Correio da Bahia

Toque de recolher começa mais cedo

Recorde Ocupação de leitos de UTI bate 80%; especialis­tas recomendam lockdown

- Daniel Aloisio* e Vinícius Nascimento REPORTAGEM redacao@correio24h­ors.com.br

Um dos maiores dramas que pode viver um paciente infectado pela covid-19 é ter que ser internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Ou, pior, precisar de uma vaga dedicada a casos mais críticos e não encontrar. Ontem, na Bahia, 890 pessoas viviam o drama de estar na UTI, terceiro dia seguido de recorde. Às 16h, a taxa de ocupação chegou a 80%. Já há hospitais sem nenhuma vaga e, antes que o quadro fique ainda pior, o governador Rui Costa (PT) ampliou o decreto de toque de recolher.

A partir de hoje, 381 cidades baianas terão que obedecer a um decreto mais rígido: a circulação fica proibida das 20h às 5h - antes, a proibição começava às 22h. Além disso, 38 municípios foram incluídos e apenas a região Oeste continua fora (veja ao lado).

Desde o início da pandemia, em março de 2020, a Bahia nunca teve tantas pessoas em estado grave com a covid-19. O terceiro dia seguido de alta mostra ainda que o número de internaçõe­s está num ritmo de cresciment­o.

Atualmente, a Bahia tem 53 hospitais com leitos disponívei­s para tratamento da covid-19, sendo 45 com leitos de UTI. Desses, 31 tinham taxa de ocupação de 80% ou mais e nove hospitais estavam completame­nte lotados até as 16h de ontem, segundo dados do painel epidemioló­gico da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab).

Para especialis­tas ouvidos pelo CORREIO, a ocupação de 80% é um indicativo de que a Bahia pode, sim, entrar em colapso. É o que afirma a médica imunologis­ta Fernanda Grassi, pesquisado­ra da Fiocruz e integrante da Rede CoVida. Para ela, as atuais condições sanitárias, o desrespeit­o às medidas de isolamento e os recorrente­s relatos e denúncias de aglomeraçã­o acendem um forte sinal de alerta.

Ela acredita que o toque de recolher é uma medida válida, mas são necessária­s ações mais enérgicas para controlar o fluxo de pessoas nas ruas e, por consequênc­ia, reduzir proliferaç­ão do coronavíru­s. “Entendemos a dificuldad­e de tomar uma medida tão drástica, mas creio que, neste cenário, o lockdown por 15 dias é a medida mais correta a ser tomada. Os números assustam, vemos casos de reinfecção e novas variantes que fazem o vírus se espalhar ainda mais rápido. Sem controlar a circulação é muito difícil chegar a melhorias”, diz.

Diretor da Sociedade Brasileira de Infectolog­ia (SBI), o médico Antônio Bandeira afirma que é necessário entender que as curvas de cresciment­o no número de casos e ocupação de leitos refletem o nosso comportame­nto. “Se não adotarmos as medidas necessária­s e básicas como o uso correto da máscara, distanciam­ento social e higiene das mãos, o sistema de saúde não vai aguentar”, aponta.

O lockdown também já vinha sendo recomendad­o por outros especialis­tas, entre eles o neurocient­ista Miguel Nicolelis, ex-coordenado­r do Comitê Científico do Consórcio Nordeste. No sábado (20), ele deixou a coordenaçã­o do comitê devido à sua insatisfaç­ão pela não adoção, por parte dos governos, das orientaçõe­s passadas pelo grupo.

Oeste existirem vagas e mesmo assim estão sendo reguladas pessoas para Vitória da Conquista”, desabafa a prefeita em exercício Sheila Lemos. O prefeito eleito Herzem Gusmão (MDB) está afastado da gestão por causa da covid-19.

LEITOS

Segundo o governador Rui Costa, a Bahia já reabriu praticamen­te todos os leitos possíveis. Além disso, foram iniciados os protocolos para reabrir os leitos no hospital de campanha da Arena Fonte Nova (veja ao lado). “Nós não podemos abrir leitos infinitame­nte. Precisamos frear o avanço da doença”, frisou.

Em nota, a Sesab informou que, além da Fonte Nova, outros leitos serão abertos nesta semana. “O elevado número de casos graves tem pressionad­o a rede assistenci­al tanto pública quanto privada. A população tem que entender que a abertura de novos leitos de UTI não é uma garantia de sobrevivên­cia”, diz nota da Sesab.

Outra cidade que tem enfrentado altas taxas de ocupação nos leitos de UTI dos seus hospitais é Salvador. Em nota, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) informou que a atual estrutura de leitos de UTI montada pelo município para acolhiment­o exclusivo de pacientes covid-19 é superior ao instalado durante a primeira onda da pandemia na cidade.

“A expectativ­a da gestão é implantar 20 novos leitos nos próximos 30 dias para assegurar a assistênci­as aos pacientes. Entretanto, a pasta reitera que os esforços da Prefeitura para ampliação de uma rede assistenci­al temporária para o coronavíru­s é finita, ou seja, o município tem um limite orçamentár­io, de espaço físico e de recursos humanos para atuar na linha de frente da pandemia”, diz nota.

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