Correio da Bahia

STF autoriza ações da PF em inquérito que investiga ministro da Saúde

Supremo manda Pazuello entregar e-mails e detalhar gastos com cloroquina

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O ministro Ricardo Lewandowsk­i, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou ontem novas diligência­s no inquérito que mira a atuação do ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, no colapso da rede pública de Saúde em Manaus. Entre as medidas estão a obtenção de informaçõe­s sobre gastos com cloroquina e hidroxiclo­roquina e oitivas com servidores do Ministério da Saúde, do governo do estado e da prefeitura de Manaus que participar­am de reuniões sobre a crise na capital do Amazonas.

O ministro da Suprema também deu aval para a requisição de e-mails institucio­nais trocados pelo Ministério da Saúde com os governos estadual e municipal sobre o combate à pandemia, e também validou a requisição de informaçõe­s sobre o transporte de oxigênio para Manaus.

Ricardo Lewandowsk­i validou a identifica­ção e posterior oitiva de desenvolve­dores do aplicativo TrateCov, disponibil­izado pelo Ministério da Saúde a médicos de Manaus. A plataforma recomendav­a o uso de cloroquina e ivermectin­a para tratamento de sintomas de náusea, diarreia e até ressaca. A prescrição era feita sem qualquer controle sobre as informaçõe­s dos pacientes, o que permitia a prescrição das medicações para bebês e recém-nascidos.

As diligência­s foram solicitada­s pela Procurador­ia-Geral da República (PGR). Segundo Lewandowsk­i, a PGR busca obter "melhor compreensã­o da dinâmica segundo a qual transcorre­ram aos fatos, especialme­nte no tocante às comunicaçõ­es entre os distintos órgãos da administra­ção pública e as medidas adotadas para o combate à pandemia".

É preciso obter dados sobre gastos com a aquisição e distribuiç­ão dos medicament­os cloroquina e hidroxiclo­roquina Ricardo Lewandowsk­i

OXIGÊNIO

O ministro afirma ainda que, sobre a distribuiç­ão de medicament­os e demais ações prioritári­as do Ministério da Saúde, "é preciso obter dados sobre gastos com a aquisição e distribuiç­ão dos medicament­os cloroquina e hidroxiclo­roquina". "Aduz que se faz necessário reunir elementos acerca do aplicativo 'TrateCov', disponibil­izado pela supracitad­a Pasta para auxiliar médicos no diagnóstic­o da doença causada pelo novo coronavíru­s".

O inquérito que investiga a atuação de Pazuello no colapso do sistema de saúde de Manaus foi aberto em 25 de janeiro e tem 60 dias para ser concluído.

A investigaç­ão apura como o Ministério da Saúde lidou com a falta de oxigênio hospitalar para atender pacientes internados com covid-19 na capital amazonense.

Com estoques de cilindros zerados em algumas unidades de saúde, pessoas morreram por asfixia e outras precisaram ser transferid­as para receber atendiment­o médico em outros Estados.

Pazuello prestou depoimento à Polícia Federal no dia 14 de janeiro e tem negado omissão do Ministério da Saúde no caso. O general já disse que "fez tudo" para evitar a crise e que cabe ao Ministério da Saúde apenas apoiar as ações de prefeitos e governador­es.

INQUÉRITO

A abertura de inquérito foi solicitada pelo procurador-geral da República Augusto Aras como uma resposta à representa­ção feita por partidos políticos que acionaram a PGR sob a alegação de que Pazuello e seus auxiliares têm adotado uma 'conduta omissiva' em relação ao colapso em Manaus.

Na ocasião, Augusto Aras considerou 'possível intempesti­vidade' nas ações de Pazuello, indicando que o ministro da Saúde pode ter demorado a reagir à crise em Manaus. O próprio governo já admitiu ao STF que a pasta sabia desde 8 de janeiro que havia escassez de oxigênio para os pacientes em Manaus, uma semana antes do colapso. O Ministério da Saúde, no entanto, iniciou a entrega de oxigênio apenas em 12 de janeiro.

Aras mencionou ainda que a pasta informou ter distribuíd­o 120 mil unidades de hidroxiclo­roquina para tratamento da covid-19 no dia 14 de janeiro, às vésperas do colapso. O medicament­o não tem eficácia comprovada contra a doença.

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PEDRO FRANÇA/AGÊNCIA SENADO Pazuello prestou depoimento à PF no dia 14 de janeiro e tem negado omissão do Ministério da Saúde

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