Procura-se um leito: hospitais privados também cheios
Covid-19 Mesmo com plano de saúde, espera por internamento é longa
A pressão no sistema de saúde por conta do aumento de casos de covid-19 não afeta apenas a rede pública. Com 80% dos leitos de UTI ocupados no estado, a disponibilidade de leitos nos hospitais particulares também está em baixa. Nem quem tem plano de saúde está a salvo das filas nas unidades de saúde.
A operadora de marketing Renata Alves, 32 anos, demorou quatro horas para ser atendida no Hospital Aeroporto, em Lauro de Freitas, Região Metropolitana de Salvador (RMS). Mesmo com sintomas, ela não fez o teste RT-PCR para detectar o novo coronavírus e foi liberada sem medicamento para tosse, cansaço e dor de cabeça.
Ela foi, então, buscar tratamento no Hospital São Rafael na última quinta-feira (18). Chegou às 17h e só foi para o leito às 23h. “O São Rafael estava superlotado, tinha muita gente doente. Está caótica a situação. As alas de internamento não têm mais vagas, as pessoas ficam esperando para subir para UTI, esperando que alguém faleça. O caso é triste. E as pessoas estão achando que está tudo normal”, desabafa.
A autônoma Nathana Cavalcante, 28, de Simões Filho, também procurou atendimento no Hospital São Rafael e esperou quase seis horas por um leito: “Cheguei por volta de 14h, fiz a ficha, e só fui chamada lá para 19h para ir para o leito. Saí de lá era quase meia-noite e tinha gente que estava lá desde 9h, meio-dia esperando ter leito para entrar. Quanto mais tarde ficava, chegava mais gente passando mal, mais idosos, mais gente vomitando, em cadeira de rodas. Foi uma situação desesperadora”.
Uma funcionária do São Rafael explicou a Nathana que o atendimento estava demorando por conta da demanda, que estava alta. A empresária também aguarda o resultado do teste para covid-19 e faz um apelo: “Não acha que por ter plano de saúde a situação está boa, porque não está legal. Se o São Rafael, que é um hospital de referência, tá assim, imagine o SUS, para quem precisa. Por isso, as pessoas precisam se cuidar e tomar consciência porque o que vi ontem foi desesperador”.
Um médico de dois hospitais particulares de Salvador, que não quis se identificar revelou que uma das unidades estava tão cheia que restringiu o atendimento para pacientes com síndromes gripais na última quinta (18). A prioridade era para os casos graves e de médio porte. Os outros pacientes eram orientados a procurar outro hospital.
“Os hospitais que trabalho tiveram um aumento substancial dos casos, enchendo as UTIs, fazendo com que os hospitais precisem aumentar rapidamente o número de leitos. Outro problema é que os atendimentos para outras doenças estão e continuam em número muito alto, diminuindo a margem de leitos que podem ser destinados para covid”, diz.
‘NÃO ESTÁ TENDO LEITO’
A presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde (Sindsaúde), Ivanilda Brito, confessa que a situação dos hospitais na Bahia agora é pior do que no início ou no pico da primeira onda.
“A procura aumentou e está muito pior. A buscativa por UTI é grande e não está tendo UTI, elas estão todas cheias, e mesmo aqueles casos mais graves estão com dificuldade de encontrar, demora um pouco. A gente fica muito preocupado porque não podemos chegar ao que chegou Manaus”, alerta Ivanilda.
Ela ressalta ainda que há uma maior preocupação agora por conta das variantes. Tanto a de Manaus - detectada em Salvador no dia 5 - quanto a do Reino Unido circulam na Bahia: “A dificuldade é a mesma e aquela preocupação e o pavor que teve no início de março é o mesmo que está acontecendo agora, mas é outra variante. Os trabalhadores estão apreensivos, porque nem todos estão vacinados e estão sendo expostos”.
A presidente do Sindicato dos Médicos da Bahia (Sindimed), Ana Rita Peixoto, explica que a oferta de leitos está mais baixa no estado tanto pelo aumento dos pacientes de covid-19 e quanto pelas pessoas que deixaram de procurar hospitais durante a pandemia e voltaram a frequentá-los.
“Estamos recebendo a notícia de diversos hospitais de que há de fato uma lotação maior, tanto na rede pública quanto privada. Isso se deve ao fato de pacientes com doenças que não fizeram o acompanhamento de forma adequada e agora estão lotando as unidades, juntamente com pacientes de covid da segunda onda”, explica.