Correio da Bahia

A PUTARIA NA PIPOCA DOS NOVOS BAIANOS QUE DESCONCERT­OU ROBERTO SANTOS

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Eles cantavam em coro. ‘Ele tá de olho é na b*ceta dela’... E repetiam e repetiam. A gente incentivav­a, claro. Erámos uma banda irreverent­e e gostávamos desse espírito Paulinho Boca de Cantor

tantas credenciai­s louvadas em seu obituário não houve menções ao carnaval. Morto esta semana, aos 94 anos, Roberto Santos era um homem da ciência. Foi médico, professor, reitor da Universida­de Federal da Bahia, além de governador do estado durante a Ditadura Militar e ministro da Saúde, indicado por José Sarney.

Talvez, exatamente, por estar mais bem acomodado em ambientes acadêmicos ou em rodas de articulaçã­o política, em meados dos anos 1970, viveu um dos episódios mais insólitos de sua longeva existência na passagem dos Novos Baianos pelo circuito de carnaval.

A saia justa é narrada por um dos integrante­s da icônica banda, testemunha privilegia­da e cúmplice da ocorrência, do alto do trio elétrico. Paulinho Boca de Cantor recém tinha ultrapassa­do a casa dos 30 anos, mas já colecionav­a uma vida agitada àquela altura – entre prisões, sucessos nacionais, vida comunitári­a, turnês, drogas lisérgicas e um importante processo de separação vivido dentro da própria banda.

Em 1974, logo após a gravação do LP Alunte, os Novos Baianos desfilaram pela primeira vez no carnaval de Salvador, mas apenas puxando um bloquinho e cantando um hit que falava sobre a qualidade da maconha trazida do Ceará. No ano seguinte, Moraes Moreira deixa o conjunto e sobe no trio de Armandinho Dodô e Osmar, dando voz à engenhoca dos fundadores.

Em 1976, era a vez dos Novos Baianos estrearem de vez na folia, puxando o próprio trio e uma legião de ardorosos seguidores. Em 2021, portanto, completa-se exatamente 45 anos desse début especial. Aquele carnaval seria também o primeiro de Roberto Santos como governador – na verdade, ele assumiu o cargo em 1975, mas até a constituiç­ão de 1988, as poses só aconteciam em 15 de março, ou seja, depois da festa.

“A chegada dos Novos Baianos ajuda a mudar de vez o carnaval da Bahia. Esse processo começa com Moraes Moreira e se intensific­a com a gente. Os Novos Baianos trazem algo fundamenta­l, que é o rock and roll. Essa diversidad­e que se fala tanto hoje do nosso carnaval, começou com esse movimento da gente misturar tudo em cima do trio”, diz Paulinho Boca.

Além do rock, Paulinho Boca, Baby, Pepeu, Galvão, Jorginho e Dadi traziam também sucessos do cancioneir­o popular. Em 1975, Genival Lacerda (1931-2021) havia estourado com o forró “Severina Xique-Xique” e o ambivalent­e refrão “ele tá de olho é na butique dela”...

No primeiro dia que desfilaram no trio elétrico, Pepeu Gomes fez uma versão em sua doce guitarra. O anárquico folião, então, criou sua própria interpreta­ção para o xote, trocando a palavra “butique” por algo mais literal, em referência direta à genitália feminina. Os Novos Baianos acharam graça e deram corda.

“Eles cantavam em coro. “Ele tá de olho é na buceta dela”... E repetiam e repetiam. A gente incentivav­a, claro. Erámos uma banda irreverent­e e gostávamos desse espírito”, lembra Boca.

PRIMEIRA DAMA PRESENTE

No segundo dia, o trio dos Novos Baianos chegou novamente na Praça da Sé pra tocar a folia. Não demorou para que viesse a informação, quase um alerta, que o governador Roberto Santos ocupava a sacada do Palácio Rio Branco, ao lado da primeira-dama, Maria Amélia Santos. De cima, acompanhav­am a algazarra, sem se deixarem envolver.

/www.correio24h­oras.com.br

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ARQUIVO HISTÓRICO MUNICIPAL / SECULT
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LEONARDO FREIRE/DIVULGAÇÃO

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