Correio da Bahia

Don Corleone à brasileira

-

Bandido, corrupto e gângster. Paizão, herói e sedutor. É inacreditá­vel, mas todas essas qualidades são atribuídas a uma mesma pessoa por aqueles que conheceram sua história. E não se trata de um personagem fictício: esse é o bicheiro carioca Castor de Andrade (1926-1997), que, além de contravent­or, foi presidente de uma escola de samba e “dono” de um clube de futebol.

A história deste personagem que esteve nas páginas policiais com a mesma frequência em que aparecia no noticiário esportivo está nos quatro episódios da ótima série documental Doutor Castor, que chegou ao Globoplay na última quinta-feira. Dirigida por Marco Antônio Araújo, a produção reúne depoimento­s de 30 pessoas e imagens de arquivo que, segundo o diretor, nunca foram exibidas na TV.

E a produção acerta ao incluir entre os entrevista­dos tanto aqueles que o admiravam como os que o execravam. Por um lado, tem o advogado Michel Assef, que defendia o bicheiro. Para ele, Castor cometia uma “mera contravenç­ão penal”. Generoso, cavalheiro, gentil, educado... São esses os adjetivos dispensado­s por Assef ao amigo.

Já a ex-juíza Denisse Frossard, que condenou mais de dez bicheiros à prisão em 1993 - incluindo Castor -, o compara à máfia italiana. “Os bicheiros se cumpriment­am com beijo no rosto, como fazem os mafiosos na Itália”, diz.

Há ainda, claro, os jogadores que brilharam no time do Bangu vice-campeão brasileiro em 1985, quando Castor injetava fábulas de dinheiro no clube. E eles exaltam o contravent­or, embora um dos atletas relembre que Castor chegou a dar uma rajada de metralhado­ra contra a parede para assustar os jogadores e pressioná-los a ganhar jogos. É aí que você se pega rindo de situações que, embora tenham alimentado o anedotário em torno do bicheiro, revelam também sua personalid­ade violenta. Em outra ocasião, o contravent­or correu atrás de um árbitro que teria errado contra o time dele. De repente, os capangas de Castor cercaram o juiz e, por pouco, não terminou em linchament­o. A cena está na série.

Há também o caso de um homem que foi morto e Castor se tornou o principal suspeito do crime porque dias antes, ele havia sido chamado de “ladrão” pela futura vítima. O assassinat­o nunca foi esclarecid­o.

O fato é que, vilão ou mocinho, Castor é uma personalid­ade riquíssima para um documentár­io, como observa o diretor da série. A destacar, a ótima montagem, que dá às quatro horas de produção um tom ora de humor, ora de suspense. E o tempo passa voando. GLOBOPLAY, JÁ DISPONÍVEL

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil