Um caminhão de frustrações
Estradas Greve de caminhoneiros tem pouca adesão na Bahia e em todo o resto do país
Caminhoneiros baianos fizeram protestos na manhã de ontem em diversos locais do estado, como Salvador, Feira de Santana, Santo Estevão, Riachão do Jacuípe e Vitória da Conquista. Alguns tentaram interditar o tráfego em rodovias federais, mas foram impedidos pela ação da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Os atos da categoria têm o objetivo de reivindicar uma série de medidas, como a diminuição do preço do diesel e o aumento da tabela do frete mínimo.
No entanto, o dia foi marcado também por uma baixa adesão de caminhoneiros aos protestos e uma divergência entre os sindicatos da categoria de como o protesto deveria ser feito. Jorge Carlos Silva, presidente do Sindicato dos Caminhoneiros Autônomos do Estado da Bahia (Sindicam-BA), afirmou que a orientação dada para os seus filiados era de que ficassem em casa e não participassem de qualquer ação.
“Nossa orientação não era fechar pista e sim não ter atividade hoje. A orientação era ficar em casa. Não vamos forçar a barra, pois as coisas já estão sendo negociadas. Não considero esse movimento como legítimo e acho que não vai dar em nada. Calculo que não teve nem 10% de adesão da categoria”, desabafou Jorge.
Segundo o presidente, a negociação para que as reivindicações da categoria sejam atendidas tem sido realizada pela Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), a qual o Sindicam é filiado. A própria CNTA se posicionou de forma contrária à greve dos caminhoneiros.
De acordo com o presidente do Sindicam-BA, o responsável pela manifestação foi um sindicato de nome parecido ao que ele preside. É o Sintracam, Sindicato dos
Transportadores Autônomos de Bens de Feira de Santana e Região. O CORREIO não conseguiu contato com o grupo.
Entre os manifestantes, não havia clara representação sindical. Na Região Metropolitana de Salvador (RMS), eles se encontraram na BA-526, a CIA-Aeroporto, na altura de Simões Filho, e depois acessou a BR-324. Por lá eles caminharam na pista do acostamento, sendo acompanhados por viaturas da Policia Militar e PRF, que impediram o fechamento da BR.
O grupo fez acenos para que os caminhoneiros que passassem pela região aderissem ao movimento, mas nem sempre eram atendidos. Eles carregavam cartazes com os dizeres “Sem caminhão, não existe nação!”, “Chega de perseguição, caminhoneiro não é ladrão!” e “sem o caminhão o Brasil para!”.
Já em Feira de Santana, o ponto de encontro marcado pela categoria foi a Avenida Transnordestina, mas também houve baixa adesão. O movimento foi logo dispersado. Em Vitória da Conquista e Itatim houve registro de pneus queimados na rodovia, mas o fogo foi logo controlado e a pista não ficou interditada. Os autores do incêndio não foram encontrados. Já em Riachão do Jacuípe houve concentração da categoria nas margens do Km 441 da BR 324.
No início de janeiro, o presidente da Associação Nacional do Transporte Autônomos do Brasil (ANTB), José Roberto Stringasci, chegou a afirmar que a greve prevista para ontem poderia ser maior do que a realizada em 2018, que resultou em diversos problemas para a sociedade, como desabastecimento, cancelamento de voos, prejuízos no transporte público e suspensão de atividades. A previsão ficou mais forte depois que circulou nas redes sociais um áudio do ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, no qual ele afirma não poder atender alguns dos principais pedidos dos caminhoneiros.
NO BRASIL
Ao longo do país os protestos também foram marcados por baixa adesão. No fim da manhã, a BR-304, no Rio Grande do Norte, na altura de Mossoró, chegou a ser bloqueada por manifestantes, que deixaram pneus na pista, mas logo foi liberada pela PRF. Também houve tentativa de bloqueio no quilômetro 190 da BR-060, em Goiás, na altura de Guapó. Concessionárias de estradas estaduais registraram manifestações pontuais.
Na rodovia Castello Branco, de acordo com a CCR ViaOeste, concessionária que administra a estrada, na altura do km 27, na região de Barueri, havia lentidão no começo da manhã. Apenas as faixas 1 e 2 estavam liberadas, por causa do protesto de caminhoneiros, que ocupavam duas faixas no sentido São Paulo.
Segundo a avaliação do governo, a paralisação foi um fracasso. “A greve fracassou e fez água. Conversamos muito com os caminhoneiros e, desde o início, a gente já dizia que essa greve não ia voar. As poucas coisas que aconteceram, como queimada de pneus e paralisação em São Paulo, não têm relação com os caminhoneiros. Agora, não é porque a greve não prosperou que vamos abandonar a agenda”, disse o ministro de Freitas.