Correio da Bahia

Qual é a ‘cara’ da covid-19 na Bahia?

Mortes Homem, maior de 80 anos, do Sul do estado: perfil é o mais afetado entre 12 mil vítimas da pandemia

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Se as mais de 12 mil vítimas em um ano de covid-19 na Bahia tivessem uma “cara”, ela seria como a de Jurandir Santos, falecido em agosto. Ou a de José Geraldo Menezes, morto em setembro. Homens com mais de 80 anos, moradores do Sul do estado, brancos e com comorbidad­es. Essa “cara” foi montada a partir da maior incidência de óbitos em cada um dos dados divulgados pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab). O estudo completo está na infografia ao lado.

Por exemplo: entre homens e mulheres, qual sexo tem a maior incidência de mortes? Homens. Quando se analisam as faixas etárias, qual a mais afetada? Mas de 80 anos. Entre as regiões do estado, qual registrou mais vítimas proporcion­almente? A região Sul.

Portanto, isso não quer dizer que a maioria das 12 mil vítimas seja de pessoas que se encaixem em todos os traços desse perfil.

Para entender: o maior número de mortes ocorreu entre pardos e na região Leste (Salvador e Recôncavo). Mas a maioria da população baiana também é de pardos e vive nessa porção do estado.

Para resolver isso, usa-se em epidemiolo­gia a incidência por 100 mil habitantes. Assim, é possível entender em quais populações a covid-19 causou mais vítimas ao longo desse ano de pandemia.

Jurandir Santos tinha 81 anos e morava em Ilhéus. Tinha diabetes e câncer. Veio a óbito no dia 20 de agosto, no Centro de Atendiment­o à Covid-19, em Ilhéus.

Ele tinha ficado um mês internado com covid-19. Chegou a ser liberado, mas pouco depois teve uma piora das comorbidad­es e precisou de novo internamen­to, mas não resistiu.

No dia 16 de setembro, faleceu José Geraldo Menezes, em um hospital privado de Jequié. Ele tinha 87 anos e era morador de Ipiaú. Sofria de doenças cardiovasc­ulares e de problemas respiratór­ios.

José Geraldo estava sendo tratado em casa. Chegou a ficar clinicamen­te curado dos sintomas da covid-19, mas as sequelas agravaram suas comorbidad­es. Foi internado, sofreu hemorragia­s, foi entubado, mas não resistiu.

POR QUE?

Essa é a pergunta que logo salta à mente: por que essa “cara”? Tanto o número de mortes – 6,8 mil homens até quarta-feira – como a incidência de óbitos – 95 a cada 100 mil homens – têm sido maiores do que entre mulheres.

“A análise dos dados está correta, mas é preciso deixar claro, não temos como cravar uma explicação. O que se pode levantar nesse sentido são hipóteses”, salienta Ramon Saavedra, doutorando em epidemiolo­gia do Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da Ufba.

O epidemiolo­gista Márcio Natividade, professor do ISC, concorda: “Pode ter relação com o fato de que o homem cuida menos da saúde e é menos assíduo a hábitos como uso de álcool em gel e de máscaras. Basta você sair na rua para ver mais homens sem máscara do que mulheres”.

Márcio destaca que a incidência de casos confirmado­s tem sido maior entre pessoas de 30 a 59 anos. Porém, a de mortes é maior entre os maiores de 80 anos. O que indica que não são os idosos quem mais contraem a doença, porém são os que têm perecido.

“É o curso natural da vida. Idosos são mais vulnerávei­s, tanto por presença de comorbidad­es, que aparecem mais nesse estágio da vida, como pelo sistema imunológic­o mais frágil”, diz Márcio.

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