Um viva para a arte de contar histórias
Ludicidade Encontros literários, audiobooks e espetáculos abordam o incentivo à leitura na infância
Como contar uma boa história? Essa pergunta ganhou fôlego nos últimos meses, afinal a pandemia colocou pais e filhos em casa e toda forma de diversão virou aliada. Educadores entrevistados pelo CORREIO defendem que o estímulo à leitura deve ser iniciado ainda na infância para formar jovens e adultos capazes de fazer qualquer tipo de leitura. E é justamente esse o tema de rodas de conversa, mesas literárias, audiolivros e espetáculos baianos lançados nas próximas semanas.
“A gente apresenta o livro para a criança de um lugar muito didático e obrigatório. Então, essa criança de 3, 4 anos não tem contato, sem a obrigatoriedade da sala de aula”, opina a atriz e arte-educadora Ana Tereza Mendes, 29 anos, mediadora do evento virtual Troca-Troca LeiturArte, que está com inscrições abertas através do site do Sympla.
O evento, que acontece entre 3 e 11 de março, é voltado para educadores, pais e contadores de histórias que desejam conduzir as crianças nesse universo. “O Troca-Troca busca encontrar soluções e questionamentos sobre a relação entre a criança e o livro. Cecília Meireles já dizia: ‘Quem gosta de ouvir, gosta de ler’”, destaca Ana Tereza.
Construir bons ouvintes por meio de um processo lúdico implica em fazer com que esses leitores em potencial sintam desejo e prazer em descobrir novas histórias: “É preciso transformar o modo de se relacionar com a criança, com a leitura e o livro. Quanto mais a gente constrói esse laço de prazer, mais elas estarão interessadas”.
INVISÍVEL
Contar história vai além do livro escrito no papel. “Quantas vezes estou dentro do ônibus e escuto um livro?”, questiona Ana Tereza, sobre os livros digitais e narrados. É o caso do audiobook Histórias de Vovó Candinha, da atriz e escritora Sonia Robatto, 82, uma das fundadoras do Teatro Vila Velha. A obra será lançada no dia 20 de março, às 20h, no YouTube do Vila.
São 50 histórias transformadas em podcasts que serão disponibilizados gratuitamente na internet, para crianças a partir de 3 anos. “Já publiquei mais de 400 histórias infantis e agora são 50 para ajudar pais e mães nessa missão”, destaca Sonia. A primeira dica que dá para quem quer contar uma boa história é acreditar nos personagens como se fosse uma peça de teatro.
“Se a onça é má, mostre que ela é má”, indica Sonia. “Eu acredito no que a onça está falando. Tem que ter a imaginação que permita criar”, justifica, sobre o projeto que tem produção musical de João Milet Meirelles e direção de Marcio Meirelles. A criação é o estímulo necessário para “abrir a cabeça para a arte e para o mundo”, acrescenta Sonia: “Acreditar na fantasia. Isso tudo abre a cabeça para não ficar uma pessoa quadrada, abre as perspectivas para o mundo”.
A imagem pode estar na mente de quem escuta, mas também nas ilustrações que contam histórias junto com as palavras. O visual é “importante quando a gente está falando de criança”, sinaliza a educadora e designer Tamires Lima, 30, que trabalha com a valorização da autoestima das crianças negras.
Durante a Festa de Arte e Literatura Negra Infantojuvenil, que acontece gratuitamente de 30 de março a 1º de abril, no YouTube, Tamires vai realizar uma oficina de ilustração e desenho que aborda questões de identidade: “É muito importante para uma criança em desenvolvimento se ver nas histórias”.
Por isso, sua primeira dica para quem quer contar boas histórias é escolher uma com a qual tenha se identificado. Outra dica de Tamires é não ficar preso a uma “moral da história”, porque o momento da leitura também pode ser “apenas para divertir”.