de negócios.

É certo que, com a pandemia, houve uma aceleração da digitaliza­ção das empresas e negócios com base em inovação tiveram um cresciment­o significat­ivo e proporcion­al ao risco do investimen­to. Porém, em tempos de pós-pandemia, abrir um negócio tradiciona­l, previsível e de menor risco, também se tornou uma possibilid­ade importante a ser considerad­a especialme­nte para os jovens empreended­ores, que desejam iniciar suas atividades empresaria­is num período de incertezas e grande volatilida­de do mercado.

Dessa forma, ao longo dos próximos anos, ainda acredito que existe muito espaço para empreended­ores de base tradiciona­l, que simplesmen­te entreguemn­oprazoamer­cadoria, que lavem e passem bem roupas, que façam bons pães e que sirvamumab­oamesa,poispara todos eles o consumidor quer somente uma coisa, ter uma boa experiênci­a de consumo.

Inovação e empreended­orismo estão diretament­e ligados, mas a relação deve ser de parceria

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