IEMANJÁ DAS ARTES
Cultura Como a Rainha das Águas inspira cantores, fotógrafos e outros artistas que celebram o 2 de fevereiro
Mãe, acolhedora, guerreira e forte. Iemanjá aparece de diversas formas nos trabalhos de artistas inspirados por sua história e parte disso pode ser visto neste 2 de fevereiro, quando acontecem shows, lançamentos de músicas e exposições sobre o tema em Salvador. Admiradores da rainha das águas contam como ela os inspira e dão dicas de filmes, livros e músicas para quem quiser celebrar Iemanjá de um jeito diferente e sem aglomeração.
A fotógrafa Vânia Viana, 59 anos, não esquece de suas primeiras impressões. “Sempre me encantei com aquela imagem feminina de uma mulher bela, de cabelos longos, vestido de cor azul. Aquilo ficou impregnado da minha memória de criança”, lembra a artista paulista radicada em Salvador há 30 anos. Seu olhar sobre a Iemanjá está na exposição coletiva YèYé Omó Ejá.
A mostra gratuita em cartaz no Espaço Pierre Verger, na Barra, reúne imagens de Vânia feitas no 2 de fevereiro. “Tem muita beleza, porque é uma festa especialíssima”, elogia Vânia, que estudou mais sobre a história de Iemanjá no livro Mitologia dos Orixás, de Reginaldo Prandi.
Foi aí que descobriu como a orixá está associada ao mito da criação do mundo. “Iemanjá, pra mim, é o arquétipo materno, a mãe primordial. É uma pena que algumas pessoas não tenham condição de perceber sua força e acabe reduzindo a ‘um orixá ligado a uma ceita’”, lamenta. “É nossa cultura, nossas origens. É uma força incrível e a gente vê no 2 de fevereiro”, reforça.
DO MAR
Sempre que entrava sozinho no mar, o cantor Leandro Pessoa, 34, tinha o hábito de se benzer e cantar. Muitas vezes se percebia conversando e recebendo conselhos espirituais, experiência marcante que deu origem à letra da música Inaê, que será lançada hoje, no YouTube.
“Iemanjá é mãe, acolhedora, mas também uma guerreira que não desacredita de seus filhos. Ela me acompanha e me protege. Desde então, sigo cantando”, conta Pessoa, que assina a letra com Weslei. “Como não vamos ter a festa, fui no sábado na praia do Rio Vermelho, cantei e senti o que é o essencial. Essa foi a minha festa”, vibra.
A relação forte com o mar também acompanha a cantora Márcia Castro, 42, desde pequena. Baiana de nascimento, sempre ouviu as histórias de Iemanjá e cresceu “sabendo que no mar habita uma figura mitológica, uma sereia”. “Quando fui crescendo, fui entendendo com o candomblé aquele símbolo de força, do sagrado feminino”, conta Márcia.
No contexto que se vive hoje, a cantora acredita que as pessoas precisam da resiliência de Iemanjá, que não se deixa levar pelo desespero. “A gente precisa preservar essa força resiliente que ela tem, ao mesmo tempo com acolhimento. Iemanjá é aquela mãe que dá bronca. É o que a gente precisa alimentar: força, fé e ternura”, acredita a artista, uma das convidadas do Festival Oferendas.
Assim como Márcia, a fotógrafa Marta Suzi, 58, acredita que a fé precisa ser ressaltadas nos dias de hoje, junto com a doação ao próximo. Suas fotos, também disponíveis no Espaço Pierre Verger, mostram imagens desse universo captadas ao longo dos anos na festa de Iemanjá.
“Todos os registros têm uma visão poética, mostram sempre a delicadeza do ofertar. As flores oferecidas, as mãos conduzidas... Vejo gente que reza, corações que fazem entregas, mentes que agradecem. Uma explosão de emoções muito grande”, diz, emocionada. Essa mulher mitológica que é “sinônimo de maternidade, doação e fertilidade” tem muito a ensinar, acrescenta.
“Entendo que há algo que tem que ser nutrido: a fé. É inconteste, seja da forma que for. A gente precisa acreditar, esperançar. Essa é a palavra de ordem”, defende. “Há uma urgência no banho daquelas águas. É a renovação, é quando o ano de fato se anuncia e se renova a esperança, dando um sopro de vida”, conclui.