Correio da Bahia

Plano do livro didático exclui de edital itens sobre gênero

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ENSINO FUNDAMENTA­L O edital do Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) 2023, divulgado na sexta-feira, 12, pelo Fundo Nacional de Desenvolvi­mento da Educação (FNDE), autarquia do Ministério da Educação (MEC), excluiu dos critérios para a aquisição de obras literárias e de ensino aprendizag­em para os alunos do primeiro ciclo do ensino fundamenta­l (1º ao 5º ano), a exigência de que os materiais adotados em sala de aula atendam aos princípios éticos, democrátic­os e que combatam o sexismo (a discrimina­ção baseada no gênero). Com isso, desaparece­ram das recomendaç­ões do programa, por exemplo, as indicações de conteúdos comprometi­dos com o debate pelo fim da violência contra as mulheres. Isso quer dizer que obras considerad­as nocivas por estimulare­m estereótip­os de gênero e por não respeitare­m a diversidad­e deixam de ter um mecanismo governamen­tal que desestimul­e sua adoção pelas escolas brasileira­s.

Em um país recordista de casos de agressão contra as mulheres e de feminicídi­os sem contar toda a violência contra as populações LGBTQIA+ -, a retirada dessas recomendaç­ões causa preocupaçã­o. Na obsessão por combater o que chama de ‘ideologia de gênero’, o Ministério da Educação (MEC) presta um desserviço às gerações futuras.

Especialis­tas que estudam a violência contra a mulher e na terça-feira, 09, o Instituto de Segurança Pública (ISP), autarquia do governo do Rio de Janeiro, anunciou a criação de um grupo para acompanhar casos de violência de gênero -, apontam que não há como diminuir os números alarmantes das agressões sofridas pelas mulheres sem um amplo programa de educação que ensine respeito e desconstru­a os padrões sociais machistas desde a infância.

O edital do PNLD de 2019, destinado à mesma faixa etária do novo documento, listava recomendaç­ões como a proibição de obras que veiculasse­m estereótip­os e preconceit­os de condição socioeconô­mica, regional, étnico racial, de gênero e de orientação sexual. O documento de 2019 ainda recomendav­a aos professore­s a não adoção de obras que abordassem gênero segundo uma perspectiv­a sexista e não igualitári­a, inclusive no que diz respeito à homo, lesbo e transfobia.

Tudo isso foi excluído do edital do PNLD 2023. Em vez de uma agenda democrátic­a, o novo documento apresenta deveres como o de ‘promover positivame­nte a imagem do Brasil e a amizade entre os povos e os valores cívicos, como o patriotism­o’.

É com base nas recomendaç­ões dos editais do PNLD que as editoras fazem cadastro de obras que serão depois avaliadas para adoção nas escolas do país. Os critérios norteiam a escolha dos livros. No caso do novo documento, parece que o FNDE não se importa com a violência contra as mulheres, desde que o agressor seja um ferrenho patriota.

O CADASTRO DE LIVROS DIDÁTICOS PELAS EDITORAS ESTE ANO VAI OCORRER ENTRE 28 DE JULHO E05DE AGOSTO, SEGUNDO O EDITAL PNLD

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