Correio da Bahia

Procura-se um leito: hospitais privados também cheios

Covid-19 Mesmo com plano de saúde, espera por internamen­to é longa

- Marcela Villar* REPORTAGEM marcela.vilar@redebahia.com.br

A pressão no sistema de saúde por conta do aumento de casos de covid-19 não afeta apenas a rede pública. Com 80% dos leitos de UTI ocupados no estado, a disponibil­idade de leitos nos hospitais particular­es também está em baixa. Nem quem tem plano de saúde está a salvo das filas nas unidades de saúde.

A operadora de marketing Renata Alves, 32 anos, demorou quatro horas para ser atendida no Hospital Aeroporto, em Lauro de Freitas, Região Metropolit­ana de Salvador (RMS). Mesmo com sintomas, ela não fez o teste RT-PCR para detectar o novo coronavíru­s e foi liberada sem medicament­o para tosse, cansaço e dor de cabeça.

Ela foi, então, buscar tratamento no Hospital São Rafael na última quinta-feira (18). Chegou às 17h e só foi para o leito às 23h. “O São Rafael estava superlotad­o, tinha muita gente doente. Está caótica a situação. As alas de internamen­to não têm mais vagas, as pessoas ficam esperando para subir para UTI, esperando que alguém faleça. O caso é triste. E as pessoas estão achando que está tudo normal”, desabafa.

A autônoma Nathana Cavalcante, 28, de Simões Filho, também procurou atendiment­o no Hospital São Rafael e esperou quase seis horas por um leito: “Cheguei por volta de 14h, fiz a ficha, e só fui chamada lá para 19h para ir para o leito. Saí de lá era quase meia-noite e tinha gente que estava lá desde 9h, meio-dia esperando ter leito para entrar. Quanto mais tarde ficava, chegava mais gente passando mal, mais idosos, mais gente vomitando, em cadeira de rodas. Foi uma situação desesperad­ora”.

Uma funcionári­a do São Rafael explicou a Nathana que o atendiment­o estava demorando por conta da demanda, que estava alta. A empresária também aguarda o resultado do teste para covid-19 e faz um apelo: “Não acha que por ter plano de saúde a situação está boa, porque não está legal. Se o São Rafael, que é um hospital de referência, tá assim, imagine o SUS, para quem precisa. Por isso, as pessoas precisam se cuidar e tomar consciênci­a porque o que vi ontem foi desesperad­or”.

Um médico de dois hospitais particular­es de Salvador, que não quis se identifica­r revelou que uma das unidades estava tão cheia que restringiu o atendiment­o para pacientes com síndromes gripais na última quinta (18). A prioridade era para os casos graves e de médio porte. Os outros pacientes eram orientados a procurar outro hospital.

“Os hospitais que trabalho tiveram um aumento substancia­l dos casos, enchendo as UTIs, fazendo com que os hospitais precisem aumentar rapidament­e o número de leitos. Outro problema é que os atendiment­os para outras doenças estão e continuam em número muito alto, diminuindo a margem de leitos que podem ser destinados para covid”, diz.

‘NÃO ESTÁ TENDO LEITO’

A presidente do Sindicato dos Empregados em Estabeleci­mentos de Serviços de Saúde (Sindsaúde), Ivanilda Brito, confessa que a situação dos hospitais na Bahia agora é pior do que no início ou no pico da primeira onda.

“A procura aumentou e está muito pior. A buscativa por UTI é grande e não está tendo UTI, elas estão todas cheias, e mesmo aqueles casos mais graves estão com dificuldad­e de encontrar, demora um pouco. A gente fica muito preocupado porque não podemos chegar ao que chegou Manaus”, alerta Ivanilda.

Ela ressalta ainda que há uma maior preocupaçã­o agora por conta das variantes. Tanto a de Manaus - detectada em Salvador no dia 5 - quanto a do Reino Unido circulam na Bahia: “A dificuldad­e é a mesma e aquela preocupaçã­o e o pavor que teve no início de março é o mesmo que está acontecend­o agora, mas é outra variante. Os trabalhado­res estão apreensivo­s, porque nem todos estão vacinados e estão sendo expostos”.

A presidente do Sindicato dos Médicos da Bahia (Sindimed), Ana Rita Peixoto, explica que a oferta de leitos está mais baixa no estado tanto pelo aumento dos pacientes de covid-19 e quanto pelas pessoas que deixaram de procurar hospitais durante a pandemia e voltaram a frequentá-los.

“Estamos recebendo a notícia de diversos hospitais de que há de fato uma lotação maior, tanto na rede pública quanto privada. Isso se deve ao fato de pacientes com doenças que não fizeram o acompanham­ento de forma adequada e agora estão lotando as unidades, juntamente com pacientes de covid da segunda onda”, explica.

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